segunda-feira, 3 de maio de 2010

Italiani - Eliseu Visconti, um precursor do modernismo no Brasil (3)

Em fevereiro de 2010, foi concluiída  a completa restauração das pinturas do “foyer” do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, executadas por Eliseu Visconti em Paris, entre 1913 e 1915. Consideradas por diversos críticos de arte como a obra prima da pintura decorativista no Brasil, as pinturas do “foyer” foram bastante danificadas, atingidas pelas infiltrações na cúpula do Theatro. Antiga reivindicação do Projeto Eliseu Visconti, a restauração dos painéis de Visconti foi incluída nas obras de recuperação do Theatro, no ano de seu centenário, pela Presidente da Fundação, Carla Camurati. Com a coordenação da Holos Consultores Associados, os trabalhos, iniciados pela equipe do Professor Domingo Tellechea, foram desenvolvidos pela equipe de Maria Cristina da Silva Graça. As demais pinturas de Eliseu Visconti no Theatro - pano de boca, plafond e friso sobre o proscênio - também foram objeto de reparos e limpeza, trabalhos executados pela equipe de Humberto Farias de Carvalho. Todos os trabalhos de restauro contaram com a consultoria dos Professores Edson Motta Júnior e Cláudio Valério Teixeira.(Fonte: Web Site de Eliseu Visconti )

Italiani - Eliseu Visconti, um precursor do modernismo no Brasil (2)

A reforma do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, no início da década de 1930, iria proporcionar a Eliseu Visconti um retorno às emoções da mocidade. Como a reforma previa o alargamento da boca de cena, o Engenheiro Roberto Doyle Maia convidou Visconti a aumentar o primitivo friso sobre o proscênio. Demonstrando grande vitalidade, preferiu o artista, aos 68 anos de idade, executar um novo friso, que seria colocado sobre o original. Nesse trabalho, executado entre 1934 e 1936, foi auxiliado por sua filha Yvonne Visconti Cavalleiro, por seu genro Henrique Cavalleiro e por seus discípulos Agenor César de Barros e Martinho de Haro.(Fonte: Web Site de Eliseu Visconti )

domingo, 2 de maio de 2010

Italiani - Eliseu Visconti, um precursor do modernismo no Brasil (1)

Pintor, desenhista, professor, o italiano radicado no Brasil, Eliseu Visconti, deixou um importante legado na história da arte brasileira. De acordo com o site oficial do artista, Eliseu Visconti “nasceu em 30 de julho de 1866, na Vila de Santa Catarina, Comuna de Giffoni Valle Piana, Província de Salerno, Itália. Filho de Gabriel d’Angelo e de Christina Visconti, teria imigrado para o Brasil com um ano de idade, segundo Frederico Barata, seu principal biógrafo e autor do livro oficial do pintor 'Eliseu Visconti e Seu Tempo', de 1944. No entanto, informações posteriores, prestadas inclusive por seu filho, Tobias d'Ângelo Visconti, revelam que Visconti viajou para o Brasil já menino.

Uma carta de próprio punho, encaminhada por Eliseu Visconti em 26 de agosto de 1938 a Oswaldo Teixeira, à época Diretor do Museu Nacional de Belas Artes, constitui o único documento que faz menção ao ano em que Visconti imigrou. De seu texto, depreende-se que sua vinda para o Brasil teria ocorrido em 1873, aos sete anos de idade portanto.

Num trabalho de pesquisa sobre obra do artista, Miriam N. Seraphin (Unicamp) ressalta que "sua formação artística deu-se no Rio de Janeiro, a partir de 1883, no Liceu de Artes e Ofícios, e depois na Academia Imperial das Belas Artes, desde 1885. Por ocasião da Proclamação da República, naturalizou- se brasileiro e participou da reforma da Academia, que a transformou em Escola Nacional de Belas Artes (ENBA). Foi o vencedor do primeiro concurso com prêmio de viagem à Europa, promovido pela nova instituição. No seu período de aperfeiçoamento em Paris (1893-1900) estudou na École des Beaux-Arts, na Académie Julian, e na École Guérin, no curso de composição decorativa de Eugène Grasset.

