quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Italiani: Francesco Matarazzo, ícone da imigração italiana no Brasil (2)

Ronaldo Costa Couto, biógrafo do conde Francesco Matarazzo ( Matarazzo -Planeta do Brasil, 2004), ao comentar sobre a vida do famoso imigrante italiano lembra que ele, em 1890 decide trocar Sorocaba, no interior de São Paulo, pela capital paulista, onde, mais tarde fundaria as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. 

“Atua principalmente no comércio interno e na importação, no setor financeiro e no industrial, em transporte. Na Rua 25 de Março, monta a Matarazzo & Irmãos, praticamente um empório, importador e distribuidor de farinha de trigo, arroz, óleos comestíveis, banha e muito mais. Mantém ainda duas fábricas de banha em Sorocaba e uma terceira em Porto Alegre. A Matarazzo & Irmãos tem vida breve: Francesco a dissolve em 1891 e cria a Companhia Matarazzo S.A., com 41 acionistas, quase todos italianos, e tendo como sócio de família só o irmão Andrea. Atividade principal: importação de farinha de trigo e algodão dos Estados Unidos.

A guerra entre Estados Unidos e Espanha (1898) – em torno da independência das colônias da América Central – compromete as importações de farinha, e Matarazzo vê aí uma nova oportunidade. É hora de produzir farinha de trigo no Brasil. Embarca para a Inglaterra e lá compra um moinho de última geração. Nasce assim, em 1900, o Moinho Matarazzo, maior unidade industrial paulista da época. Produzirá 2.500 sacos de 44 quilos por dia. O empresário mantém-se fiel à prática de investir em toda a cadeia produtiva: a partir da oficina de manutenção de máquinas do moinho, abre uma metalúrgica para fabricar latas de embalagem; da seção de sacaria do moinho cria uma tecelagem de algodão, e assim por diante. Em 1911, funda as Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo (IRFM), em forma de sociedade anônima. Lema: Fides, Honor, Labor. Fé, Honra, Trabalho.

Nos anos seguintes, alarga rapidamente seus campos de atuação, construindo um império empresarial sem igual na América Latina: alimentos, tecidos, bebidas, transporte terrestre, navegação de cabotagem e transatlântica, portos, ferrovias, metalurgia, energia, agricultura, bancos, imóveis. Espalha mais de 350 plantas industriais médias e grandes pelo Brasil, empregando mais de 30 mil operários. Sua rede comercial abrange o país inteiro, com ramificações em Buenos Aires, Nova York, Londres e Roma. Em 1914, tenta dar uma pausa no trabalho, que, no entanto, não dura muito.

Vai à Itália para cuidar da saúde, deixando o filho Ermelino à frente do conglomerado. Mas é surpreendido pela entrada de seu país na Primeira Guerra Mundial, em maio de 1915. Matarazzo então se oferece para coordenar o serviço de abastecimento das tropas. Articula a importação de alimentos, fornece farinha brasileira à Itália e à França. Também importa do Brasil 10 mil burros das montanhas de Minas para carregarem no lombo canhões da artilharia italiana de montanha, na guerra contra a Áustria.

Em reconhecimento aos serviços prestados, receberá do rei da Itália, Vittorio Emanuele III (1900-1946), em 1917, o título hereditário de conde. Volta ao Brasil no final de 1919. Mais tarde, entusiasma-se com a Nova Roma do ditador Benito Mussolini, que chega a conhecer pessoalmente. Fará duas significativas doações para o fascismo italiano – em 1926, um milhão de liras para a organização da juventude Opera Nazionale Balilla, e em 1935, dois milhões de liras para o governo italiano, a essa altura boicotado pela Liga das Nações por seu ataque à Etiópia. Mas Matarazzo não é favorável à implantação do modelo fascista no Brasil nem em suas fábricas. Teme o radicalismo político, a agitação, a violência.

Tem muito a perder, inclusive seu ótimo relacionamento com os operários, grande parte vinda da Itália. Paternalista, compreensivo, exemplo de sucesso, é respeitado por todos e ídolo da maioria. Para o historiador Warren Dean (1932-1994), ele se tornou o industrial mais conceituado do país pela maneira como dirigia os negócios e “por ser, em todos os sentidos, um homem extremamente encantador".

Italiani: Francesco Matarazzo, ícone da imigração italiana no Brasil (1)


Se o assunto é imigração italiana em São Paulo, o grande ícone que passaria para a história do Brasil é, sem dúvida, o conde Francesco Matarazzo, figura que ainda hoje desperta o interesse de muitos pesquisadores e historiados. Ronaldo Costa Couto, escritor, doutor em História pela Universidade de Paris-Sorbonne, economista é autor do livro Matarazzo (Planeta do Brasil, 2004), uma completa biografia do imigrante e empresário Francesco. 

Na Revista de História, publicação da Biblioteca Nacional, Costa Couta resume quem foi o conde Matarazzo. “Francesco desembarcou no Brasil disposto a fazer bons negócios. Mas logo recebeu uma péssima notícia: as duas toneladas de banha de porco que trouxera da Itália haviam naufragado a bordo de uma barcaça na Baía de Guanabara. A carga, seu maior investimento para recomeçar a vida no novo país, não tinha seguro. Um prejuízo como esse seria capaz de desanimar qualquer um. Mas ele não era qualquer um. Era Francesco Matarazzo, e se tornaria o maior empreendedor da história do Brasil.

