sábado, 24 de abril de 2010

História (170 ) - "Far l'America (92): CyrilloZamboni, pioneiro na colônia Conde D'Eu

"Cada imigrante, em particular, trazia na suas origens, idéias para fazer na terra que o acolhia, na nova pátria, na terra prometida, “nella terra della cucagna”, uma pátria igual à sua, mas cheia de fartura como sempre viam em seus sonhos, desde criança, ao vivenciar as lutas e o trabalho porque passavam seus ancestrais. Não foi por acaso que os imigrantes italianos, nascidos no norte da Itália, perto de belas montanhas, de pastagens verdes, firmaram pé nas colinas de Conde D’Eu, onde, com os corações apertados tinham lembranças das grandes montanhas dos Alpes Trentinos, sempre com picos branquinhos, cobertos de neve, com um pôr-do-sol coroando os montes de rosa e violeta ao cair de tardes frescas e belíssimas. Mas eles estavam cansados...

Cansados de somente serem servos na terra onde deviam ser reis... Por isso optaram por imigrar.Céu e mar por trinta e seis dias, como diz a canção, talvez mais talvez menos, num vapor apinhado de pessoas a maioria desconhecida, onde poucos passos podiam ser dados, pouca comida, pouca água, e mal compreendiam a imensidão daquele mar de gosto salgado que tentavam superar.Por que tanta água não lhes servia para minimizar a sede?Muitas doenças, muitas mortes que não estavam em seus sonhos, nem nos olhos dos que partiram de qualquer porto. Se o mar e a nova pátria foi cemitério para muitos, era um cemitério onde a dor e a esperança viviam juntas porque o que os esperava era “il pane farto”, “il letto” macio e haveria “zoccoli” para todos. Naqueles navios os imigrantes morreram com um ideal e por amor, e, como diz o ditado “Piu vale um giorno di leone che cento di pegora”, eles tiveram seu dia de leão na hora de tomar a decisão de partir em busca do desconhecido.

Tiveram seu dia de leão no momento de pisar no navio, na imensidão do mar azul e também no momento de morrer e ter como tumba as profundezas do mar gelado. Os que venceram todas as etapas chegaram ao Rio de Janeiro, no sonhado Brasil, ficaram de quarentena no porto.Depois continuaram a vapor até Porto Alegre e pelo rio Caí e Maratá até a cidade de Montenegro

.De lá seguiram com suas famílias e pertences pelo meio da mata cerrada e repleta de animais ferozes, o que para muitos, depois de tantas façanhas, não mais podia intimidar.A paisagem deveria ser bela, verde de esperança.As águas naqueles dias eram límpidas, praticamente intocadas, cheia de peixes.Haveria pássaros cantando, e as borboletas coloridas como arco-íris esvoaçando, tocando-os, eram brilhantes. Na chegada à Colônia Conde D’Eu, hoje cidade de Garibaldi, tudo estava para começar.

A política, as leis, a diversidade de línguas eram empecilhos naturais trazidos nas suas bagagens de homem, mulher e criança e tinham que superar.Teriam que refazer tudo de acordo com sua razão e coração e num somatório de várias religiões, idiomas, políticas formar novos conceitos a contento de todos.E tudo foi feito, pouco a pouco, com muitas lágrimas, muita desunião, mas também muita união e certezas.

Nesta história da Colonização e da fundação de Garibaldi, encontramos um homem, Cirillo Zamboni, um pioneiro, um imigrante italiano, que se destaca não somente por fazer parte da história, mas por ser ele a própria história. Cirillo Zamboni nasceu em Mattarello, Trento, Itália, no dia 12 de abril de 1842.Chegou a Garibaldi, com 33 anos.Faleceu aqui no dia 4 de novembro de 1926, aos 84 anos de idade.Era filho de Emílio Zamboni e Thereza Anesini, registrado em Mattarello como Cirillo Vitale Zamboni.

Ele casou-se em Viena, na Áustria, com Marianna Masiovisk, nascida na Polônia, em 1843 e que faleceu em 30.05.1932, em Garibaldi.Cirillo conheceu Marianna quando trabalhava como capataz de estradas em Viena, na Áustria.Contavam que Marianna trabalhava como servente de pedreiro e tinha 18 anos quando se encontraram.Pouco se sabe de Marianna somente que era uma pessoa muito querida, mas muito séria, com um caráter muito justo e irredutível em seus propósitos. Já em 1874 Cirillo tirou passaporte para emigrar para a África ou América.Pensava em emigrar, mas esperava uma boa oportunidade para ir habitar numa boa terra que desse mesa farta para si e sua família.

Em 22 de setembro de 1875 tirou novo passaporte, pois já acreditava ser o Brasil o país tão esperado.Deixou a terra natal, como imigrante, vindo pela França, pois ao chegar ao Porto de Gênova, os navios de imigrantes já haviam partido.Esperar os próximos navios na Itália levaria mais tempo e dinheiro do que ir ao Porto de Havre e de lá partir.Então, de Gênova foram até Modena, e de trem até a região da Normandia, na França para embarcar no dia 1º de agosto de 1875, no navio “San Martin”.Vindo pela França não tiveram passagens de imigrantes, mas sim pagaram pelas passagens. Acompanhavam Cirillo no navio “San Martin” sua esposa Marianna, que estava grávida, a filha deles Anna Maria, de 1 ano e cinco meses, a avó Teresa, com 55 anos de idade, os primos Gia Batta Zamboni, a esposa Teresa e os filhos deste casal Guiglielmo e Adice.

