sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

História 22 - Italianos na Revolução Farroupilha: Especial Garibaldi (1)


Uma das mais importantes páginas da história brasileira do século XIX é, sem dúvida, aquela protagonizada pelo italiano Giuseppe Garibaldi, sua esposa, a brasileira Anita, e outros revolucionários italianos no Brasil, como Tito Livio Zambeccari (ver postagem História 20 de 12/01/10). A epopéia de Garibaldi em terras brasileiras é tema de livros, teses e artigos universitários, textos jornalísticos e páginas na Internet. Dada a importância do tema, Oriundi Brasile abre um espaço especial para contar um pouco da história dessa aventura libertária.

Filho dos italianos, Domenico Garibaldi e Rosa Maria Raimondi, Giuseppe nasceu em Nice ( França), no dia 4 de julho de1807. A cidade chegou a fazer parte dos domínios territoriais da família real do Piemonte (Itália), os Savóia, que a perderam em 1792, voltando a reintegrá-la em 1814. Em Nice, o rapaz cresceu, tendo como primeira paixão o mar, no qual anos mais tarde viveria suas fantásticas aventuras libertárias.

Nas primeiras viagens pelo Mediterrâneo e Mar Negro, passou a entrar em contato com marinheiros ligados às idéias libertárias de Giuseppe Mazzini, revolucionário e líder do movimento Jovem Itália, que lutava pela independência e unificação da Itália. Depois de participar de fracassadas tentativas de controle do Piemonte por parte dos revolucionários da Jovem Itália (1833), Garibaldi, um fugitivo condenado à morte, partiria para o Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro em 1836. Lá acabaria conhecendo outro ativista mazziniano, Luigi Rossetti - igualmente perseguido na Itália (ver postagem História 21, de 12/01/10) – e reencontrando Giambattista Cuneo, companheiro das primeiras batalhas italianas.

Num primeiro momento, Garibaldi, ao lado de Rossetti, dedicaram-se à navegação de cabotagem a partir do litoral fluminense.  Enquanto trabalhavam, os dois italianos recebiam notícias da insurreição gaúcha (Revolução Farroupilha - ver postagem História 19 de 19/01/10).

Em Cadernos da História – Memorial RGS, obra editada pelo governo gaúcho, encontramos o relato de como foram os primeiros movimentos de Garibaldi no Brasil.


“Bom marinheiro, militante carbonário, admirador de Giuseppe Mazzini  e do movimento Jovem Itália, partindo de Nantes, a bordo do Nautonier, não demorou para desembarcar no Rio de Janeiro, em 1836. De imediato, deixou-se subjugar como Saint-Hilaire antes dele, pelo impressionante espetáculo da baía da Guanabara, maldizendo não ser poeta.Encontrou por lá uma ativa colônia de exilados italianos, uma das tantas que existiam espalhadas pelas cidades da América depois do insucesso do levante nacionalista contra o domínio austríaco e das monarquias ultraconservadoras da Itália. No meio deles, exilados, Luiggi Rossetti, um carbonário que fazia às vezes de jornalista e corsário, combinação comum naqueles tempos".

"Foi Rossetti quem levou Garibaldi a fazer uma visita a Tito Livio Zambeccari, um preso ilustre, homem de sete instrumentos, ajudante de Bento Gonçalves, ambos encarcerados na Fortaleza de Santa Cruz no Rio de Janeiro, após a derrota dos farrapos na ilha do Fanfa, no rio Jacuí/RS. Além das afinidades itálicas, ressalte-se que os carbonários eram bastante próximos dos maçons, doutrina seguida por Zambeccari, formando um mundo de contatos subterrâneos, devido às suas inúmeras lojas espalhadas pelos quatro cantos, muito úteis nas conspirações anti-absolutistas”.

A conversa entre os três italianos levou ao engajamento direto de Rosetti e Garibaldi na Revolução Farroupilha, tanto é que este último recebe do comando revolucionário a carta de corso, documento oficial, que lhe permitia, oficialmente de abordar belicosamente embarcações inimigas, ou seja das forças do governo imperial brasileiro. “Decidiram os dois, com o consentimento de Zambeccari, arrumar um barco e, a partir de janeiro de 1837, lançar-se ao mar como corsários. O que conseguiram foi uma sumaca de dois mastros que batizaram de ‘Mazzini’, dedicada à interceptação dos que navegavam sob a bandeira do Império Austríaco, inimigo dos italianos irredentos".

"Caçados pela marinha imperial, navegaram para o Rio da Prata em busca de abrigo. Foi dali, partindo das vizinhanças de Montevidéu, que a dupla Rossetti e Garibaldi, cavalgando em vinte corcéis, alcançaram Piratini, sede da revolução das lanças. A adesão deles aos gaúchos insurretos contra o regime dos Braganças parecia-lhes a continuidade, em outro país, em outro continente, da luta que moviam ao absolutismo dos Habsburgos na Europa”

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