quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cultura - A polêmica escultura da Travessia do Atlântico (1)


Mesmo antes de sua concepção, o monumento "Heróis da Travessia do Atlântico"- recolocado neste mês de dezembro de 2010 no seu lugar de origem, às margens da Represa de Guarapiranga,(zona Sul da cidade de São Paulo) - causou polêmica por estar associado à figura de Benito Mussolini. A Prefeitura de São Paulo, relembra como é que o monumento foi concebido. 
 


"Uma comissão de imigrantes italianos encaminhou à Câmara Municipal, em 1924, um pedido de licença para construir um monumento em homenagem a Benito Mussolini numa das praças de São Paulo. Mussolini, primeiro-ministro da Itália entre 1922 e 1943, era líder do movimento nacional-imperialista daquele país, conhecido como “fascista”. O pedido foi debatido pelos vereadores, mas logo ultrapassou o recinto da Câmara, provocando manifestações de vários segmentos da sociedade. Dada a reação, o projeto foi abandonado. Dois anos depois, no entanto, a idéia foi retomada, mas a oposição a ela continuava tão viva quanto sua defesa e, mais uma vez, o projeto ficou em suspenso.

Pouco tempo depois, o general Francesco De Pinedo, o piloto Carlo Del Prete e o mecânico Vitale Zachetti, todos italianos, atravessaram o Atlântico a bordo do hidroavião Savóia 55 “Santa Maria” e amerissaram na represa do Guarapiranga no dia 28 de fevereiro de 1927. Uma multidão os aguardava, composta, sobretudo, por italianos aqui radicados e seus descendentes. No dia 1º de agosto do mesmo ano, João Ribeiro de Barros realizou a mesma façanha, a bordo do hidroavião Jaú. A Light & Power Company teve de colocar bondes extras para atender aos populares que acorriam à represa saudar o aviador brasileiro. A Sociedade Dante Alighieri propôs a construção de um monumento “aos heróis da travessia do Atlântico”, junto à barragem do Guarapiranga e próximo ao local das amerissagens, no então município de Santo Amaro.

Para celebrar a aventura de seus compatriotas, Mussolini enviou a São Paulo uma coluna, com capitel em estilo jônico, retirada de uma construção milenar recém-descoberta no monte Capitólio, em Roma. A coluna foi incorporada ao monumento, inaugurado no dia 21 de agosto de 1929. Em declaração à imprensa, Ottone Zorlini (Treviso, Itália, 1891 – São Paulo, 1967), autor da obra, falou sobre o seu significado: “A junção ideal da época da Roma antiga às modernas conquistas que renovam e perpetuam a grandeza do passado, constitui a concepção geral da obra”.

No topo de um alto pedestal, uma escultura de bronze, chamada de “Vitória Alada”, lembra o sonho de Ícaro e aponta na direção do oceano. Na face frontal do pedestal, estrelas de bronze compõem a constelação do Cruzeiro do Sul. Nas laterais, encontram-se dois fascios. Um deles tem a esfera celeste e a inscrição “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira; o outro, o símbolo de Roma: uma loba alimentando os irmãos Rômulo e Remo. A coluna romana está engastada na parte inferior do pedestal. A altura total do monumento é de cerca de 9 metros.
Fascio e machadinha: simbologia fascista

O fascio – feixe de varas transportado por antigos oficiais romanos, junto com uma machadinha, quando acompanhavam os magistrados – era um símbolo utilizado na Antiga Roma para expressar a idéia de que, uma vez unidos, os homens não poderiam ser vencidos. O fascio foi resgatado por Mussolini e transformado em símbolo do fascismo.

Mussolini tinha interesses estratégicos nos vôos pioneiros dos aviadores italianos e estudava o estabelecimento de pontos de apoio para sua frota aérea. Chamava De Pinedo de “Senhor das distâncias” e o acompanhou na definição do itinerário da viagem pelo Atlântico e pelas Duas Américas. O hidroavião Savóia 55 foi batizado com o nome de uma das caravelas de Colombo, a “Santa Maria”, lembrando assim a descoberta da América pelo navegador genovês. A travessia do Atlântico, maior desafio da viagem, foi feita em linha reta entre Bolama, na Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), e Natal, no Rio Grande do Norte, seguindo depois pela costa brasileira até Buenos Aires. De Buenos Aires, os italianos cruzaram a América do Sul pelo interior do continente, seguindo os rios Paraná, Paraguai, passando por Manaus, Cuba, e alcançando a América do Norte. A travessia do Atlântico Norte foi feita em linha reta, de Terranova, no Canadá, à Ilha dos Açores".

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