segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

História (228 ) – “Far l’America (133 )": Rivalidades regionais entre os imigrantes italianos na cidade de Campinas (1)


O caráter heterogêneo da imigração italiana no Brasil, marcado pela diferenças sócio-culturais dos pioneiros oriundos de diferentes regiões da Península Itálica, se refletiu, de imediato, na vida cotidiana, como demonstra a pesquisadora Maria Lúcia de Souza RangelRicci, do Centro de Memória Unicamp, autora do artigo ]”Conflitos D’Italianità e Ambigüidades das Diferentes Societàs em Campinas e seus Distritos de Sousas e Joaquim Egídio (SP)”, publicado no site da  Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica .
  
“Em 1874, encontramos em Campinas os primeiros italianos e já em l896 representavam eles quase o dobro das demais correntes imigratórias. Em l907, ocupavam o primeiro lugar no Estado de São Paulo nas estatísticas referentes à imigração.

A maioria dos imigrantes italianos chegou às regiões ora estudadas procedentes do Norte da Itália, contratado para o trabalho na lavoura do café embora sem ter especialização e nem mesmo ofício determinado e com família já constituída. Mas, todos vieram com seus seculares preconceitos regionais.

Não seria, pois, com indivíduos tão heterogêneos, com tendências de independência econômica, de enriquecimento, além de muitos almejarem logo voltar ao seu torrão natal, possível formar quadros fixos de operários permanentes em determinado ofício.

Com um pessoal que assim pensava, com um nacionalismo exacerbado, desprezando o país em que se encontravam, apontando como estigma as doenças tropicais, as pragas, os insetos, considerando inferiores negros, mulatos e caboclos vendo-os como vadios, dados à embriaguez, mal vestidos e alimentados, não seria possível se esperar deles nos primeiros momentos da chegada algum interesse proveitoso à vida brasileira.

(...) A crise cafeeira iniciada em l929 transformou a situação até então existente nas áreas paulistas: grandes latifúndios foram repartidos e até abandonados e os colonos puderam, com o que conseguiram amealhar, se transformarem em pequenos proprietários, formarem seus sítios com a família e, assim, se emanciparem.

Especificamente no caso de Campinas, considerando-se que constituíam um grande contingente, não tardou muito para que se envolvessem em algumas confusões, apesar de seu temperamento geralmente alegre, mas agitado. Assim, uma das primeiras que se tem notícia foi a 7 de abril de 1879 - a chamada Revolução dos Italianos - quando saíram às ruas, em grande arruaça e armados, unicamente, de... sapatos! Nunca se soube exatamente o porquê deste movimento; pelo que noticiou a imprensa da época poderia ter sido para obtenção de melhores salários nas fazendas e mais trabalho na zona urbana.
Foi este acontecimento o germe primeiro para a futura criação do Vice-Consulado na cidade a fim de que os problemas que por vezes surgiam mesmo fossem resolvidos através da autoridade competente”.

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