segunda-feira, 5 de abril de 2010

Historia (145 ) – “Farl´America (75 ): Dificuldades na travessia do Atlântico

Barra Bonita, estância turística no interior de São Paulo, deve boa parte de sue desenvolvimento ao trabalho do imigrante italiano. No site Estância Barra Bonita, além de relatos sobre tradicionais famílias pioneira, encontramos um breve texto que ilustra as dificuldades enfrentadas pelos italianos que se aventuraram a “fazer a América” cruzando o Atlântico rumo ao Brasil.

“Segundo a historiadora Célia Stangherlin, havia, em cada imigrante, um sonho de riqueza a se concretizar. O café, chamado de "ouro verde" e as pedras preciosas, das quais tinham ouvido falar, eram a promessa de uma nova vida de sucessos. Célia Stangherlin destacou uma curiosidade na história local dos imigrantes italianos. 'Dona Tereza G. Bolla, imigrante italiana, que chegou ao Brasil, aos 18 anos, em 30 de dezembro de 1897, juntamente com o esposo Ferrúcio, com 25 anos, e uma filha recém-nascida, Éster, contava as dificuldades da viagem no navio, onde quase tudo era racionado'. Segundo o relato de dona Tereza, resgatado por Célia, a água para se beber, era colocada numa cartola, a mais de um metro de altura e, nela, se colocava uma chupeta (tipo de bico de mamadeira antiga) para os passageiros ‘chuparem’ a água, quando estivessem com sede. ‘Todos bebiam no mesmo bico. Assim, evitava-se o desperdício, para não faltar água em alto mar’".

domingo, 4 de abril de 2010

Oriundi - Vadico, compositor e parceiro de Noel Rosa

Filho de Erasmino Gogliano e Maria Adelaide de Almeida, casal de imigrantes italianos do bairro do Brás, Osvaldo de Almeida Gogliano, nas rodas cariocas conhecido como Vadico (1910-1962), foi outro oriundo que inscreveu seu nome na história da música brasielira sobretudo como parceiro do genial Noel Rosa.

Rafael dos Santos (Unicamp - Campinas) num trabalho sobre Vadico assim descreve o seu perfil: 

 "Conhecido como um dos principais parceiros de Noel Rosa, Osvaldo de Almeida Gogliano, conhecido como Vadico, atuou intensivamente como compositor, pianista e arranjador. Entretanto, com exceção de suas obras em parceria com o Poeta da Vila e algumas poucas outras (como no caso de Prece, de 1958, com Marino Pinto), até o momento não se encontram disponíveis registros em gravação ou partitura de sua produção, e nem mesmo se sabe se ainda existem. Per Musi - Revista Acadêmica de Música - n.14, 110 p., jul - dez,2006 SANTOS, Rafael dos).

O feitio da inovação na década de 1930... Per Musi, Belo Horizonte, n.14, 2006, p.33-43 34 Vadico era paulistano, nascido em 1910, no Brás; era descendente de imigrantes italianos e todos os seus irmãos eram músicos. Seu irmão Dirceu fez o Conservatório Dramático Musical de São Paulo e sua irmã Rute era formada em piano e harmonia (MARCONDES, 1998, p.797). Sabe-se que a música européia tradicional exerceu uma influência considerável na sua formação; sua educação musical incluiu o estudo formal de piano, harmonia e composição (MÁXIMO e DIDIER, 1990, p. 266).

Anos depois, já durante o período de sua carreira internacional, que começou em 1939, estudou harmonia, contraponto, composição musical e regência com o compositor italiano Mario Castelnuovo Tedesco (MARCONDES, 1998, p.797).

Foi para o Rio de Janeiro em 1931, aos 21 anos de idade, mas um pouco antes disso já tinha duas composições gravadas: o samba Deixei de ser Otário, de 1929, gravado por Genésio Arruda na Odeon, e o samba Arranjei Outra, com Dan Mallio Carneiro, gravado por Francisco Alves em 1930. Também já fazia arranjos nesta época".

Oriundi -Italianidade na vida e música de Toquinho(3)

Em seu Blog Toquinho fala do sentimento italiano que carrega consigo.