Os nus femininos dominam a produção artística do jovem Visconti, principalmente durante esse período. No entanto, após seu casamento, em janeiro de 1909, com a francesa Louise Palombe, a temática familiar será uma constante até o final de sua carreira. [Fig. 2] Trabalhou na França por pelo menos mais dois períodos (1904-07 e 1913-20), quando realizou as obras de decoração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e pintou diversos aspectos dos jardins parisienses e de Saint Hubert, onde morou numa propriedade da família de sua esposa.

De 1908 a 1913 foi professor da ENBA no Rio de Janeiro, porém sua atividade principal sempre foi a pintura, da qual tirou seu sustento sem dificuldades”.


A Enciclopédia Itaú Cultural lembra que Visconti, de volta a Europa, realizou, entre 1913 e 1916 (Paris), a decoração do foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e só se fixou definitivamente no Brasil em 1920. Segundo alguns estudiosos, é considerado um praticante do art nouveau e do desenho industrial e gráfico no Brasil, com obras em cerâmica, tecidos e luminárias.

O website do artista destaca que já na fase de maturidade artística (anos 20) ele inicia (1927) a pintura de “paisagens impressionistas de Teresópolis, cheias de atmosfera luminosa e transparente, de radiosa vibração tropical.

Como notou Mário Pedrosa: ‘... Sob a luz tropical ainda indomada de nossa pintura, Visconti é um conquistador da atmosfera. E aquela ciência da luz e do colorido que aprendeu em França vai servir-lhe agora para dominar o vapor atmosférico, sua grande contribuição à nossa pintura’. (Visconti diante das modernas gerações – Correio da Manhã – 1 de janeiro de 1950)”. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1944.

Oriundi - Sangue italiano no Modernismo Brasileiro: a arte de Aldo Bonadei

Em 1906, o casal Claudio e Amélia Bonadei festejavam o nascimento de mais um filho, o sexto da prole. Era Aldo Cláudio Felipe Bonadei, que, anos mais tarde, assinando apenas Aldo Bonadei, passaria a ser reconhecido com um dos grandes nomes da pintura moderna brasileira. No site da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, o perfil do artista é assim traçado.

“(..) Iniciou seus estudos em artes em 1923, com os pintores acadêmicos Pedro Alexandrino e Antonio Rocco. Cursou, ainda, desenho e artes no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Em 1930, foi estudar na Academia de Belas Artes de Florença. Retornou a São Paulo no ano seguinte e, em 1935, passou a integrar o Grupo Santa Helena, formado por pintores, em sua maioria autodidatas, imigrantes ou descendentes de imigrantes, que compartilhavam ateliê no Palacete Santa Helena, na Praça da Sê.

Em 1937, transfere seu ateliê para a casa, no bairro de Moema, em que residia com a família e onde sua mãe e irmã mantinham uma oficina de costuras e bordados e com a qual o artista colaborava realizando, além de desenhos de modelos, trabalhos de manufatura. Embora a pintura seja predominante em sua obra, Aldo Bonadei produziu muitos desenhos, gravuras e trabalhou, ainda, criando figurinos de moda e para teatro e cinema. Bonadei participou da Família Artística Paulista e foi um dos fundadores da Oficina de Arte (O.D.A.). Faleceu em São Paulo, em janeiro de 1974. 'Pode-se dizer que, na história da arte brasileira, poucos artistas tiveram tão grande envolvimento com a pesquisa plástica como Bonadei, que teve a busca de inovação como uma constante em sua trajetória. Nela surgem pesquisas de materiais, de meios de expressão artística e das principais tendências que marcaram o projeto estético da época em que viveu, inclusive com reflexões sobre o seu próprio trabalho'.

O texto acima, escrito por Lisbeth Rebollo Gonçalves, professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC/USP), para o catálogo da exposição comemorativa dos cem anos de nascimento de Aldo Bonadei, define o percurso estético do artista. Inicia-se no desenho e na pintura acadêmica, mas, alguns anos depois, integra o Grupo Santa Helena que tem como uma das suas características – ao lado da pintura ao ar livre, de paisagens urbanas e suburbanas de São Paulo, e da pintura em ateliê, de modelos e naturezas-mortas – a liberdade de pesquisa da construção do espaço plástico, da cor, da forma. Nos anos 1940, inicia a pesquisa da abstração, a partir do seu contato com a música: pinta ou desenha as sensações que a música lhe provoca. Pesquisa também o cubismo, mas não abandonará jamais por completo o figurativismo. Na verdade, ao longo de seu percurso artístico, Bonadei alternará fases abstrata e figurativa".

