segunda-feira, 15 de março de 2010

História (112 ) – “Far l’America (63): Imigração italiana no Espírito Santo

Um interessante registro da imigração italiana no  sudeste do Brasil é o trabalho  Italianos no Estado do Espírito Santo de Luiz Serafim Derenzi, que dá detalhes de como chegaram os pioneiros.


"Quando a imprensa italiana divulgou o protocolo regulamentando a emigração para o Brasil, a propaganda da feracidade de suas terras se alastrou com a intensidade de relâmpago em tempestade de verão. 'Partire subito per l'America, pel Brasile a far fortuna!' foi o slogan embriagante que sacudiu os camponeses, notadamente da Lombardia e do Vêneto, as províncias mais populosas e afetadas pela falta de trabalho e de terra. A circular do conselheiro Teodoro Machado Freire Pereira da Silva, ministro da Agricultura, enviada aos representantes brasileiros na Europa em 1871, declarava que os que se dirigissem ao Espírito Santo poderiam escolher as colônias de Santa Leopoldina ou Rio Novo, com desembarque no porto de Vitória. Por sua vez, o presidente da província, Francisco Correia, divulga o sucesso e prosperidade dos colonos de Santa Isabel e Santa Leopoldina.

Costa Pereira, como ministro da Agricultura, toma vivo interesse pela vinda de imigrantes. Manda construir a Hospedaria da Imigração, da Pedra d'Água, em 15 de novembro de 1874. O presidente provincial, Domingos Monteiro Peixoto, contrata os hospedeiros e acompanhantes dos imigrantes, respectivamente: José Ribeiro Coelho, para Vitória, Manoel da Silva Simões, para Guarapari, Borges de Ataíde, para Itapemirim, Francisco Calmon, para Linhares, e Joaquim Almeira Fundão, para São Mateus.

A primeira leva de imigrantes italianos para o Espírito Santo veio sob concessão dada a Pietro Tabacchi, pelo decreto imperial 5.295, de 31 de maio de 1872. Por esse instrumento Tabacchi se comprometia a introduzir setecentos imigrantes italianos, tiroleses ou alemães, no município de Santa Cruz, em terras a ele concedidas e por ele denominadas de Nova Trento, em homenagem à cidade de seu nascimento.

Poucas referências recolhemos sobre o pioneiro da imigração italiana no Espírito Santo. Basílio Daemon, nosso principal cronista e que lhe foi contemporâneo, reportando-se à individualidade de Tabacchi, diz que fora estudante de medicina na universidade de sua terra e que, envolvido em revolução política libertária, teve que se evadir. Fato não estranhável, pois as conspirações em Trento e na maioria das cidades italianas, sob o jugo austríaco, foram constantes até a libertação ocorrida em 1914. Trento é uma tranqüila cidade alpina, à margem do histórico Addige, de população aplicada ao trabalho, patriótica, alegre e festiva. Fala harmonioso dialeto vêneto que empresta muita graça às suas canções amorosas e heróicas. Suas melodias ainda perduram nas colônias italianas, para encanto das festas comemorativas familiares.

O Clube Ítalo-brasileiro de Vitória está empenhado em recolhê-las para engrandecimento do nosso folclore, a exemplo da cidade de Caxias do Sul. São preciosas melodias que se não devem esquecer em homenagem a nós mesmos, os descendentes de italianos. Pietro Tabacchi foi o primeiro propagandista do Espírito Santo na Itália. Desenvolveu intensa propaganda em todas as comunas venezianas e alpinas. E teve êxito. Apesar de poucos recursos, soube disputar com os enviados paulistas e dos demais Estados sulinos melhores credenciados. O Espírito Santo guarda, na toponímia sertaneja, recordações da origem dos maiores grupos imigratórios: Nova Venécia, Nova Lombardia, Nova Trento, Treviso, Valsugana etc. Os Avancini saíram de Lévico, os Zanandréa, de Valsugana. Virgínia Tamanini, em Karina, relata o rebuliço causado por Tabacchi em Trento, com muita realidade e colorido.

Em 1878 o Ministério manda publicar e distribuir, em três idiomas — português, francês e italiano —, a Breve Notícia Descritiva da Província do Espírito Santo. O documento trata do clima, dos rios, cidades, população e colônias existentes etc. Tabacchi era proprietário em Santa Cruz, onde está sepultado. Explorava o corte de jacarandá e cultura de cereais. Foi um grande idealista, deixou descendentes. Os imigrantes por ele engajados lhes atribuíam todos os infortúnios das peripécias de adaptação. Não lhe fizeram justiça. Santa Cruz não lhe prestou ainda as homenagens a que tem direito. Recomendo-o ao Clube Ítalo-brasileiro, ao se comemorar o centenário da imigração

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