"Sou um dos inúmeros brasileiros que, com muito orgulho, carregam a Itália impregnada no sangue. Meus avós maternos e paternos nasceram naquele país. Imigraram para o Brasil, chegando aqui no início do século passado, emprestando a força de seu dinamismo para a construção e o desenvolvimento dessa terra, mais especificamente do estado de São Paulo.

Não bastasse esse elo sanguíneo, a Itália se constituiu no berço de meu aprendizado profissional durante os sete meses que lá passei ao lado de Chico Buarque no ano de 1969, época de forte repressão política aqui no Brasil. Mal podia imaginar que se iniciava naquele ano difícil minha caminhada artística pela Itália. Posteriormente, ao longo dos anos, primeiramente junto com Vinicius de Moraes, e depois individualmente, fui construindo um lastro de popularidade consolidada a partir dos anos de 1980 pelo retumbante sucesso da canção “Aquarela”. Popularidade essa ratificada a cada ano com seguidas temporadas de shows por todo território italiano.

A Itália é minha segunda Pátria, e lá, me tratam como filho da terra. Tanto o povo italiano quanto as autoridades daquele país respeitam e valorizam seus descendentes espalhados pelo mundo. Meu avô paterno nasceu em Toro, município da região de Molise, província de Campobasso. Sei que essa minha relação com aquele pequeno pedaço de terra é um orgulho para toda sua comunidade, e tenho recebido manifestações inequívocas que provam esse sentimento. Em novembro de 2007, fui agraciado pelo “sindaco” (prefeito) de Toro, Ângelo Simonelli, em meio a tantas atitudes de carinho, com os documentos oficiais (atestado de nascimento de meu avô, Giovanni Antonio Pecci) que comprovam minha descendência de uma estirpe “torese”. Sou considerado como uma 'coisa preciosa', como são todas as pessoas que contribuíram e contribuem para elevar o nome daquela região.

Por isso, assim como outros descendentes, fui alvo de mais uma homenagem por parte da comunidade de Toro, recebendo, em julho, o PRÊMIO AMBASSAD’OR, il passaporto d’oro, conferido aos descendentes daquela terra que se destacam pelo mundo em suas atividades. Estive lá, apresentando-me num espetáculo, levando comigo a mistura do engenho inventivo do sangue brasileiro com a altivez do italiano, e meu enorme agradecimento por tão carinhoso ato de reconhecimento pelo meu trabalho. É emocionante receber esse importante reconhecimento, há um valor simbólico muito grande, pois estou representando todas as pessoas que imigraram e trabalharam aqui no Brasil".

sábado, 3 de abril de 2010

Oriundi -Italianidade na vida e música de Toquinho(2)

Em parceria com o poeta Vinicius de Moraes, Toquinho chegaria à Itália (final anos 60), onde faria amigos como Sergio Endrigo e Ornella Vanoni, fatos relatados em site. 


"Na Itália, Toquinho e Vinicius infiltraram-se pela península em longas e marcantes temporadas. Mas era ainda uma época em que podiam andar pelas ruas de braços dados, protegidos pelo anonimato. Toquinho lembra essa fase: 'Curtíamos passear por Firenze, parecendo dois Beatles, cabelos compridos, casacos enormes, bonés e cachecóis. Vinicius adorava admirar as estátuas da Piazza della Signoria. Andávamos por aquelas ruelas, parávamos para falar com as pessoas. Entrávamos nos bares e comíamos presunto cru, pão e bebíamos vinho. E as idéias das músicas brotavam simples e despretensiosas ' " .

"Depois, a proteção do anonimato foi de desfazendo. A universalidade da música e da poesia deles 'expandiu-se dos palcos para os discos. Ao longo dos anos, gravaram o LP infantil  'L’arca di Noè”, com Sergio Endrigo; o LP  'Per vivere um grande amore', em italiano; em Milão, quatro horas de estúdio, uma garrafa de uísque do lado, os técnicos no 'aquário', a colaboração especial dos maestros Bacalov e Bardotti, e eles cantando descontraidamente o que lhes vinha à cabeça, originando o LP  'Toquinho e Vinicius – O Poeta e o violão'. Quem ouve esse disco tem a primazia de sentir Toquinho e Vinicius como se estivessem sentados num banco de quintal, conversando entre as músicas e cantando do jeitinho que todo mundo gosta de escutar, sem interrupção, essas delícias como ''Marcha da quarta-feira de cinzas', “Morena flor”, 'Chega de saudade',(...) Pouco tempo depois, caíam nos braços do público italiano com o LP 'La voglia, la pazzia, l’íncoscenza, l’allegria', um documento lírico definitivo, que gravaram com Ornella Vanoni: 'Questo disco é um momento talmente magico per me!', escrevia ela na contracapa. Cantando em todas as faixas, ou sozinha com Toquinho e Vinicius, Ornella é parte integrante da magia desse disco, no mínimo magnífico.

