segunda-feira, 29 de março de 2010

Italiani: Imigração e Cinema no Brasil (1)

O site Archivio Storico Dell´Emigrazione Italiana traz um texto em português assinado por Márcio Galdino revelando a participação de imigrantes italianos (séculos XIX e XX) na história do Cinema no Brasil.

“Se a primeira exibição cinema no Brasil, ocorrida na Rua do Ouvidor em 1896 foi promovida por um francês chamado Henri Paillie, as primeiras filmagens foram feitas por Vito Di Maio. Nascido em Nápoles em 14 de abril de 1852, que chegando ao Brasil em 1891 instalou uma sala exibidora com espetáculo de lanterna mágica na rua do Ouvidor n.º 149, que em 1894 vendou a Paschoal Segreto, indo em seguida para a Europa, onde comprou aparelho, provavelmente Animatógrafo de Paul e em 6 de maio de 1897 exibiu no Cassino Fluminense, em Petrópolis, cidade elegante de veraneio carioca, quatro filmes: Ponto Terminal da Linha de Bondes de Botafogo, vendo-se os Passageiros Subir e Descer; Uma Artista Trabalhando no Trapézio do Politeama; Chegada do Trem a Petrópolis e Bailado de Crianças no Colégio, no Andaraí Cf. Verdades Sobre o Início do Cinema no Brasil. Jorge J.V. Capellaro e Paulo Roberto Ferreira. Rio de Janeiro: Funarte, 1996.

Di Maio foi um ambulante infatigável. Entre 1899/1901 promoveu exibições em São Paulo. Em 1905 estava de novo no Rio de Janeiro, promovendo exibições no chope berrante do Passeio Público, para uma platéia onde se encontrava Artur Azevedo. Em 1906 estava no Teatro Maceioense, em Alagoas! No dia 13 de janeiro de 1907 no Éden Parque, em Vitória, Espírito Santo. Ainda nesse mesmo ano chegou a Fortaleza, fixando-se aí então, definitivamente, onde veio morrer em 21 de abril de 1926”.

Italianità - Grupos folclóricos em Quiririm, Santa Catarina

O sentimento italiano se faz vivo no distrito de Quririm (Brusque, Santa Catarina) em manifestações culturais como as apresentações culturais. Os grupos Santa Lucia, Piccola Tarantella e Mazzolin di Fiori preservam raízes deixadas pelos pioneiros. O site Festa da Colônia traz um perfil desses grupos. O trabalho do Grupo Santa Lucia é assim descrito:

“Final do século 19 - A Itália vive uma de sua maiores crises econômicas - muitas famílias italianas partem em busca de uma vida melhor, partem em busca do sonho dourado "refazer suas vidas" na AMERICA, a nova Terra. 1889 - depois de 36 longos e sofridos dias em "máquina a vapore", desembarcam em terras brasileiras. Quiririm é a grande esperança de uma vida feliz, um trabalho digno, um lugar para criarem os filhos, um lugar para se ter PAZ. O coração saudoso, aflito, mas cheio de esperanças.

Crianças de todas as idades, homens jovens saudáveis e fortes dispostos a qualquer tipo de trabalho, outros mais velhos já cansados se renovando através da ESPERANÇA, mulheres GUERREIRAS - essa era a nossa gente, esses ITALIANOS, os nossos antepassados. O trabalho começava ao raiar do dia e só terminava ao pôr do sol, mas a cada semente que germinava, crescia com ela o amor pela terra, o amor pelo Quiririm, se esvaecia a tristeza e a saudade da distante Itália. Povo politizado, lutavam por seus direitos através da "SOCIETÀ" que aqui formaram; povo falante, bravo, exigente, povo festivo. Os casamentos, batizados, Dia de Santo Antonio, da Padroeira a Imaculada Conceição, Santa Lucia sempre acompanhados de grandes festas... muita comida e vinho. Bandeirinhas, arcos de bambu, flores enfeitavam as ruas e casas, nas festas um falatório tão alto que quase encobria o som da sanfona que chamava a todos para uma roda de TARANTELA. A alegria da dança reunia na mesma roda as crianças, os pais e os avós. E é através da música e da dança, que essas meninas, filhas de Quiririm, vem mostrar o orgulho que sentem em serem parte da continuidade desta história de luta, de glórias e derrotas, de sonhos e esperanças que não se encerrarão nelas, que continuarão pelos seus filhos e pelos filhos dos seus filhos.

Aqui nesse rincão brasileiro, nossos avós e bisavós fincaram os pés e é aqui nessa terra querida, que os acolheu é que queremos ficar, nessa querida Pátria chamada Brasil. QUIRIRIM NÓS TE AMAMOS, COMO ELES TE AMARAM!!