sábado, 1 de maio de 2010

História (176 ) -" Far l´América" (97 ): Presença italiana na cidade paulista de Vargem Grande do Sul

 Na região nordeste do Estado de São Paulo, o município de Vargem Grande do Sul também recebeu imigrantes italianos no final do século XIX. A cidade conta, hoje, com um Circolo Italiano que em seu site relata, brevemente, como foi a chegada de vênetos, piemonteses e lombardos

"Entre os anos de 1895 e 1900 a população do município (1.300 habitantes) aumentou em 50%, por causa da vinda dos imigrantes italianos. Vargem Grande do Sul possui, atualmente, mais de 3.000 famílias descendentes de italianos, o que corresponde a mais de 40% das pessoas aqui residentes; Ressalte-se que, na década de 70, os descendentes de italianos perfaziam 60% da população total. Os 600 imigrantes diretos que vieram para a cidade tiveram uma descendência de aproximadamente 2.600 filhos, dos quais, 1.900 são falecidos; os outros 700, ainda vivos, estão distribuídos entre Vargem Grande do Sul (cerca de 40%), outras cidades do estado e outros estados.

Do norte da Itália - especialmente das regiões do Veneto, da Lombardia e do Piemonte – vieram 65% dos imigrantes italianos. As cidades eram Veneza, Verona, Treviso, Rovigo,Bergamo e Mantova. Do sul da Itália e da Sicilia, basicamente das cidades de Napoli, Caserta e Caltanisseta, veio 15% da população imigrante. O restante (20%) veio das cidades de Lucca, Roma e Aquila, localizadas nas regiões da Toscana, Lazio e Abruzzo. Itaguassu, Boa Vista, Barro Preto, Santa Cristina, Cafundó, Três Barras, Conquista, Monte Alto, Fartura, Boa Esperança, Chapadão, Barreirinho, Santana, Graminha eram as Fazendas de café que recebiam os imigrantes italianos. Seus proprietários levavam os sobrenomes de Costa, Garcia, Fontão, Parreira, Carvalho, Figueiredo, Ribeiro, Lima, Leal, entre outros.

As fazendas de café e a imigração foram responsáveis pelo desenvolvimento sócio-econômico do pequeno Distrito de Paz, depois Vila e finalmente município de Vargem Grande do Sul. O fluxo de imigrantes italianos para a cidade foi mais intenso entre os anos de 1890 e 1900 - 60% dos imigrantes vieram nesta época. Porém, os italianos já se faziam presentes na década anterior (principalmente entre os anos de 1888 e 1889): Paolo Cossi, Domingos Passoni, Luiz Indrigo, Rosa Rigamonte, Emilio Baizi, João e Angela Canal, Antonio e Luiza Longhini, Augusto Chiavegati, Angelo e Davi Bedin, Luiz e Anibal Mazetto, Carlos e Josefa Maltempi.

Estas pessoas são consideradas como os primeiros imigrantes italianos que vieram para Vargem Grande do Sul. "Longe da pátria-mãe, os imigrantes defrontavam-se com situações novas que deveriam resolver, e sozinhos. Sentindo-se sós, juntavam-se as diferentes famílias, para ajudar-se mùtuamente. E exatamente por isso, nasceria a atual SBB (antiga Societá de Mutuo Socorso). Muitos nem sabiam ler e escrever; mas sempre tinha alguém que ajudava, até na contabilidade doméstica. Era o que fazia, por exemplo, o italiano Caetano Cipolla; em troca, preparavam "rua de café" para ele carpir, arruar e tirar mato. Era o sistema italiano de débito e crédito". TEXTO EXTRAIDO DO LIVRO VARGEM GRANDE DO SUL, EM PROSA, VERSO E FOTOS. Alguns imigrantes não se adaptaram à vida no campo, até porque já saíram da Itália com profissão própria (artesão, carpinteiro, ferreiro).