O LP não só se tornou um dos mais importantes do ano como, até hoje, jamais saiu de catálogo, sendo ainda um grande sucesso em toda Itália e em muitos outros países. As versões de Bardotti, estudioso da língua portuguesa e falando fluentemente nossa língua, saíram com todo molho e picardia que Toquinho e Vinicius colocaram no momento da composição. O disco é todo emocionante. Parece que, nas expressões italianas, as palavras se desnudam mais, transparecendo a alma do lirismo, principalmente em canções como 'Samba della rosa', 'Samba in prelúdio', 'Um altro addio', e nesse raro retrato do cotidiano, cada vez mais moderno, que é 'Semáforo rosso'- o 'Sinal fechado', de Paulinho da Viola.

Sem dúvida, é esse disco, que carrega o selo RGE e foi gravado no Studio Fonit-Cetra, em Roma, um dos trabalhos mais felizes da dupla Toquinho/Vinicius. Por mais que Toquinho e Vinicius desejassem – e esse desejo era sempre duvidoso – livrar-se das cantoras em seus trabalhos, volta e meia elas estavam presentes. Eles não perdiam tempo nem oportunidades. Nos estúdios de gravação, trabalhavam com Ornella, enquanto para o palco levavam junto a carioquíssima violonista, compositora e cantora Joyce, num espetáculo apresentado no Lírico de Milão e no Sistina de Roma, ocasião em que quase duas mil pessoas conseguiram entrar no teatro e mais mil ficaram de fora. Um público, segundo o empresário Franco Fontana, só igualado com Charles Aznavour e Gabriela Ferri".

Oriundi -Italianidade na vida e música de Toquinho(1)

 Outro grande músico e letrista brasileiro a trazer no sangue origens italianas é Antonio Pecci Filho, que na sua bem sucedida carreira artística é conhecido como Toquinho, autor de canções (solo ou parceria) que fizeram sucesso no Brasil e no exterior, principalmente na Itália.

Toquinho, nascido em 6 de julho de 1946 ( São Paulo) é neto de imigrantes italianos. Os avós paternos Giovanni Pecci, (Molise) e , Filomena Agazio Pecci (Calábria) , chegaram ao Brasil em 1895. Em seu site, o artista conta que na infância a mãe o chamava de ‘meu toquinho de gente’, donde veio o apelido Toquinho que se confirmaria como nome artístico.

“Nasceu em 1946, em São Paulo, com o nome de Antonio Pecci Filho. Era o novo integrante de uma família de ascendência italiana: a mãe, Diva Bondeolli Pecci; o pai, Antonio Pecci; e o irmão de quatro anos, João Carlos Pecci. Moravam no bairro do Bom Retiro, na rua Anhaia, 1144, bem próximo à várzea do rio Tietê, onde se espalhavam vários campos de futebol. Não havia calçamento, a rua era de terra, por onde desfilavam, em fila organizada, obedientes vacas leiteiras carregando enormes tetas. E após sua passagem, a bola rolava outra vez no chão de terra dura: o portão da cocheira era o gol da gurizada".

