sábado, 9 de janeiro de 2010

Italiani (Urbanismo) - Giuseppe Martinelli e a história do arranha-céu paulistano de 1929 - 1


Na cosmopolita São Paulo dos anos 20 e 30 do século XX, muitos italianos que haviam deixado seu país de origem para recomeçar a vida em terras brasileiras já trilhavam caminhos bem sucedidos. Um deles foi o Giuseppe Martinelli, a quem a cidade de São Paulo deve um de seus preciosos tesouros em termos de arquitetura: o Edifício Martinelli. Natural de Lucca, Giuseppe Martinelli, que por ofício era mestr-de-obras, deixou sua cidade natal em 1892, aos 22 anos de idade.

Ao chegar ao Brasil trabalhou em um açougue e foi mascate nas fazendas cafeeiras. “Eles vieram para vencer e, para tanto, lutaram muito. Suas histórias de vida me comovem, sobretudo quando penso que deixaram a pátria para trás, os parentes e sua cultura, para um mundo desconhecido, onde sofreram preconceito, pois vieram, de modo geral, para substituir o braço escravo” analisa Maria Cecília Naclério Homem, autora do livro O Prédio Martinelli - A ascensão do imigrante e a verticalização de São Paulo”.

A vida de mudou quando foi convidado pela firma Fratelli Fiaccadori para abrir uma casa de despachos em Santos. Depois de alguns anos, Giuseppe saiu da Fiaccadori e junto com um dos seus irmãos fundou a Fratelli Martinelli, que em 1906 já era uma empresa bem sucedida. Em 1911, Giuseppe rompeu com seu irmão e criou a “Sociedade Anônima Matinelli que prosperou ainda mais.

O grande salto da empresa se deu em 1915, durante a primeira Guerra Mundial, quando formou uma frota própria de navios afim de suprir a falta de transportes. Em 1922 a frota chegava a 22 unidades. Martinelli estava em ascensão e logo transformou-se em armador, era um dos homens mais ricos de São Paulo. Financeiramente no auge, chegava a hora de realizar seu antigo sonho, queria deixar uma marca na cidade, causar impacto. Decidiu construir o prédio mais alto da cidade até então.


A construção durou cinco anos. O Martinelli (o prédio levou o nome do seu idealizador) é um edifício que traz incrustrado em sua história vários marcos. Para erguer o “monumento”, que marca a verticalização da cidade de São Paulo, o conde contratou o engenheiro-arquiteto húngaro, William Fillinger que usou, pela primeira vez, o “concreto armado” um novo conceito na engenharia civil da época. Além disso, a maioria dos materiais usados durante as obras foi importada, como por exemplo, o cimento, que veio da Suécia e da Noruega. Inicialmente, o prédio estava projetado para abrigar 14 andares, com a possibilidade de ir até o décimo oitavo andar.Todos olhavam a construção com enorme desconfiança, muitos acreditavam que ele iria cair. Os boatos de que o prédio viria abaixo ganharam ainda mais força quando, durante as escavações, começou a minar água no subsolo. Foi preciso grande esforço dos técnicos e engenheiros para drenar a água e desviá-la do caminho do edifício. A obra foi evoluindo e as dificuldades foram aumentando. Em 1928 o conde Martinelli resolveu aumentar o tamanho do edifício chegando a 20 andares.


Nesse ponto todos esperavam que a obra terminasse por aí, mas o conde queria mais. A construção chegou a ser embargada. Mas, usando materiais mais leves, o conde conseguiu o direito de construir mais cinco andares, mas ainda não estava satisfeito. Ele estava próximo de realizar o sonho de alcançar 30 andares, e assim o fez. A área total do prédio chegava então aos 50.000m2 alcançando uma altura de 105,65 metros. Para provar que seu empreendimento não cairia resolveu construir sua residência no alto do edifício. Em 1929, Giuseppe Martinelli mudou-se para o edifício com a família.

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