O grupo foi formado em junho de 1989, logo após a 1º Festa Italiana de Quiririm, para se apresentarem na Festa de Santo Antonio. Desde então se apresenta na Festa Italiana e em outras cidades, outros estados levando o nome do nosso Distrito. São 10 componentes, todas mulheres, dançando tarantella e outras músicas que fazem parte do universo folclórico italiano. Em 2003, forma-se o Grupo Folclórico Italiano Mirim "Santa Lucia", com meninas entre 3 e 10 anos. Nesses anos várias "meninas" passaram pelo grupo e várias ainda passarão, sempre com muito orgulho de fazerem parte da história do Quiririm”.

domingo, 28 de março de 2010

História (135 ) - Imigração em Brusque no contexto da saúde mental (2)

No trabalho "A imigração italiana e saúde mental: Mais um (louco) para Brusque?" , Cluadia Delfini, professora da Universidade do Vale do Itajaí - Univali - relata a criação do Asilo Azambuja.
 

"Inaugurado oficialmente em 29 de junho de 1902, a Santa Casa de Misericórdia de Azambuja englobava um hospital, asilo, orfanato e hospício. Porém, em 1901 já havia uma antiga casa de madeira para os doentes que eram separados de acordo com o seu grau de “normalidade”, sendo metade destinada aos doentes 'normais' e a outra para os 'anormais'.

O relatório do padre Gabriel Lux, em 18 de outubro de 1908, narra a história do Asilo a partir da história do santuário de Azambuja, que foi construído pelos imigrantes italianos da província de Milão que trouxeram uma cópia do quadro milagroso de Nossa Senhora do Caravagio, 'querendo transplantar para aqui as tradições religiosas da velha pátria.' Provavelmente seu relato foi tirado das atas escritas pelas irmãs da Divina Providência que se referiam a este episódio da seguinte forma: 'Uns pobres colonos italianos vindo-lhes em 1884, trouxeram um antigo quadro de Nossa Senhora de Caravagio muito venerada nas proximidades de Milão. Estabelecendo no seu aprazível recanto de Azambuja, levantaram uma modesta capela em honra de Maria Santíssima, e depois do trabalho os obscuros camponeses visitavam a querida mãe de Deus e ela retribuía o amor e a confiança daquela boa gente com numerosos e manifestos favores'


"Em 1876 os colonos iniciaram a construção de uma pequena capela em um terreno pertencendo a Pietro Colzani, pronta 09 anos depois, em 1885. Em 1892 o padre Antonio Eising assumiu a paróquia e construiu o hospital e “asylo de desvalidos, velhos e cegos”, sendo inaugurado em 29 de junho de 1902, com 03 irmãs da Ordem Divina Providência responsáveis pela assistência as doentes. 'A caridade não tem pátria', era o grande lema da Ordem Divina Providência, que reunia, 'como uma grande família, alemães, italianos, polacos, poloneses, austríacos. Recebe a subvenção anual do governo do Estado (paga o número de 5 dementes no valor de 1$500 réis), da municipalidade e da ajuda dos bravos colonos e de esmolas.” 2 De acordo com o relatório do padre Lux, percebe-se a presença dos 'bravos colonos' de Brusque/Azambuja na manutenção e nos cuidados com o asilo, porém, há uma carta datada de 1903, escrita pelo padre Antonio Eising ao bispo diocesano de Curitiba, que mostra que a cidade não se preocupava muito com os 'bravos/pobres colonos' ".

"Nesta carta, Eising pede a construção de um cemitério no hospital pois 'o hospital não tem pessoas para acompanhar e levar os cadáveres até Brusque, como também estão fracos. Em Brusque, a gente não se importa com os fallecidos de Azambuja porque regularmente são pobres colonos'.   De acordo com o inspetor de saúde do estado, Dr Joaquim David F. Lima, em sua visita ao Hospital de Azambuja, junto ao chefe de polícia, o asilo representava uma verdadeira: “casa de misericórdia, preenche ao mesmo tempo os fins de hospital, asylo de inválidos e desamparados, e hospício de alienados. A direção médica do hospício será confiada a um médico, de nacionalidade alemã, especialista, em que o padre Lux já se entendeu por carta. Acredito que uma vez que esteja funcionando regularmente aquelle hospício e sob a direção technica de um médico alienista, ficará em Santa Catharina perfeitamente satisfeita esta grande necessidade actual de assistência aos alienados.'(apud FONTOURA,1997, p. 28) (...)Confiando no auxilio da divina providencia e na proteção da querida mãe do céu começamos o ano de 1942 mesmo trouxe para nós uma grande mudança pelo de já a tempo planejado o transporte dos alienados ao novo hospital ereto pelo governo do estado no município de São José. As irmãs Fernandina e Custodia já tinham algumas semanas antes providenciando todo o necessário ao nosso instituto.