"Tendo sido aluna de violino na escola dirigida pelo Maestro Memore Peracchi, Dna. Diva tornou-se professora e depois trancou o instrumento no armário, onde o tempo e o desuso se incumbiram de desintegrá-lo. Num dia de faxina, baixou do armário a caixa do violino. A família se apressou ao redor daquela relíquia por tantos anos adormecida. A tampa envolta em bolor soltou-se da caixa, revelando um violino sem cordas, madeira encarapinhada, arco afrouxado. Um instrumento a decompor-se. Mesmo assim, iluminava os olhos do menino: 'Foi minha primeira sensação da existência de um instrumento', explica Toquinho. 'Sempre tive vontade de ver o violino que minha mãe guardava lá em cima do armário. Foi a primeira vez que peguei num instrumento, mas num desses que facilitam a intimidade com as pessoas, que se pode levar para qualquer lugar, instrumentos que colam no corpo. A primeira vez que peguei num, foi naquele violino'

“A música começou a entrar mesmo em minha vida através dos discos que meu pai comprava', afirma Toquinho. Seu Nico, como era conhecido o Antônio pai, não completara nem o ginásio. Portava uma sabedoria extraída da vida e guardava dentro dele amores a certas artes. Ia freqüentemente ao cinema, mesmo sozinho, nos espaços vazios de algumas tardes. Chegava a assistir o mesmo filme três ou quatro vezes. Tanto que, na quase rudeza de sua cultura, ia colecionado discos de todos os gêneros e plantava em sua própria casa os primeiros tentáculos do talento de um dos filhos. 'Eu ouvia os discos do Luiz Gonzaga e sentia uma estranha euforia. Emocionava-me com a Ângela Maria cantando, com o Francisco Alves. E de repente estávamos almoçando com orquestrações do Ray Antony, Ray Coniff. Ou com aqueles clássicos italianos nas vozes de Beniamino Gigli, Gino Becchi. São canções que ainda circundam meus ouvidos. E muitas vezes se jantava com Chopin na vitrola...', completa Toquinho. Essa influência tinha um avesso representado pela Nadir, a empregada. Seu radinho pendurado no trinco da geladeira, apoiado na janela da pia, na beira do fogão, no móvel da sala, na penteadeira do quarto espalhava por toda a casa as vozes de Anysio Silva, Orlando Dias, Nelson Gonçalves".

Oriundi - Poesia na música de Paulo Vanzolini

Paulo Vanzolini iniciou a carreira de compositor na década de 1940, influenciado por sambistas com os quais gostava de conviver. Tinha predileção pelos sambas só com a primeira parte.

Desde cedo, desenvolveu seu talento para improvisador de versos, tornando-se um campeão de desafios, além de criar letras e melodias que ora apresentam um retrato urbano de São Paulo, ora recorrem a temas mais regionalistas. Em 1945, compôs seu maior sucesso, o samba-canção "Ronda", que só seria gravado pela primeira vez, em 1953, pela cantora Inezita Barroso na RCA Victor.

Segundo declarações do próprio compositor, a gravação teria acontecido por acaso, já que ele e sua esposa haviam acompanhado Inezita ao estúdio da RCA, no Rio de Janeiro, pois eram amigos da cantora, que então realizava sua primeira gravação: "A moda da Pinga". Como a cantora não tivesse escolhido ainda outra canção para o lado B do 78 rpm, optou por gravar "Ronda" naquele instante. E assim foi feito.

Mas o sucesso desse samba viria mesmo a partir da gravação da cantora Márcia, na década de1960. Na década de 1950, trabalhou na TV Record na produção de programas musicais, como o da cantora Aracy de Almeida. Na ocasião, aproximou-se de outro ícone da samba paulistano, Adoniran Barbosa, também contratado daquela emissora de televisão. Apesar de conversarem diversas vezes sobre a possibilidade de comporem juntos, a parceria jamais aconteceu. Também na década de 1950, lançou um livro de poemas intitulado "Lira". Em 1962, mostrou o samba "Volta por cima" a Inezita Barroso, que preferiu não gravá-lo por lhe parecer pouco comercial.

