domingo, 14 de fevereiro de 2010

Oriunidi -Sangue italiano nas veias do Modernismo brasileiro: prosa e verso de Menotti Del Picchia (2)

Nilce Camila de Carvalho (Universidade Estadual de Londrina) é autora do texto “ Da ‘Semana de Arte Moderna’ à ‘Semana Juca Mulato’ ” que traz reflexões sobre o poema Juca Mulato, escrito em 1917 por Menotti Del Picchia e publicado naquele mesmo ano num pequeno jornal da cidade de Itapira, interior de São Paulo.

"Juca Mulato conta a história de um triste caboclo que se apaixonou pela filha da patroa. Seu drama é o amor, e mesmo este possui uma significação social, uma vez que o eu-lírico é obrigado por uma imposição social a 'matar' esse amor que lhe nasceu na alma porque sua impossível correspondente pertence a um grupo social mais elevado".

"O drama do personagem é universal. O tema amoroso é a estrutura semântica de todo o poema, e no contexto em que é trabalhado traz informações sobre a sociedade hierárquica e economicamente instituída".

"O amor de Juca é platônico, o personagem tem consciência da impossibilidade de seus sonhos, ou seja, sua concepção de sociedade fundamentase a partir do conhecimento dessa hierarquia. Seus sentimentos não podem ser respondidos devido à posição que o Mulato ocupa nessa sociedade estratificada, em que inicialmente tem-se a complicada relação entre patrão e empregado, que geralmente requer uma série de comportamentos e hábitos, como o modo de se vestir, alimentar, falar, oriundas de certa diferenciação social, que acabam por relegar o Mulato à margem; seguidamente, outro fator aglutinador da diferença entre o caboclo e sua amada é a própria questão 'racial', muito em voga na época em que o poema foi escrito, e que assim condena Juca a escória da sociedade".

"Como poema nacionalista, no sentido de ser um canto em homenagem à terra, Juca Mulato pode ser também considerado regionalista, na medida que apresenta um caboclo nascido num determinado local e a relacionar-se profundamente com seu ambiente".

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