Outros, já familiarizados com a vida no campo, acabaram tornando-se proprietários de terras, casos de Constante Bonvento, Antonio Bovo, Ângelo Cavalheiro, Armando Cachola, Aureliano Franchi, Santo Paluan, José Rinaldi e Aurélio Sandrini. Aqueles que se transferiram para o núcleo urbano, impulsionaram seu desenvolvimento, atuando nos mais diversos ramos de atividades. Caso dos ferreiros João Bernardelli, Vicente Gadiani e Ângelo Sbardelini; dos carroceiros Paolo Cossi, Luciano Schiavo e Antonio Catini; do pedreiro Luis Gadiani; dos alfaiates Belarmino Fortini e Ranieri Rossi; do sapateiro Raimundo Feminelli; do carpinteiro João Canal; do lustrador de móveis Bernardo Tonin; do fotográfo Virgilio Forlin; do musicista Luiz Malatesta; do contabilista Luis Filipini.Outros imigrantes ainda trabalhariam como operários (Biazi Picone,José Alexandre e Domingas Santoni), como funcionários públicos municipais (Remolo Cherobino, Ernesto Bologna e Antonio Avanzi) e até mesmo como pequenos industriais (Ângelo Sartori, José Avanzi e Domenico Beloni).

Não foram poucos também aqueles que trilharam o ramo do comércio, como Iletro Cachola, Caetano Cipola, Oswaldo Corsi, Girolamo Forlin, Vicente Polito, José Rotta, Adolpho Pratali e Alexandre Trevisan. Desde o início do século XX até os dias atuais a participação do imigrante italiano tem sido expressiva. A maioria das empresas comerciais, industriais e prestadoras de serviços são dirigidas por descendentes de imigrantes. Também é comum encontrar sobrenomes italianos nas Diretorias e/ou Conselhos de Clubes de Lazer, Sindicatos, Lojas Maçônicas, Entidades de Classe e Associações Civis.

Não são poucos ainda os descendentes de imigrantes italianos que trabalham como operários das indústrias, como funcionários públicos e como prestadores de serviços. No próprio meio rural ainda se destacam como agricultores e proprietários de terras. A SBB E O CIRCOLO – Há mais de 100 anos nascia a SOCIETÁ OPERÁRIA ITALIANA MUTUO SOCORSO DANTE ALIGHIERI. Foi organizada por um grupo de imigrantes italianos. Tinha, inicialmente, o objetivo de proporcionar atividades de lazer e de convívio social aos imigrantes. Tornou-se, anos depois, também beneficente, prestando serviços médicos gratuitos a associados e fornecendo caixões funerários a indigentes. Seu primeiro presidente foi Emilio Bassi, um dos fundadores.

Recursos dos associados e recursos extras obtidos em campanhas permitiram a construção de sede própria. A partir de 1940, por causa da guerra, teve o nome mudado para SOCIEDADE BENEFICENTE BRASILEIRA – SBB. Passaram pela sua direção e participaram da fundação sobrenomes como Coracini, Nardini, Beloni, Baizi, Menossi, Basílio, Molinari, Pratali, Bassi, Sbardelini, Canal, Lupetti, Tonin, Lodi, Marquesini, Cossi e Filipini, entre outros. Mais recentemente, descendentes de imigrantes italianos fundaram o CIRCOLO CULTURAL ITALO-BRASILEIRO, em 15/05/2002, com o objetivo de divulgar a cultura e tradições italianas, através de ensino da língua e assistência escolar, formação e aperfeiçoamento profissional. Propõe-se ainda a incrementar iniciativas de cunho artístico e social, além de ajudar trabalhadores italianos e suas famílias".

História (175 ) -" Far l´América" (96 ): Imigração italiana em Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul o fenômeno da imigração italiana atingiu diversas áreas. Uma delas foi Santa Vitória do Palmar, no extremo Sul do Estado. Um relato da presença italiana nessa região vem de Stella Borges , professora (ULBRA) e escritora.

"Geralmente chegados através do Prata, por volta de 1865, encontramos italianos em Santana do Livramento, fronteira com o Uruguai, o mesmo acontecendo em Jaguarão, São Borja, Dom Pedrito, Santa Vitória do Palmar, Bagé e outros municípios. Em geral todas essas localidades iniciaram a receber italianos, anos antes da imigração colonial agrícola, iniciada no nordeste do Rio Grande do Sul.

Seguramente são italianos que entraram no Estado espontaneamente com recursos próprios. E que podem ter estabelecido diferentes formas de identificar-se e de serem identificados. Santa Vitória do Palmar, no extremo Sul do Estado, é um exemplo de reimigração do Uruguai ao Brasil na virada do século. A maioria são calabreses e todos conhecem suas origens; entretanto maioria não conhece ou não fala a língua familiar, não mantêm contatos com a Calábria, a não ser algumas famílias, especialmente duas. Em Santa Vitória, antes da colonização espanhola e portuguesa, habitavam a região, os índios charruas ocupando uma vasta área entre o Rio Uruguai e o Oceano Atlântico.