Contrariando a opinião de Inezita, lançado naquele mesmo ano pelo cantor Noite Ilustrada em disco Philips, o samba "Volta por cima" tornou-se sucesso em todo o Brasil. Antes de ser gravado já era conhecido em boates paulistanas como "o samba do Vanzolini". Desde o sucesso do samba, "dar a volta por cima" passou a ser uma expressão recorrente no vocabulário popular, como consta no Dicionário Aurélio: "Dar a volta por cima. Superar uma situação difícil: 'ali onde eu chorei/ qualquer um chorava/ Dar a volta por cima que eu dei/ quero ver quem dava". Na década de 1960, era comum ouvir seus sambas na Boate Jogral, em São Paulo, cujo proprietário era o músico, parceiro e amigo Luís Carlos Paraná. Ali muitos artistas da música costumavam reunir-se e foi onde se lançaram em São Paulo Jorge Ben (depois Jorge Benjor) e Martinho da Vila. Em 1967, Luiz Carlos Paraná e Marcus Pereira produziram para a gravadora Fermata o LP "Paulo Vanzolini: Onze sambas e uma capoeira", que trazia diversos intérpretes apresentando canções do compositor, como "Praça Clóvis" e "Samba erudito", ambos na voz de Chico Buarque.

"Praça Clóvis" é um samba que traduz o cotidiano da grande cidade entre os batedores de carteira e a lembrança da mulher amada que precisa ser esquecida e cujo retrato estava na carteira roubada pelo punguista.

No mesmo LP, "Ronda" é interpretada por Cláudia Morena. Ao cantor Luiz Carlos Paraná, seu grande amigo, coube a interpretação de "Capoeira do Arnaldo", que narra as dificuldades e os sofrimentos de um sujeito que abandona sua terra em busca de sucesso na cidade grande. A, letra, na verdade, pouco tem de melancólica e até trata desse sofrimento com humor. A melodia conserva uma atmosfera épica e é provável que a intimidade do compositor com desafios e improvisos tenha inspirado o tema regionalista desta canção. Apesar de compor melodias e letras quase sempre sozinho, chegou a formar algumas parcerias, como a que resultou no trabalho com o compositor Toquinho, em meados dos anos 1960, pouco antes do violonista e compositor se juntar a Vinícius de Moraes. Ainda em 1967, participou com Toquinho do II Festival Internacional da Canção (FIC), da TV Globo, com "Na boca da noite", que venceu a etapa paulista. Em 1969, o cineasta Glauber Rocha incluiu agravação de "Volta por cima", na voz de Noite Ilustrada no filme "O dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", com o qual seria premiado como melhor diretor no Festival de Cannes.

No mesmo ano, compôs com Toquinho o samba "Boba". Em 1974, teve três sambas gravdos pelo compositor, cantor e violonista Toquinho: "Boca da noite", que deu nome ao disco; "No fim não se perde nada" e "Noite longa", todos parcerias com Toquinho. Nesse ano, seu samba "Cara limpa" deu nome ao primeiro LP da cantora Cristina Buarque, considerada por ele uma das melhores intérpretes de samba. Também no mesmo ano, a gravadora Marcus Pereira, lançou o LP "A música de Paulo Vanzolini", que tinha obras suas interpretadas por Carmem Costa e Paulo Marquês: "Mulher que não dá samba"; "Falta de mim"; "Mulher que não dá samba", "Falta de mim", "Inveja", "Ronda", "Samba abastrato", "Sorrisos", "Teima quem quer", "Maria que ninguém queria", "Menina o que foi o baque", "Cara limpa", "Mulher toma juízo" e "Choro das mulatas". Ainda no mesmo ano, seu samba "Capoeira do Arnaldo", foi regravado no LP "O cantadô", de Rolando Boldrin.

Em 1977, seu samba "Ronda" foi relançado no LP "Jubileu de prata" nas vozes de Jorge Goulart e Nora Ney. Em 1978, teve os sambas "Mente" e "Longe de casa (Samba do Delmiro)", parcerias com Eduardo Gudin, gravados por Eduardo Gudin no LP "Coração marginal", lançado pela Continental. O samba "Mente" foi regravado no mesmo ano por Clara Nunes no LP "Guierreira", e o samba "Falta de mim", por Isaura Garcia no LP "Eu, Isaura Garcia". Ainda em 1978, o samba "Ronda" ganhou uma famosa interpretação de Maria Bethânia, que o incluiu no LP "Álibi", recordista de vendagens naquele ano. Ainda nesse ano, Caetano Veloso gravou o samba-choro "Sampa", no qual faz uma citação de um trecho da melodia de "Ronda".

