sábado, 9 de janeiro de 2010

Italiani (Urbanismo) - Giuseppe Martinelli e a história do arranha-céu paulistano de 1929 -2


O primeiro morador do edifício foi Arturo Patrizi, professor de dança, que além de morar no prédio também montou uma escola de danças, uma das mais concorridas na época. Inicialmente o edifício Martinelli era dividido em três partes: na rua Líbero Badaró era a parte residencial do edifício, voltada à ala rica da cidade. Na Rua São Bento ficava a área comercial, por fim a entrada da São João abrigava o Hotel São Bento e os salões Verde e Mourisco muito freqüentado pela alta sociedade paulista da época.





Foi também o Martinelli que abrigou o famoso cine Rosário, outro ponto de encontro nas noites das sextas-feiras e o mais luxuoso cinema da cidade de São Paulo até então. Foi inaugurado ao som da orquestra do Maestro Gabriel Migliori, pelo prefeito Pires do Rio, em 2 de setembro de 1929, exibindo o filme “O Pagão”, estrelado por Ramon Navarro.Todos que chegavam a São Paulo não perdiam a oportunidade de apreciar a visão da cidade do alto do edifício Martinelli. Júlio Prestes e o Príncipe de Gales, entre outras personalidades, em suas visitas à capital, não perderam a oportunidade de conhecer o edifício.


 “De certa forma, o Comendador Martinelli, que era mestre-de-obras na Itália, ao conseguir edificar o prédio mais alto da América do Sul, conseguiu romper com os preconceitos, pois foi cantado em versos e em prosa. Sua obra foi o orgulho da cidade”, afirma Maria Cecília Naclério Homem em seu livro: “O Prédio Martinelli - A ascensão do imigrante e a verticalização de São Paulo”. 
Tudo caminhava para dar certo, até acontecer a quebra na bolsa de valores de Nova York em 1929. Devido à enorme quantidade de dívidas feitas com o intuito de concluir o edifício e sem recursos para saldá-las, o conde teve como única solução, vender seu “sonho” para o Instituto Nazionale di Credito per il Lavoro Italiano all´Estero, mais conhecido por ICLE. Quando os italianos afundaram navios brasileiros na 2º Guerra Mundial, o governo brasileiro confiscou os bens italianos, assim sendo, o Martinelli ficou sob administração federal e logo em seguida o edifício foi a leilão.

Nessa época, o conde já tinha recuperado sua fortuna novamente e tentou reaver o prédio, porém o edifício foi vendido para Milton Pereira de Carvalho e Herbert Levy. Logo depois o prédio passou a ter 103 proprietários tornado-se o primeiro edifício do Brasil a se transformar em condomínio. Giuseppe Martinelli morreria em 1946.


O Martinelli teve seu momento de degradação durante tutela de 103 proprietários e acabou transformando-se aos poucos em cortiço, por ser uma opção barata de se morar no centro da capital. Os administradores não tinham controle do prédio. Muitas pessoas chegaram para morar no edifício, adaptando as estruturas existentes às suas necessidades, como por exemplo, os tanques para lavar roupa serviam como pia, sanitários transformaram-se em cozinhas. O prédio era muito usado para esconder bandidos, e também palco de suicídios e assassinatos.Logo o Martinelli era notícia diária nas crônicas policiais da época. Um caso que mais chamou atenção aconteceu em 1965, quando cinco bandidos estupraram e mataram a menor Márcia Tereza num dos apartamentos do Martinelli chamado na época de Edifício América.


O Martinelli estava literalmente no fundo do poço. Então no governo do prefeito Olavo Setúbal o prédio foi enfim, reformado. Todos os moradores receberam ordem de despejo para dar início às obras. Nesse período muitos moradores ficaram sem saber para onde ir e o problema da moradia na cidade de São Paulo começou a ser evidenciado com freqüência pela imprensa. A reforma foi financiada pela Prefeitura da Cidade de São Paulo, Banco Itaú e também alguns dos proprietários do prédio. A Prefeitura comprava a parte dos proprietários que não tinham dinheiro para ajudar na reforma do edifício. O prédio foi reaberto em 4 de maio de 1979 pelo prefeito Olavo Egydio Setúbal.(imagens do site Prédio Martinelli e texto do portal da Prefeitura de São Paulo).

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