sexta-feira, 2 de abril de 2010

Oriundi - Em Valinhos e Vinhedo a força empresarial dos descendentes dos pioneiros

No interior paulista prosperam negócios nas mãos de descendentes de imigrantes italianos. Em Valinhos e Vinhedo Pequenos produtores rurais de 15 cidades se unem para fundar uma cooperativa que promete alavancar a produção de vinho no Interior.

Com uma entidade instituída em Valinhos e Vinhedo, o grupo pretende concentrar o cultivo de uvas em uma gleba única. Hoje, o mercado nacional é controlado basicamente pelas vinícolas do Rio Grande do Sul. De 1,28 milhão de toneladas de uva colhidas a cada ano no Brasil, nada menos que 697 mil nasceram em parreirais gaúchos. O Estado de São Paulo, segundo do País, produz 194 mil toneladas/ano nas propriedades do Circuito das Frutas. Ainda assim, a safra não vira vinho.

O setor lucra basicamente abastecendo o mercado com uvas de mesa, de variedades adocicadas (como as norte-americanas niagara e bordô). A produção do vinho é modesta, simbólica, mantida apenas por gente que pretende preservar tradições familiares. As garrafas são compradas por quem conhece e frequenta as pequenas adegas. Mas, para se ter uma ideia, se os 11,6 mil hectares de parreirais paulistas estivessem cultivados com variedades viníferas, São Paulo teria capacidade para produzir, a cada ano, 94 milhões de litros de vinho. Segundo a pesquisadora Aline Camarões Teles Biasotto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a bebida é capaz de agregar valor à uva e gerar mais renda aos produtores. Para entrar no mercado e ser competitivo, o vinho paulista precisa ter uma linha produtiva padronizada, de qualidade absoluta que, além de conquistar o cliente pela aparência, sabor e aroma, seja garantia de saúde. E é exatamente esta a padronização sonhada pelos fundadores da Coopervinho Paulista. Cerca de 50 fabricantes de vinho já se inscreveram no grupo.

Por enquanto, duas dezenas de dornas estão em um galpão adaptado de 180 metros quadrados, no Jardim Santa Rosa, em Valinhos. O vinhedo único vai dar frutos dentro de dois anos, numa primeira gleba arrendada, de três alqueires, em Vinhedo. Mas já está em fase final a negociação para a compra de outros dez alqueires. Desafio O vice-presidente do grupo, outro idealizador da Coopervinho Paulista, Antônio Trento, afirma que o produtor vai deixar de ver o vinho como um hobby ou um culto a ancestrais. Ele é neto de um imigrante italiano que produzia vinho em Valinhos em 1920.

A seu ver, a cooperativa vai ser uma ferramenta útil para compensar vantagens históricas dos gaúchos na disputa pelo mercado. Por lá, diz, a vitivinicultura cresceu porque famílias permanecem na roça. Aqui, fala, as adegas fecharam porque a especulação imobiliária colocou prédios no lugar das parreiras. “O alqueire que se compra a R$ 30 mil no Sul chega a custar R$ 150 mil na nossa região”, compara. Além disso, a indústria paulista arrancou milhares de lavradores da zona rural, década após década, oferecendo condições de trabalho e salários melhores. Não se consegue mão de obra para a roça. “Hoje, quem insiste em produzir vinho é obrigado a gastar muito dinheiro, trazendo em caminhões refrigerados a uva plantada no Sul”, explica. “O desafio da Coopervinho é tornar a adega viável, lucrativa, interessante para se investir”, fala. Agricultor já adere à iniciativa O rótulo no vasilhame é charmoso.

Lá está a imagem da velha estação ferroviária da Companhia Paulista, inaugurada na segunda metade do século 19, em Louveira. Nas prateleiras, as fotografias de ancestrais se misturam aos garrafões e objetos artesanais. A adega fica nos fundos de um casarão construído por seu avô há mais de 50 anos. O imóvel, que antes era rodeado de plantas, hoje fica no meio da Vila Pasti, na movimentada zona urbana. O herdeiro, Daniel Miqueletto, se mantém firme na produção de uva. A roça, hoje, fica longe da cidade. O Sítio Santa Rita, forrado de parreirais, é formado por quatro alqueires de terra, é lá pelas bandas do bairro rural de Luiz Gonzaga. Miqueletto explica que ganha a vida produzindo, a cada ano, 15 toneladas de uva de mesa. Para isso, tem quatro hectares cultivados.

Mas meio hectare tem uvas viníferas. Pouco, ainda. Mas o entusiasmado produtor rural, de 30 anos, quer fazer da roça um modelo. Primeiro, porque as parreiras são protegidas com telas contra o granizo. Lavradores trabalham, pacientes, na aplicação de defensivos agrícolas. A produção anual de vinho não passa dos 6 mil litros. Mas, no alto do sítio, a paisagem prova: Miqueletto aposta em produção bem maior. É que ele está erguendo um imóvel onde vai instalar sua nova adega. Aquela da Vila Pasti será apenas um memorial dos ancestrais italianos.

O empreendedor quer incentivar o turismo rural. “As pessoas vão conferir, in loco, os cuidados com a parreira e cada procedimento da fabricação. Eu acho que o vinho paulista vai ganhar espaço quando os consumidores descobrirem o carinho que a gente tem com esta arte”, afirma.

O vinho que chega aos mercadinhos da cidade é feito com uva de variedades diversas. No seu sítio, ele conseguiu colher a sauvignon blanc e a sirah, matéria-prima de bebidas finas. Mas foi com a máxima, desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) na década de 70, que Miqueletto e outros vitivinicultores de Louveira começaram a apostar no potencial econômico do mercado. “A gente, hoje, pode contar com o amparo dos institutos públicos de pesquisa, para resgatar uma atividade que fez parte da história de nossas famílias”, afirma. (Fonte: Instituto Brasileiro de Frutas). Outras informações: Associação Vitivinicultores de Valinhos

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