No entanto, o autor jamais reconheceu nessa citação musical uma homenagem à sua obra, deixando transparecer com sua peculiar ironia que "Sampa" seria um plágio, ainda que inconsciente. "Ronda" foi também gravada por Carmen Costa, Ângela Maria e Nora Ney, entre outros cantores. Além de Toquinho, teve como parceiros os violonistas Luís Carlos Paraná, cuja morte abalou-o profundamente, a ponto de perder o interesse por compor música, com seus parceiros habituais como Paulinho Nogueira e Adauto Santos, além do sambista Elton Medeiros, entre outros. Em 1981, lançou pelo selo Estúdio Eldorado o LP "Paulo Vanzolini por ele mesmo", no qual interpretou seus sambas "Bandeira de guerra", "Tempo e espaço"; "Raiz"; "Samba erudito"; "Amor de trapo e farrapo"; "Alberto"; "Falta de mim"; "O rato roeu a roupa do rei de Roma"; "Cravo branco"; "Vida é a tua"; "Capoeira do Arnaldo"; "Samba do suicídio" e "Samba abstrato". Nesse ano, lançou pela coleção "Meus caros amigos", da editora Palavra e Imagem, o livro "Tempos de Cabo" com ilustrações do pintor Aldemir Martins, no qual relata a época em que servia o exército durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1983, seu samba "Boneca", parceria com Paulinho Nogueira, foi gravado por Paulinho Nogueira no LP "Água Branca". Nesse ano, o samba "Ronda", foi regravado por Ângela Maria no LP "Sempre Ângela", e por Jair Rodrigues no LP "Carinhoso".

Em 1984, teve o samba "Amor de trapo e farrapo" regravado por Nelson Gonçalves no LP "Ele e elas". Em 1988, Emílio Santiago regravou "Ronda" no LP "Aquarela brasileira", que foi relançada no ano seguinte por Cauby Peixoto no LP "Cauby é o show". Em 1992, foi entrevistado no programa "Ensaio", por Fernando Faro, na TV E. Em 1996, seu samba "Seu Barbosa", foi gravado no CD "Sabiacidade", pelo cantor e violeiro Passoca. Foi homenageado pela USP, em 1997, num show em que apresentou composições inéditas como "Quando eu for, eu vou sem pena". Em 1999, durante as comemorações do 447º aniversário da cidade de São Paulo, foi homenageado com um espetáculo no Sesc Pompéia, que lembrou outros dois nomes do samba paulista: Adoniran Barbosa e Eduardo Gudin.

Em 2001, sua obra completa começou a ser gravada por diversos intérpretes selecionados pelo compositor para uma caixa de quatro CDs. O projeto foi coordenado por Ana Bernardo e pelo violonista e arranjador Ítalo Peron. Sem saber tocar instrumentos, acostumou-se a cantar suas composições para músicos amigos que então escreviam a partitura ou saíam tocando pela noite. Por isso, algumas dessas composições ficaram esquecidas. Em 2002, o samba "Volta por cima" foi regravado pelo cantor Roberto Silva, que então retornava às gravações, tendo inclusive, colocado o título do samba no CD. Em 2003 foi lançada a antologia com participação de grupos recentes de samba e choro como Trovadores Urbanos, Bando de Macambira, Seresta & Companhia, Entre Amigos e o Choro, e Nosso Choro, todos esses de São Paulo, além de cantores da noite paulistana como Ventura Ramirez e Ana Bernardo.

E também artistas há muito tempo identificados com a sua obra como Chico Buarque, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. A antologia de 52 sambas teve arranjos do violonista Ítalo Peron, companheiro de boemia do compositor, e foi lançada em uma caixa com 4 CDs com o título de "Acerto de contas", pelo selo Biscoito Fino. Os disco contaram com as participaç~es dos instrumentistas Isaías do mbandolim, Bocato, no trombone, Israel de Almeida no violão de sete cordas, Wanderson Martins, no cavaquinho, Joãozinho do Cavaco, Prata, na flauta, Guello, na percussão, Ubaldo Versonato. No clarinete e do arranjador Ítalo Peron no violão.