Em 4 de janeiro o governo mandou um caminhão e em 6 do mencionado mês levava dois outros caminhões os últimos alienados das colônia Santana. Assim nos deixavam nesse dia também irmãs Telefora e a irmã Francelina as quais conforme os desejos do governo partiram com os doentes, desse modo estava fechado o hospício de Azambuja fundado em 1902. "

História (134 ) - Imigração em Brusque no contexto da saúde mental (1)

Ana Cláudia Delfini, na qualidade de professora da Universidade do Vale de Itajaí – Univali - elaborou o trabalho "A imigração italiana e saúde mental: Mais um (louco) para Brusque?" . Trata-se do resultado de um pesquisa sobre saúde mental e imigração italiana em Santa Catarina, buscando “discutir os modelos institucionais de tratamento da loucura presentes no Brasil a partir do séc. XIX, avaliando seus reflexos e desdobramentos em Santa Catarina, analisando especificamente o tratamento dispensado aos doentes mentais, (dentre eles alguns descendentes de colonos italianos) pelas duas instituições que marcaram modelos e concepções diferenciadas sobre a loucura: o Asilo de Azambuja, em Brusque, e o Hospital Colônia Santana, em São José”.

(...) “Na segunda metade do século XIX, começou-se a pensar e a praticar uma assistência psiquiátrica no Brasil mediante a implantação da instituição asilar com a construção de hospitais de alienados nos principais centros nacionais, configurando-se uma assistência psiquiátrica cujo perfil estava adequado às propostas e necessidades políticas e sociais de modernização do país, conferindo antes uma assistência do que um tratamento curativo. O assistencialismo e a filantropia são característicos das instituições de misericórdia do sistema asilar, instalados no Brasil pelos colonizadores portugueses”.

“Com o fim da escravatura (oficial) e a vinda dos imigrantes, os centros urbanos aumentaram. Com a necessidade de mão-de-obra, a recuperação dos “excluídos” torna-se foco principal dos discursos psiquiátricos. O conhecimento psiquiátrico é ampliado através das universidades e hospícios no que diz respeito à loucura”.

“A construção dos hospícios-colônias teve como finalidade tanto o afastamento dos “loucos” do convívio social nos grandes centros, já que tais instituições eram afastadas, como o de fazer com que os doentes trabalhassem no auto-sustento do hospital, através das atividades na lavoura, diminuindo os gastos do Estado”.

sábado, 27 de março de 2010

Italianità - Raízes na Festa da Colônia de Quiririm

Tradicional colônia agrícola italiana, o Distrito de Quiririm (Taubaté –SP) teve em 1989 seu destino mudado para colônia gastronômica italiana graças à iniciativa de João Aristodemo Canavezi Filho (Deminho) que teve a original idéia de fazer uma festa para comemorar o centenário da chegada de seus antepassados na colônia.

A festa que no primeiro ano contou com a participação de 800 pessoas hoje recebe aproximadamente mais de 400.000 pessoas em todo período da festa. 2009, foram preparadas 25 toneladas de massas e doces, pelas 25 barracas do evento. Como já virou tradição, o Desfile da Imigração é um dos pontos altos da grande festa e vem sempre acompanhado de um tema. Em 2009 forma mondadas e decoradas 12 carretas, cada uma representado um pouco da história das Festa, além de alas e dos Grupos Folclóricos. (Fonte: Festa da Colônia Italiana )

História (133 )– "Far L´America (71)": Núcleo Colonial Quiririm, Vale do Paraíba

O Distrito de Quiririm, na cidade de Taubaté, Vale do Paraíba (São Paulo) tem suas origens ligadas à epopeia da imigração italiana, conforme relatado no site da Festa da Colônia Italiana .

"Embarcados em portos da Itália, traziam além da pobreza, os sofrimentos das guerras da unificação italiana. Saíam da terra natal com falsas promessas de que aqui teriam a própria terra para cultivarem, mas somente no Porto de Santos é que souberam que, na verdade, haviam sido trazidos para essa nova terra, com o intuito de substituírem a mão de obra escrava, nas lavouras de café. Nessa ocasião, os imigrantes foram remanejados para várias colônias brasileiras e, algumas famílias foram então trazidas para o recém fundado Núcleo Colonial de Quiririm, mais precisamente 118 famílias. Alguns anos depois, ainda entregues à própria sorte, sem assistência do governo, mas já com a terra própria, que era o único incentivo daqueles imigrantes, receberam então o 'Ouro Bendito ' de onde iriam tirar seu sustento e escrever a História de Quiririm. Os Freis Capuchinhos, instalados no Mosteiro da Fazenda Maristela, em Tremembé, doaram as primeiras sementes de arroz e ensinaram a manejar a terra e a fazer o plantio.