Em 1737, uma expedição portuguesa penetra na região, construindo fortes e delimitando fronteiras. Mas os primeiros desentendimentos entre Portugal e Espanha, no que diz respeito à demarcação só foram solucionados após a assinatura do Tratado de Madri, estabelecendo divisas naturais. Porém a efetivação de tal processo só ocorre em 1751. Muitas guerras vão se suceder no território, o que atrasa a definitiva demarcação que será concluída um século depois, em 1852. Em 1852, será demarcado o local para a fundação de Santa Vitória do Palmar.

Antes da denominação definitiva, era conhecida apenas como Andrea, nome de um dos fundadores. A região também era conhecida como Campos Neutrais, referindo-se especialmente ao período em que foram terras de ninguém, sem leis, sem reis ou seja, campos neutros (1777-1801). Esta região se estendia do Taim até o Chuí, onde então começava as possessões espanholas, do outro lado do Arroio de mesmo nome. "(...) Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, oficialmente, foram as primeiras terras conquistadas por Portugal no RS (...) A posse militar de Santa Vitória foi assegurada, em outubro de 1737, com o estabelecimento do forte de São Miguel e Guarda do Chuí, guarnecidos por soldados da expedição de Silva Paes"(Revista Militar brasileira. Ano LX, n. 3 e 4, jul./dez. Vol. CV. Centro doc. exército, p. 64).

Os Campos Neutrais foram povoados por portugueses, após a delimitação, contando depois com a presença de outros grupos étnicos. Em 1858, o distrito Capela de Santa Vitória do Chuí (2o. distrito de Rio Grande) passa à freguesia adotando então o nome atual, Santa Vitória do Palmar. Somente em 1872 é criado o Município. A atividade econômica principal, foi especialmente a pecuária com base no latifúndio, aliás como foi em toda região da fronteira, além do comércio. Como cidade de fronteira, recebeu uma significativa leva de imigrantes, da chamada imigração espontânea, oriundos principalmente de Buenos Aires e Montevidéu. Este grupo, em função da localização e situados na fronteira do vaivém permaneceram, de certa forma, juntamente com todos os habitantes de Santa Vitória, num relativo isolamento.

Até a década de 1950, as viagens em direção norte do Estado, eram realizadas pela praia, dependendo portanto das marés. Somente a partir da década de 1960, quando foi construída uma estrada de terra, conhecida como Carreteira (estrada carretas) até Pelotas, facilitando o acesso, os santavitorienses vão estreitar relações com o Brasil. Até este período, pode-se considerar que Santa Vitória era uma cidade uruguaia, pois a infra-estrutura e a curta distância favorecia a aproximação.

Até a década de 1970, muitos que desejavam estudar, passar as férias e mesmo residir, buscavam, freqüentemente, Montevidéu ao invés de Porto Alegre. Assim, só podemos explicar a imigração italiana em Santa Vitória do Palmar numa dimensão histórica uruguaia e não brasileira, portanto diversa do processo imigratório ocorrido no contexto do Rio Grande do Sul.

Os imigrantes italianos, começaram a chegar no município a partir de 1860, trabalhando como mascates, concorrendo com o comércio dos sírio-libaneses, vendendo pelo interior do município, essa facilidade é um dos motivos que optaram por Santa Vitória; num segundo momento acabaram por ter como ramo definitivo de atividade econômica o comércio de secos & molhados. Partindo sempre da amostragem, ainda identificam-se prestadores de serviços como: sapateiros, pedreiros, soldadores (ambulante), alfaiates e atividades no ramo de transportes em diligências. Atividades tipicamente urbanas. Realizadas 23 entrevistas, todos os entrevistados alegam como razão de emigrar a fuga da miséria e o desejo de melhorar de vida. As justificativas para fixar-se em Santa Vitória são de que já havia parentes no município e que foram chamados, garantindo, num primeiro momento, a ajuda e solidariedade para atingir o objetivo – fare l’America – mito do Novo Mundo, da riqueza e da sorte. Todos os entrevistados vieram para cá ou sozinhos ou com parentes, predominando os de 1º grau como pai, mãe e esposa.