O lançamento, no Rio de Janeiro, aconteceu no Teatro Clara Nunes, com a presença do compositor. Na ocasião, composições como "Boca da noite", "Praça Clóvis" e "Samba erudito" foram interpretadas por grupo Galo Preto, Elton Medeiros, Carlinhos Vergueiro, Ana de Hollanda e Ana Bernardo. Aproveitando sua presença no Rio, o crítico R. C. Albin elaborou uma série de quatro programas radiofônicos veiculados pela Rádio MEC para todo o Brasil exibindo toda a caixa de Cds além de longa entrevista concedida especialmente pelo compositor. Como compositor, entre seus maiores sucessos destacam-se o samba "Volta por cima", e o samba-canção "Ronda", até hoje apontado como recordista em execuções na noite paulistana. (fonte: www.dicionariompb.com.br - www.samba-choro.com.br)"

Oriundi - Paulo Vanzolini: músico e zoólogo

A música popular brasileira deve tributo a um compositor de primeira linha. Seu nome: Paulo Vanzolini, filho de imigrante italiano, nascido em São Paulo em 25 de abril de 1924. O Dicionário Cravo Alvim de Música de MPB assim descreve esse grande artista.

“Juntamente com Adoniran Barbosa é reconhecido como o grande nome do samba paulista. Filho do engenheiro (italiano)Alberto Vanzolini, aos quatro anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde seu pai iria construir, no bairro da Tijuca, o prédio do Instituto de Educação. Durante os dois anos em que passou a infância no Rio, começou a tomar gosto pelos programas musicais que ouvia no rádio. Veio a Revolução de 1930 e a família voltou para São Paulo, onde seu pai foi ser professor da Escola Politécnica. A paixão pelo samba surgiu desde que tinha dez anos de idade.

Cursou o primário no Instituto Rio Branco e depois concluiu o ginásio numa escola pública estadual. Gostava de ir aos bailes na sede do Glorioso Futebol Clube, perto de sua casa, e lá se sentava ao lado da orquestra, somente para ouvir música. Na adolescência começou a freqüentar rodas de malandros, cultivando desde então uma combinação peculiar entre boemia e paixão pelos estudos. O interesse por zoologia de vertebrados levou-o a cursar a Faculdade de Medicina onde se diplomou em 1947. Em 1944, seu primo Henrique Lobo foi ser locutor da Rádio América e o convidou para trabalhar no programa Consultório Sentimental, apresentado pela atriz Cacilda Becker, com quem o compositor fez amizade. Participava no programa como o Dr. Edson Gama, falando aos ouvintes sobre receitas para emagrecer. Saindo da casa dos pais, pois queria ganhar a vida com seu próprio sustento, foi morar no Edifício Martinelli, onde estreitou os laços com a boemia.

No prédio, havia até um táxi-dancing, que Vanzolini e os amigos freqüentavam de graça, fazendo amizade com os músicos e com as dançarinas. Entre 1944 e 1945 foi servir o exército no quartel do Ibirapuera, na Cavalaria, apesar das cicatrizes na perna em conseqüência das operações sofridas na adolescência por um grave problema nos ossos. Mas por essa época, já estava cansado de ser tratado pela família como um rapaz doente. Tornou-se professor do Colégio Bandeirantes e ingressou como pesquisador no Museu de Zoologia, da Universidade de São Paulo, onde viria a exercer o cargo de diretor cerca de vinte anos mais tarde. Casou-se, em 1948, com Ilze, então secretária da Reitoria da USP e com quem teria cinco filhos, entre os quais o diretor de cinema e vídeo e sócio da Conspiração Filmes, Tony Vanzolini.

No final da década de 1940, embarcou com a esposa para os Estados Unidos e lá tornou-se Doutor em Zoologia, pela Universidade de Harvard. Nos Estados Unidos, conviveu com músicos de jazz em Nova Orleans. De volta ao Brasil, trabalhou na produção de programas para a TV Record, na década de 1950. Diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, entre 1963 e 1993, tornou-se um dos zoólogos mais respeitados pela comunidade científica internacional. Aposentado compulsoriamente, continuou ainda a desenvolver suas pesquisas no Museu, trabalhando de segunda a sábado. No Museu de Zoologia da Usp, organizou uma das maiores coleções de répteis do mundo. Com o próprio dinheiro montou um biblioteca sobre o mesmo tema”.