sexta-feira, 2 de abril de 2010

Oriundi: Adoniran Barbosa, filho ilustre de Valinhos


Este ano, no dia 6 de agosto, completam-se cem anos do nascimento de João Rubinato, filho de imigrantes vênetos, que viria a escrever, com o nome artístico de Adoniran Barbosa, uma das mais belas páginas da música brasileira. Maria Izilda Santos de Matos, como professora do Departamento de História da PUC-S, assim descreve o genial compositor no trabalho A cidade, a noite e o cronista: São Paulo de Adoniran Barbosa

“Adoniran Barbosa nasceu João Rubinato, em 6 de agosto de 1910, em Valinhos, São Paulo. Era filho de imigrantes italianos, e ainda menino, já residente em Jundiaí, começou a trabalhar com o pai no serviço de cargas da São Paulo Railway. Não terminou o curso primário, exerceu várias atividades como entregador de marmitas, varredor de fábrica, tecelão, pintor, encanador, serralheiro e garçom. Aprendeu o ofício de metalúrgico-ajustador no Liceu de Artes e Ofícios, mas por problemas pulmonares passou a ter outras ocupações”.

“Em 1932, em São Paulo, ao mesmo tempo que exercia as funções de entregador de uma loja de tecidos da 25 de março, tornou-se cantor-ambulante batucando na caixinha de fósforo, marcando, como outros cantantes, a sonoridade urbana. Freqüentava as lojas de música do centro, ponto de encontro de interessados, pois começava a fazer músicas. Também tentou o teatro e, sem muito sucesso, arriscou-se em programas de calouros. Por sugestão de Antonio Rago, tentou a Rádio Fontoura, ainda nos seus primórdios, na qual passou a cantar com Laurindo de Almeida, João do Banjo e Aragão do Pandeiro. Em 1933, fruto de muita insistência, consegue seu primeiro contrato como cantor e depois como locutor. Dessa época, datam seus primeiros sambas: Minha vida se consome e Teu orgulho acabou".

"Mas em 1934 se destacou quando obteve o 1º lugar no concurso carnavalesco da Prefeitura de São Paulo, com a marchinha carnavalesca Dona boa.” “Começaria uma trajetória pelas rádios. Por volta de 1935 foi contratado pela Rádio São Paulo e depois pela Difusora. Como o trabalho com a música era eventual e não possibilitava um ganho fixo, outras estratégias apareceriam, como trabalhar num escritório de contabilidade ou morar com a sogra no Tatuapé. O retorno ao rádio ocorreria na Rádio Cruzeiro do Sul, aí permanecendo até 1941, quando passou a trabalhar na Record, em rádio-teatro e musicais, como discotecário, locutor e rádio-ator”.

“O sucesso maior foi obtido no programa Histórias das malocas (1955), com destaque para Charutinho, o malandro malsucedido e desocupado do Morro do Piolho, tangenciando para a crítica social. Trazia o caráter nostálgico da denúncia de uma cidade em construção-destruição, com movimento e ritmo assustadores num presente degradado, que só uma sintonia com esses tempos de transformação poderia captar: algo que muitos sentiam mas não sabiam transmitir. Como artista intimamente ligado ao rádio, o sucesso neste veículo mostrou sua afinação com a sensibilidade do seu público, as camadas populares da metrópole paulista que lhe possibilitavam audiência garantida.

“As composições se ampliam a partir de 1935: Agora podes chorar; A canoa virou; Chega; Mamão; Pra esquecer; Um amor que já passou; canções diversificadas, diferenciando-se do estilo que posteriormente iria lhe trazer o sucesso. A fusão do humor e da música atingia a maturidade nos anos 50, e vieram os sucessos nas vozes dos Demônios da Garoa, com Malvina, que em 1951 ganhou o 1º lugar num concurso carnavalesco, Joga a chave, em 1953, Saudosa maloca, composta em 1951,11 Samba do Arnesto e as Mariposas de 1955, que serviram de inspiração para o programa Histórias das malocas. Dessa experiência surgem outras composições: Segura o apito e Aqui Gerarda, mas foi em 1964 que ocorreu o estouro com o Trem das onze, seguido de outros sucessos”.


“Esse momento de maior sucesso do compositor coincidiu com a efervescência do desenvolvimento urbano-industrial da cidade. Nos programas Histórias das malocas e nas composições desse período, Adoniran passou a mostrar uma sintonia cada vez maior com o cotidiano da cidade, seus personagens, a linguagem, a maneira de falar, os dramas que envolviam a população pobre dos cortiços e favelas. Suas composições se caracterizaram pela síntese de sotaques, entonações peculiares das múltiplas migrações que povoaram e repovoaram a cidade de São Paulo". "Seus papéis no cinema e na TV foram mais discretos; seu grande veículo foi o rádio, no qual recebeu vários prêmios como humorista. Na procura de uma conexão mais direta com o público levou seu programa humorístico para os circos na periferia da cidade, mas o sucesso não lhe possibilitou grandes ganhos financeiros. Astro de rádio, circo, disco, cinema nacional e também TV. No cinema, atuou em Caídos do céu (1946), ao lado de Dercy Gonçalves, fez Pif-paf (1947) e O cangaceiro (1953). Ao lado de Mazzaropi destacou-se em Candinho, Nadando em dinheiro e A carrocinha. Também atuou em Esquina de ilusão e Bruma seca".


Nenhum comentário:

Postar um comentário