Os que vieram sozinhos se estabeleceram e depois de alguns anos chamaram esposa e filhos ou os pais, promovendo a reunificação da família. Este é um possível indício de imigração permanente. Pelo censo da população, segundo o sexo e a nacionalidade, de 1900, encontramos 166 italianos e 66 italianas, sobre um total populacional de 8.970 pessoas, sendo 80% destes, brasileiros. É interessante notar, o número excessivo de homens italianos para o de mulheres, o que colabora para a idéia de migração em Cadeia. Imigrantes italianos estão presentes em Montevidéu desde o início do século passado, sendo significativa a atuação de inúmeros combatentes italianos.

Assim como no RS, no Uruguai também chegaram grande número de imigrantes destinados a ocuparem territórios despovoados. Segundo BRIANI, em 1843 o censo registrava cerca de 4.025 italianos em Montevidéu constituindo-se na segunda coletividade estrangeira, sendo os franceses em primeiro. Desde essa data, a freqüência de chegada de italianos no porto de Montevidéu aumenta, continuando intenso até a I Guerra Mundial. A contribuição desses imigrantes foi significativa, mas a conjuntura política e econômica, na segunda metade do século passado, tanto no Uruguai como na Argentina provocou uma migração interna, fazendo com que muitos desses imigrantes percorressem cidades do interior, procurando melhores condições de vida.

É interessante notar que mais de 50% dos entrevistados afirmam ter como destino inicial ou Buenos Aires (5) ou Montevidéu (9), fazendo parte então da entrada oficial de imigrantes na Argentina ou Uruguai. Além da crise, outra justificativa para o ingresso em nossa região de fronteira, de imigrantes de diversas etnias, entre eles os italianos, tenha sido o contrato realizado pelo empreiteiro Serpa Júnior. Segundo Pasquale Corte (em De Boni / Costa, 1984, p. 65) muitos italianos "...estão em Pelotas, Rio Grande, Bagé, Jaguarão, Santa Vitória do Palmar, Alegrete, Uruguaiana, Santana do Livramento, São Jerônimo, Cachoeira e outras localidades menores." Assim que poderemos encontrar em Santa Vitória do Palmar, italianos originários do mesmo tronco familiar, encontrados também na capital Uruguai e nas cidades de Minas – Castillo e Rocha. É provável, que o mesmo se repita em outros municípios fronteiriços, como em Livramento ou Bagé. Como Santa Vitória foi sendo urbanizada, nascendo junto praticamente com o início da presença de imigrantes italianos, encontramos os mesmos envolvidos nas mais diversas atividades sociais e associações: em lojas maçônicas, clubes e sociedades pastoris, agrícolas e industriais (MELLO, Tancredo F.

O Município de Santa Vitória do Palmar. Porto Alegre: Livraria Americana, 1911). Membros do grupo italiano no município, fundaram a Società Benevolenza, em 1880, com exclusiva participação de italianos. Seus membros fundadores foram: o médico Francisco Palombo, Carmine Brundo, Luigi Bottini, Antonio Blasi, Pietro Martino, Stefano Ferrari e Giovanni Boraglia.

Da amostra, nem 50 % dos entrevistados participavam da Sociedade italiana. Dos que não participaram, um afirmou que como havia dificuldades para o sustento, não participaram de nada, só trabalharam! Os entrevistados são oriundos de diversas regiões do sul da Itália (Consenza, Napoli, Salerno; Sicilia) mas também se estabeleceram no município italianos de Firenze, Gênova e Novara. Em Santa Vitória do Palmar havia a chamada Quadra dos Italianos, mas não foi possível identificar ainda a proveniência daqueles e se outros italianos moravam fora do gueto.

Novas entrevistas deverão ser realizadas a fim de perceber as relações interétnicas, através da memória dos últimos descendentes de italianos, visando olhar de dentro com o ator e como ele, montando, desmontando e remontando sua construção/desconstrução étnica/cultural.

Estabelecendo um processo positivo de construção histórica a partir de todas as fontes possíveis, desde álbuns de famílias, fotos, filmes, cartas, entrevistas, documentos em geral e demais fontes oficiais a fim de estabelecer qual identidade é formulada nos diversos períodos da história onde o palco por nós escolhido, foi Santa Vitória do Palmar!"

