quarta-feira, 19 de maio de 2010

Historia (197 ) - Imigração Italiana após a Segunda Guerra (1)

"Se fosse pertinente e adequado escolher o que simbolizasse a destruída Itália do segundo pós-guerra, seriam as oliveiras que demoram tantos anos para crescer e produzir, derrubadas pelos alemães. Eles resolveram vingar a derrota solapando da população civil, já sem nada para comer, o derradeiro ganha-pão. Oliveiras e campos inférteis ao sul, indústrias quebradas nas cidades ao norte: privadas de 70% da produção, as empresas mal podiam absorver a massa desempregada, tampouco os soldados regressos do front de outras batalhas.

A historiadora Luciana Facchinetti é filha de Giovanna e Giuseppe, testemunhas daquele purgatório e que buscaram no Brasil não o paraíso, mas um lugar onde pudessem simplesmente trabalhar e recomeçar a vida. O depoimento do casal está guardado no Memorial do Imigrante, em São Paulo.

Instigada pela vida dos pais e por um trabalho no próprio Memorial, em que ajudou a digitalizar os Livros de Entrada de Imigrantes de 1882 a 1907, a professora recorreu a outro acervo da instituição, 24 mil fichas produzidas pelo CIME (Comitê Intergovernamental para as Migrações Européias), para reconstituir a história de alguns personagens e avaliar a influência desses imigrantes no desenvolvimento da indústria brasileira. Ela defendeu a dissertação de mestrado junto ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, em fevereiro. "Eles cruzaram o Atlântico essencialmente por causa do país destruído, mas também pelo desmoronamento de um sonho. Criados no fascismo, sob a promessa de Benito Mussolini de um país unido, grande e forte, foram pagos com moeda falsa. Perderam a infância e parte da adolescência, passaram por muita fome", conta Luciana. Ela recorda que, além do conflito mundial, a população amargurou uma guerra civil de 20 meses entre os que insistiam em salvar o Duce e os partigiani (ligados à resistência). "Nos depoimentos é comum a lembrança de que eles tinham quatro inimigos: os fascistas e os alemães de dia, os partigiani e o bombardeio americano à noite.

Não sabiam para que lado olhar, levavam tiros por todos os lados". O Memorial do Imigrante registra a entrada de sete italianos em 1870. Até 1913, o total exato é de 1.291.280, um mar de gente que motivou incontáveis estudos sobre sua contribuição à agricultura, comércio e indústria, principalmente no Estado de São Paulo, e sobretudo para nossa formação cultural. Nas décadas seqüentes o fluxo diminui acentuadamente e é quase nulo nos anos da guerra, havendo então a retomada de certa intensidade por volta de 1950. "Queria entender como esses imigrantes do pós-guerra, apesar de terem vindo em menor quantidade, influíram na economia brasileira", explica a historiadora.

O interesse se justifica, pois havia uma diferença importante em relação aos patrícios da virada do século: a especialização. "Se os que chegaram antes eram analfabetos em 90%, os que vieram depois eram alfabetizados e quase todos sustentando alguma qualificação", acrescenta. A qualificação era um critério importante para aprovação do governo brasileiro, que incentivava a indústria e não se interessava em receber novas levas de mão-de-obra barata".(Fonte: Unicamp)

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