sábado, 30 de janeiro de 2010

História 46 – "Far l´America (14)": o início da colonização italiana no Rio Grande do Sul




Além de Rovilio Costa, outros tantos acadêmicos, historiadores e pesquisadores brasileiros se preocuparam em estudar o fenômeno da imigração italiana no Rio Grande do Sul. É o caso de Maria Abel Machado (do Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul) e de Vania Beatriz Merlotti Herédia (Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul). Ambas assinam o texto A formação de núcleos urbanos na região de colonização italiana no Rio Grande do Sul . A seguir, trecho desse treabalho publicado também no site da Universidade de Barcelona.

“O Governo Imperial concedeu em 1848, como doação 36 léguas quadradas de terras para a colonização de emigrantes europeus que ocupariam a planície dos Vales do Rio Caí e do Rio dos Sinos. O Governo Provincial do Rio Grande do Sul pressupunha que essas terras estivessem preenchidas pelas colônias de Santa Cruz, Santo Ângelo, Nova Petrópolis e Monte Alverne e solicitava mais terras devolutas do planalto, cobertas de mata virgem, ou seja, dois territórios de quatro léguas em quadro, equivalentes a 32 léguas quadradas para continuar a obra de colonização. Essas terras situavam-se na região da Encosta Superior da Serra do Nordeste da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, localizada entre as bacias dos rios Caí, Antas e Taquari, com os limites geográficos em São João do Montenegro, São Sebastião do Caí, Taquara do Mundo Novo e São Francisco de Paula de Cima da Serra.

Essa concessão não era gratuita e o preço estabelecido da terra pelo Império equivalia a 1 real por braça quadrada medida. Devido ao custo elevado, a Província teve de devolver as terras e ao mesmo tempo romper contratos feitos. Isso representava que a Província não tinha condições de assumir os compromissos estabelecidos pela lei. O processo de colonização do Rio Grande do Sul visava a formação de colônias agrícolas, produtoras de gêneros necessários ao consumo interno implantadas longe da grande propriedade, para não criar problemas à hegemonia do latifúndio, como parte do projeto do Governo Imperial, de ocupar as regiões despovoadas do país na segunda metade do século XIX".

"Além de implantar novas colônias agrícolas, com mão-de-obra européia, tinha a pretensão de abrir estradas que permitissem a ligação do planalto com a Depressão Central, estimular a imigração, branquear a raça e formar um exército de defesa das fronteiras sulinas”. “Os núcleos de Conde D’Eu e de Dona Isabel foram as primeiras colônias provinciais a serem organizadas no ano de 1870, criadas pelo Ato de 24/05 daquele ano pelo presidente da Província João Sertório.

Essas colônias apresentaram uma série de dificuldades para serem povoadas. Em 1871, o fracasso dessa ocupação era visível, pois apenas 37 lotes haviam sido ocupados em Conde D’Eu e nenhum em Dona Isabel. Devido a essa situação, o Presidente da Província, Francisco Xavier Pinto, assinou um contrato em 29/04/1871, de acordo com a Lei n° 749, com a Companhia Caetano Pinto & Irmão e Holtzweissig & Cia.de introduzir “40.000 colonos industriosos, jornaleiros e principalmente agricultores, no prazo de dez anos”. Uma das condições desse contrato era a introdução anual de 2.000 colonos no mínimo e 6.000 no máximo, devendo a maioria desses serem agricultores. Essa Companhia receberia 60$000 por adulto e 25$000 por menores de dez anos, cabendo à Província hospedar e transportar os colonos até o local destinado. Em 1872, o número de colonos radicados nas colônias foi de 1.354; em 1873, 1.607; em 1874, 508 e, em 1875, foi de 315.

Esse contrato foi prejudicado pelo não cumprimento de suas principais cláusulas como também pela concorrência dos agentes do governo imperial, que pagavam por imigrante adulto 70$000, conforme contrato feito com a Mackai Son & Co. e Guilherme Hasfield, de Londres. O fracasso da iniciativa levou a Província a devolver o projeto ao Império, conforme aviso n° 56 de 27/10/1875, sendo que o débito do empreendimento da Província atingia, nesse período, 1/6 do seu orçamento, ou seja, 288:000$000.[13] Além de tudo, os novos colonos chegados às colônias recusavam radicar-se nelas por falta de condições apresentadas, no que incorria o não-cumprimento do estabelecido pelos agentes.

A intensificação da corrente imigratória italiana se deu à medida que o contrato com a Companhia Caetano Pinto & Irmãos e Holtzweissig & Cia. se rompeu, e o programa de colonização foi devolvido ao Império. O Governo Provincial, na vigência da lei 749, contratara os serviços de José Antônio Rodrigues Rasteiro para receber e destinar os colonos ao local prometido.À medida que aumentava o número de imigrantes, o Império suspendia os benefícios criados pela lei de 1867, conservando apenas a venda do lote a crédito e trabalho remunerado, ou seja, 15 dias por mês de trabalhos para a direção da Colônia na construção de estradas. Em 1884, a Província encaminha a emancipação dessas colônias, suspendendo ao mínimo suas responsabilidades. Acreditavam que o sucesso dessas colônias surgiria do trabalho humano e da expansão da agricultura”.

Um comentário:

  1. Interessante o texto, trazendo algumas novidades, citado o autor. Estamos escrevendo sobre os antepassados, sem deixar a crônica do momento histórico. Abraço. Daltro Souza D'Arisbo, daltrodarisbo@gmail.com

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