Essa técnica havia sido trazida da França, pelos Freis. Só aí os imigrantes começaram uma nova vida em uma nova terra. A Colônia cresceu, seus filhos e seus netos encheram-se de orgulho pelo progresso que propiciaram ao País, com seu trabalho digno e laborioso. A chegada dos imigrantes italianos e a formação da Colônia Agrícola de Quiririm abriu uma nova era para a lavoura de Taubaté e região, chegando a liderar a produção de arroz do Estado e assim ganhar destacada posição no conceito social taubateano devido a sua importância, esforço e produtividade. E assim os anos se passaram, plantio do arroz, do café, da batata, enfim, Quiririm era eminentemente um Distríto Agrícola.

História (132 )– "Far L´America (70)": Núcleos colonias no Vale do Paraíba

Marco Antonio Giffoni Junior no texto "A Imigração Italiana na Cidade de Guaratinguetá (1880 - 1930)”
relata a formação dos núcleos coloniais na região do Vale do Paraíba (São Paulo).

"O núcleo colonial de Canas, situada entre as cidades de Lorena e Cachoeira Paulista, foi criado com base na Lei da Assembléia Provincial de São Paulo n.º 28 de 29 de março de 1885. As terras onde se assentou o núcleo colonial foram, em sua maioria, adquiridas do Alferes Francisco Ferreira dos Reis e foram divididas em cerca de 82 lotes rurais de 10 hectares cada, que foi aumentado posteriormente para 111 lotes que, foram logo vendidos e ocupados pelos colonos e seus familiares de nacionalidade brasileira e estrangeira".

"O núcleo colonial de Canas contava com uma escola primária, uma igreja católica (todos os colonos deste núcleo professavam esta religião), um serviço de saúde, dentre outras benfeitorias. Além da produção de cereais, destinados tanto para a subsistência dos colonos, quanto para a venda no comércio local, a colônia de Canas destacou-se também pela produção de cana-de-açúcar, que era comercializada com o Engenho Central de Lorena, grande produtor de açúcar e um dos fatores que motivaram a criação da referida colônia. A produção e a comercialização de cana ajudou os colonos a saldarem a compra de seus lotes, bem como a execução de diversas benfeitorias na colônia".

"O núcleo colonial de Quiririm, tem suas origens, segundo o relatório do Engenheiro Leandro Dupret , quando o Dr. Francisco de Paula de Toledo contratou com o Ministério da Agricultura a fundação de um núcleo colonial na fazenda do Quiririm, de sua propriedade, localizada no município de Taubaté, sob diversas condições que, em última análise, reduziam-se a mandar o governo dividir a fazenda em lotes, cedendo o Dr. Toledo sem remuneração alguma, metade da área medida e ficando para si com a outra metade em lotes, intercalados com os do governo, mas obrigando-se a vendê-los a imigrantes nacionais e estrangeiros. Lavrada a escritura de cessão, nomeou o governo uma comissão para dar começo aos trabalhos técnicos e, em 16 de agosto de 1890, era inaugurada a colônia, que tinha sua sede junto à estação de Quiririm da Estrada de Ferro Central do Brasil".

"Sua população era de 424 pessoas, distribuídas em 60 lotes urbanos, 48 suburbanos e 56 rurais, sem incluir os lotes que ficaram pertencendo à herança do Dr. Francisco de Paula Toledo. Esse núcleo colonial possuía diversas benfeitorias e, o estado dos colonos, segundo o relatório de Dupret, era considerado próspero e, ressaltava ainda que faltavam poucos colonos para saldarem a dívida com o governo. Além da produção agrícola, a colônia de Quiririm destacou-se pelo fato de grande parte dos colonos terem se dedicado à produção de tijolos, que eram consumidos em Taubaté, bem como na própria colônia, onde era utilizado na construção de casas. O núcleo colonial da Boa Vista, na cidade de Jacareí, foi estabelecido em terras da Fazenda Boa Vista, adquirida pelo Governo Geral ao Major Vitoriano Pereira de Barros a 18 de setembro de 1888. Possuía 91 lotes rurais, com uma população de cerca de 455 habitantes. Em seu relatório de 1893, Dupret frisa que a grande maioria dos colonos já estavam com seus lotes quitados e devido a este fato, em pouco tempo esta colônia já poderia ser emancipada, o que de fato ocorreu. Analisaremos agora, de maneira mais aprofundada por tratar-se de um dos objetivos proposto neste trabalho, a colônia de Piaguí, localizada na cidade de Guaratinguetá".