sábado, 19 de junho de 2010

Italaini - Alberto Borelli e o Gabinete Português de Leitura em Salvador (1)

"Os Gabinetes de Leitura, cuja inspiração nos remete à França revolucionária, às chamadas “boutiques a lire”, que apareceram após a revolução de 1789, eram uma casa onde se podiam alugar livros, mediante pagamento e prazo para a sua devolução. Desenvolveram-se na Europa, em especial na França, Inglaterra e Alemanha, dedicados, portanto, ao empréstimo de livros para leitura domiciliar, diferenciando-se das bibliotecas públicas, que permitiam a consulta, muito embora gratuita, somente dentro das suas dependências. O termo também suscita uma conotação moderna, atribuída a um espaço da moda, dada a referência de vanguarda que tanto a função quanto o espaço reservava e que, na literatura da época, aparece associada ao progresso e à civilização e, dessa forma, ao requinte que os novos centros de saber irradiavam.

(...) Os Gabinetes Portugueses de Leitura no Brasil apresentam-se como referenciais urbanos, conformados às aspirações sociais da época, expressos nos novos centros de convívio, cultura e lazer. A sociedade formava-se, os homens aproximavam-se para trocar idéias, e uma nova vida associativa se viu desabrochar, resgatando, por meio de seus edifícios, a memória e a formação da identidade nacional, preservando uma história cuja experiência vivida o tempo poderia pôr a perder. Dessa forma, tais edifícios, apropriando-se do espaço da cidade, interferiram em nível de representação, através de seus signos e imagens esculpidos num universo simbólico e não somente como edificação, uma vez que alguns deles já contemplavam inovações pertencentes às variáveis estilísticas européias, aqui introduzidas, como o uso do ferro e do vidro. O Gabinete Português de Leitura de Salvador foi criado em 02 de março de 1863, na sala de sessões da Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro, por iniciativa de um grupo de portugueses, que tinha por finalidade a aquisição de um maior número de obras de "reconhecida utilidade", escritas em português e francês, para utilização de todos. Seu fundador e primeiro Presidente foi o português Comendador Manoel Joaquim Rodrigues, acompanhado de seu irmão, Francisco José Rodrigues Pedreira. Ambos portugueses, idealistas, nascidos em Soutelo, Município de Vila Pouca de Aguiar, Portugal. No mesmo ano, em 09 de junho, foi instalada a sua primeira sede, na Rua Direita do Comércio, n° 44, 2° andar, onde tiveram início as suas atividades. Devido à sua crescente procura, o Gabinete foi transferido três vezes, sendo a última instalação em 27 de junho de 1896, a da Rua do Palácio n° 40 (originalmente era chamada Rua Direita do Palácio e, depois, Rua Chile). Ficou pouco tempo na Rua Chile, pois a reestruturação urbana indicava vários edifícios para serem demolidos.

O edifício do Gabinete de Leitura encontrava-se nessa lista das demolições que permitiria a realização das obras de alargamento da Rua Chile. Para isso, o Presidente, Sr. Augusto Pinho, levou ao conhecimento da Diretoria a proposta do Intendente Municipal para a sua desapropriação, recebendo por indenização a quantia de oitenta contos de réis. O novo edifício do Gabinete Português de Leitura, construído na Praça 13 de Maio, atual Praça Piedade, foi inaugurado em 03 de fevereiro de 1918.( ...) Construído em pedra de granito, medindo 30 metros e 50 de frente, e na sua maior altura 16 metros, em estilo Neomanuelino, foi desenhado entre 1912 e 1915, pelo arquiteto italiano Alberto Borelli, que fiscalizou e acompanhou todo o serviço da obra".(Fonte: Maria de Fátima Costa  Garcia de Mattos em  "Da ideologia à arquitetura, um projeto além mar: os Gabinetes Portugueses de Leitura no Brasil") -

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