Durante a longa viagem foram muitas as façanhas vividas por Cirillo, pois teve que enfrentar as epidemias de cólera e febre espanhola num espaço, tão pequeno, de mais ou menos 1 m² por pessoa.No navio em que viajava, devido a estas epidemias e aos muitos que morreram em conseqüência delas Cirillo serviu de enfermeiro, de padeiro e cozinheiro.Com isto conquistou a simpatia de Emile, o Comandante, este o transferiu para a 1ª classe, e fez Cirillo e sua esposa sentarem-se a mesa, ao seu lado, às refeições. Já em águas brasileiras, nasceu seu segundo filho, ao qual deu o nome de Emilio, em homenagem ao Comandante.O menino Emilio era chamado de “Emilio Senza Bandieira” porque nasceu em navio francês em águas brasileiras e tendo pais de origem italiana e polaca.

Na chegada ao Brasil, Cirillo e sua família, depois das façanhas da viagem, a última etapa foi feita a pé, enquanto seus filhos eram carregados no lombo de burros.Na colônia Conde D’Eu, estabeleceram-se, no dia 15 de novembro de 1875, no galpão com telhado de capim e parede de taquaras e barro que ficava mais ou menos em frente ao hoje Clube 31 de Outubro.

Não só o galpão, mas todas as casas construídas naqueles tempos eram iguais de taquara, barro, pedras cobertas de capim.No mato cerrado os bichos eram ferozes e à noite, as vozes dos animais eram assustadoras.As árvores em grande quantidade formavam uma floresta, principalmente de pinheiro araucária, que era em grande quantidade, dando aos imigrantes alimentos no inverno.Os alimentos prometidos vinham de Porto Alegre em pequena quantidade e demoravam a chegar.

Outras famílias italianas chegaram logo após em 24 de dezembro de 1875. Depois Cirillo construiu sua primeira casa mais ou menos no meio da primeira quadra da Rua Borges de Medeiros.Seu primo Gia Batta Zamboni e família instalaram-se em Forromeco. Contam que Cirillo teria recebido o lote 35, que seria mais ou menos o centro do hoje município de Carlos Barbosa, mas disso não temos comprovação e nem porque ele não teria aceitado, ficando neste ponto uma interrogação. Iniciando suas atividades na colônia, Cirillo teve moinho na Linha Vitória, bem em frente da Igreja e, ainda lá estão algumas pedras no local da construção.

Em 1899 comprou e foi morar em uma casa de madeira na Rua Buarque de Macedo e no mesmo local depois construiu em três lances uma casa de material com o número 1568, hoje, 3280, onde teve armazém de secos e molhados.Até o ano de 2005 neste local, habitavam seus descendentes. Contam que no armazém podia-se comprar papel de carta perfumado e frisado em ouro. Pessoa culta, Cirillo nas suas estadas em diversos países aprendeu a falar sete línguas fluentemente e nesse particular ajudou os imigrantes de outras nacionalidades, no navio em que viajava, e depois aqui como foi o caso das irmãs de São José que somente falavam o francês. Foi, também, fotógrafo.

No acervo Histórico-Cultural da cidade existem fotos feitas por Cirillo, e, também, sua linotipo que foi doada ao Acervo, onde foi impresso o primeiro jornal em Conde D’Eu. Cirillo e Marianna tiveram 16 filhos que casaram e espalharam-se por todo o Brasil. Dos 16 filhos 5 morreram criança, dois gêmeos, outras duas gêmeas Joana e Catarina e um primeiro menino chamado Luiz. Os outros onze formaram as famílias que segue na Árvore Genealógica Zamboni.

Através do projeto de Lei do Legislativo Municipal nº 067/92, de autoria do Prefeito Municipal Vandenir Antônio Miotti e da Lei nº 2213, foi colocada uma placa na Praça 31 de Outubro em homenagem a Cirillo Zamboni, reconhecendo-o e confirmando-o como o lº imigrante italiano de Garibaldi.Fato este, já há muito, estudado nas escolas. Cirillo Zamboni foi amigo particular do Pe. Bartolomeu Tiecher, outro pioneiro da imigração italiana, como primeiro sacerdote de Garibaldi, oriundo do Trento também em 1875.

Contrariando a opinião de muitos que afirmam serem os imigrantes fugitivos de penitenciárias da Itália, tem-se na vida e na história de Cirillo Zamboni, semelhante à de muitos outros, o exemplo de trabalho de muitos aventureiros cheios de esperança para construir a vida e a nova pátria à imagem e semelhança da outra. Fonte: Memória oral e escrita, pela Neta de Cirillo Zamboni, Srª. Rosa Maria Zamboni Gordini, qual me foi enviado via e-mail dia 20/08/2007, pela Bisneta de Cirillo Zamboni, Srtª. Graziela Zamboni Nicolao - Memória oral e escrita, pela Neta de Cirillo Zamboni, Srª. Rosa Maria Zamboni Gordini," (Fonte: .site Famíia Zamboni)

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