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Italianità: 'Miracolo di San Gennaro"

"São Januário (San Gennaro) nasceu em Nápoles, no ano 270 d.C. Nada se sabe ao certo sobre os primeiros anos de sua vida. Em 302 foi ordenado sacerdote, e por sua piedade e virtude foi escolhido, pouco depois, para Bispo de Benevento. Sua caridade, infatigável zelo e solicitude pastoral desterraram de sua diocese a indigência, tendo ele socorrido a todos os necessitados e aflitos.

Quando em 304, o imperador romano Diocleciano desencadeou em todo o Império cruel perseguição contra o Cristianismo, obrigando os fiéis a oferecer sacrifícios às divindades pagãs, Januário teve muitas ocasiões de manifestar o valor de seu zelo, socorrendo os cristãos, não só nos limites de sua diocese, mas em todas as cidades circunvizinhas. Penetrava nos cárceres, estimulando seus irmãos na fé e perseverança final, alcançando também, naquela ocasião, grande número de conversões. O êxito de seu apostolado não tardou a despertar atenção de Dracônio, governador da Campânia, que o mandou prender. Diante do tribunal, São Januário foi reprovado pelo pró-cônsul Timóteo, que lhe apresentou a seguinte alternativa: «Ou ofereces incenso aos deuses, ou renuncias à vida». «Não posso imolar aos demônios, pois tenho a honra de sacrificar todos os dias ao verdadeiro Deus»” – respondeu com vigor o santo, referindo-se à celebração eucarística. Irado, o pró-cônsul ordenou que o santo Bispo fosse lançado imediatamente numa fornalha ardente. Mas Deus quis renovar em favor de seu fiel servo o milagre dos três jovens israelitas, atirados também nas chamas, de que fala o Antigo Testamento. São Januário saiu desta prova do fogo ileso, para grande surpresa dos pagãos. O tirano, atribuindo o prodígio a artes mágicas, ordenou que São Januário e mais seis outros cristãos fossem conduzidos a Puzzoles, onde seriam lançados às feras na arena. No dia marcado para o suplicio, o povo lotou o anfiteatro da cidade.

No centro da arena. São Januário encorajava os companheiros: «Ânimo, irmãos, este é o dia do nosso triunfo, combatamos com valor nosso sangue por Aquele Senhor, a quem devemos a vida». Mal terminara de falar foram libertados leões, tigres e leopardos famintos, que correram em direção às vítimas. Mas, em lugar de despedaçá-las, prostraram-se diante do Bispo de Benevento e começaram a lamber-lhes os pés. Ouviu-se então um grande murmúrio no anfiteatro, que reconhecia não existir outro verdadeiro Deus senão o dos cristãos. Muitos pediram clemência. Mas o pró-cônsul, cego de ódio, mandou decapitar aqueles cristãos, sendo executada a ordem na praça Vulcânia.

Os corpos dos mártires foram conduzidos pelos fiéis às suas respectivas cidades. Segundo relataram as crônicas, uma piedosa mulher recolheu em duas ampolas o sangue que escorria do corpo de São Januário, quando este era transportado para Benavento. Os restos mortais do Bispo mártir foram transladados para sua cidade natal — Nápoles — em 432. No ano 820 voltaram para Benavento.

Em 1497 retornaram definitivamente para Nápoles, onde repousam até hoje, em majestosa Catedral gótica. Aí se realiza o perpétuo sangue, que se dá duas vezes por ano, no sábado que antecede o primeiro domingo de maio aniversário da primeira transladação, e a 19 de setembro, festa do martírio do santo (Igreja Latina) e no dia 16 de dezembro (dia em que Nápoles foi protegido da erupção do Vesúvio). As datas da liquefação do sangue de São Januário são celebradas com grande pompa e esplendor.

As relíquias são expostas ao público, e se a liquefação não se verifica imediatamente. Iniciam-se preces coletivas. Se o milagre tarda, os fiéis compenetram-se de que a demora se deve a seus pecados. Rezam então orações penitenciais, como o salmo «Miserere», composto pelo Santo Rei Davi. Quando o milagre ocorre, o Clero entoa solene «Te Deum», a multidão prorrompe em vivas. Os sinos repicam e toda a cidade se rejubila. Entretanto, sempre que nas datas costumeiras o sangue não se liquefaz, Isso significa o aviso de tristes acontecimentos vindouros, segundo uma antiga tradição nunca desmentida.

San Gennaro é padroerio de Nápoles e também do bairro da Mooca, em São Paulo, região que recebeu grande contingente de imigrantes napolitanos. (Fonte: Site Ecclesia