sexta-feira, 19 de março de 2010

História (122)– Especial: Imigrantes e Fascismo(6)

Relatos na internet mostram como foi a incorporação das idéias fascistas propagadas pela Ação Integralista Brasileira (AIB) no seio das comunidades italianas espalhadas pelo Brasil. No Espírito Santo, a Câmara Municipal de Muqui relata em seu site o panorama da época.

"A Ação Integralista Brasileira foi o primeiro movimento de massas no país. Dois anos depois de ser fundado, promoveu uma demonstração de força no Rio de Janeiro, com a participação de quatro mil militantes. Em meio às escaramuças com os grupos de esquerda, especialmente a Aliança Libertadora Nacional, a Ação Integralista, nascida em um meio católico e intelectual, tornou-se o escoadouro natural de forças autoritárias de direita. Depois de se tornar partido político em 1936, o movimento integralista, no ano seguinte, lançou Plínio Salgado como candidato a presidente da República.

Os italianos ainda na Itália já tinham noção de como as coisas ocorriam com os imigrantes no Brasil, principalmente no Espírito Santo, através de informações de cartas de parentes e de outros meios de comunicação. O conhecimento das mortes de italianos em Santa Leocádia ocasionou uma revolta de italianos recém-chegados ao Espírito Santo. Ao saberem, ainda no navio, que iriam para lá, resolveram não desembarcar. Prometeram uma revolta que só acabou quando o governo resolveu destiná-los para as regiões que eles desejavam.

Convencidos pelos membros da Ação Integralista Brasileira e pela Igreja Católica de que suas propriedades e suas famílias corriam sérios riscos, os colonos italianos e seus descendentes mergulharam com grande espírito de luta na aventura do integralismo, criado por Plínio Salgado. A forte presença dos italianos no Espírito Santo facilitou a disseminação da doutrina integralista, onde seus dirigentes foram recrutados sobretudo entre profissionais mais representativos das classes médias urbanas. Eram os militantes da Ação Integralista Brasileira (AIB) que teve quase 400 mil participantes.

Numa sociedade em transição inserida no contexto internacional das lutas ideológicas entre comunismo e fascismo, a Ação Integralista significou, para os colonos italianos e seus descendentes, uma opção pelo anticomunismo. Era um movimento essencialmente nacionalista, cujo cumprimento era estender o braço direito sob a fala da palavra indígena 'ANAUÊ'.

O carismático Plínio Salgado, chefe nacional da Ação Integralista, também colecionava admiradores extremados na colônia italiana, graças a seus discursos inflamados pelo rádio. Ex-militantes integralistas se lembram de que na época eles costumavam se reunir num grupo numeroso para ouvir Plínio 'e tinha até uns que choravam'. De acordo com o historiador Agostino Lázaro, autor de Lembranças Camponesas juntamente com Glecy Coutinho e Cilmar Franceschetto, os colonos 'viram na ameaça comunista propalada pelo integralismo a possibilidade da perda da propriedade que a duras penas conseguiram aqui no Brasil, a ponto de ter que abandonar a pátria de origem e isso os remetia à questão que os havia trazido para o Brasil: a luta pela posse da terra' .

No interior do Espírito Santo, um dos livros de doutrinação mais populares entre os simpatizantes do movimento "O integralismo ao alcance de todos" definia de maneira bastante simplória o comunismo como "uma porção de homens que querem tomar conta do governo do Brasil para acabar com a família'. Em Muqui, na sede dos integralistas, que era em um sobrado quase à frente do Jardim de Infância, já administravam aulas sobre patriotismo e alfabetização de adultos.

Os inimigos pichavam as paredes provocando continuamente os partidários. Muitos colonos, no entanto, que se tornaram integralistas, não foram atraídos pelo conteúdo ideológico ou político, mas pela oportunidade de se diferenciarem, pelo uniforme e pelo ritual do movimento, aos olhos de suas comunidades. Outro ponto em que a mensagem integralista os atingia em cheio era a defesa da família. Tudo se resumia, de maneira bastante eficiente, no slogan integralista 'Deus, Pátria e Família'.

O imigrante italiano sempre teve na sua família o esteio de sua sobrevivência. Uma influência muito importante sobre eles era a Igreja, cuja adesão ao integralismo foi total. Havia também um fator de coação: os que não aderiam eram chamados de comunistas e discriminados. Quando se fala de integralismo não se pode ignorar a canalização que ele fez da energia da comunidade para a construção de estradas, de colégios e pontes. Em 1937, Getúlio Vargas obteve seu apoio para implantar a ditadura do Estado Novo. Com a instauração do Estado Novo por Getúlio, começou a repressão aos integralistas. No ano seguinte, o presidente dissolveu a AIB. Em maio de 1938, os integralistas tentaram um golpe para capturar Getúlio Vargas e assumir o poder. A conspiração falhou e 1.500 golpistas foram presos.

Depois do decreto de Getúlio Vargas, ditador da época, que os proibiu de fazer reuniões e de ter atividades políticas, inclusive de se comunicar através do dialeto. Abriu uma temporada de perseguição aos imigrantes e seus familiares, com reflexos na sua cultura e no seu modo de vida. Eles reagem realizando um atentado contra Getúlio. Ocorreram prisões em massa e Plínio foi obrigado a exilar-se.

Talvez a violência praticada contra o italiano no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial tenha sido maior do que a experimentada na repressão ao integralismo. Além da repressão policial, que foi enorme, era permitido a qualquer cidadão brasileiro, ou luso-brasileiro, tomar medidas contra eles. Suas casas foram saqueadas e seus estabelecimentos comerciais, invadidos. Muitas famílias valeram-se da mata para fugir das perseguições. Era hábito para fugir dos maus-tratos colocar uma bandeira branca no alto da casa como sinal de trégua".

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