Nascido em 1854 na pequenina Castellabate, região de Nápoles, aos 19 anos teve que interromper os estudos para assumir os negócios agropecuários e comerciais da família devido à morte precoce do pai, o médico Costabile Matarazzo.

A família enfrentaria tempos difíceis. Recém-unificada, a Itália sofria os efeitos da crise econômica europeia, especialmente em sua região sul. A ideia de emigrar amadureceria aos poucos. Tinha boas referências do Brasil, país grande, quase inexplorado, de vasto potencial e muitas oportunidades. Em visita aos Matarazzo, o amigo Francisco Grandino, radicado em Sorocaba, interior paulista, trazia notícias animadoras. O Brasil era o lugar ideal para “fazer a América”. Em 1881, com a ajuda da mãe, Mariangela, e de toda a família, o mais velho de nove irmãos cruzou o Atlântico com o objetivo inicial de tornar-se comerciante de secos e molhados.

Chegou com a mulher, Filomena, um filho de três anos e outro de colo.

A custosa carga de banha de porco fora escolhida por ser um produto essencial, que o Brasil importava dos Estados Unidos. Mas estava perdida. E agora, Francesco? Não é doutor, não conhece o país, não fala a língua. Segue para Sorocaba a fim de se encontrar com o amigo Grandino, estabelecido como pequeno comerciante, mas de muito prestígio na nascente colônia italiana. Simpático e trabalhador, Matarazzo é bem acolhido por todos.

Resta-lhe um milhar de liras, quantia apenas razoável, que usa na compra de quatro mulas e alguma mercadoria. Aventura-se como tropeiro comercial, zanzando pelas fazendas da região, tudo vendendo e tudo comprando. Em meados de 1882, abre modesto armazém de secos e molhados em Sorocaba. Comercialização de farinha de trigo, sal, fubá, arroz, feijão e outros alimentos. Especialmente banha de porco. 'Abri um botequim, ou venda, como se diz aqui no Brasil. Eu lhe faço notar que não tive jamais, nem procurei ter, o que se chama patrão', escreve a um amigo.

A estratégia rende rápidos lucros. Não demora a instalar pequenas fábricas de banha de alta qualidade na região, já com o apoio dos irmãos Andrea, o principal parceiro, Giuseppe e Luigi. Depois virão também Nicola e Costabile. Como a industrialização brasileira era incipiente, tenta produzir quase tudo de que precisa: fabrica não só a banha, mas as latas, as embalagens para acomodá-las, e assim por diante. Essa engenhosa verti¬calização leva o grupo a atuar em cadeias completas de insumo-produto: das matérias-primas ao produto acabado, transporte e comercialização final”.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

História 56 - "Far l 'America (24 ): agenciamento na Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo


O site do Instituto de Estudos Brasileiros (artigo Como São Paulo Hospedava seus imigrantes no início da República , de autoria de Arlinda Rocha Nogueira) mostra que além de abrigar e alimentar o estrangeiro que chegava ao Brasil, amplo espaço, a Hospedaria dos Imigrantes desempenhou um outro papel.

 

 

 

História 55 - "Far l 'America (23 ): alimentação na Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo

No relato do que era a Hospedaria dos Imigrantes o site do Instituto de Estudos Brasileiros (artigo Como São Paulo Hospedava seus imigrantes no início da República , de autoria de Arlinda Rocha Nogueira) amplo espaço é dedicado à questão da alimentação.

A seguir trechos desse documento (na foto: refeitório da Hospedaria).


História 54 - "Far l 'America (22 ): como funcionava a Hospedaria dos Imigrantes na cidade de São Paulo

Um relato do que era a Hospedaria dos Imigrantes está disponível na internet, no site do Instituto de Estudos Brasileiros, artigo intitulado Como São Paulo Hospedava seus imigrantes no início da República , de autoria de Arlinda Rocha Nogueira. A seguir trechos desse documento.


 


 



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

História 53 - "Far l 'America (21 ): Hospedaria dos Imigrantes, o marco zero da grande epopéia dos italianos na cidade de São Paulo


"A Hospedaria de Imigrantes, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante (Rua Visconde de Paranaíba, 1316, bairro da Mooca - São Paulo), era um enorme conjunto de prédios destinado a abrigar os recém–chegados nos seus primeiros dias em São Paulo. Após a cansativa viagem, os imigrantes ficavam na Hospedaria por até oito dias. Em geral esse prazo era suficiente para que acertassem os seus contratos de trabalho.

Nesse período utilizavam gratuitamente todos os serviços disponíveis. Lá eles dormiam, faziam as suas refeições, recebiam atendimento médico e conseguiam seus empregos. Ao longo da sua existência, a Hospedaria passou por algumas reformas que desfiguraram seu o aspecto original. A principal delas ocorreu na década de 1930, quando a fachada do edifício principal assumiu feições neoclássicas. A princípio, as péssimas condições da hospedaria situada no bairro do Bom Retiro e o crescimento do fluxo imigratório, levaram a Assembléia Provincial, em 1885, a votar lei (n. 56, de 21 de março) autorizando o governo a construir um prédio para o alojamento de imigrantes. Assumindo o governo da então província de São Paulo, Antonio Queiroz Telles, na época Barão de Parnaíba, escolhe um terreno nas imediações das Estradas de Ferro do Norte e da São Paulo Railway. Em julho de 1886, deu-se início à construção da Hospedaria de Imigrantes do Brás (geogarficamente hoje posicionada no bairro da Mooca).

O prédio foi construído em forma de "E", com projeto arquitetônico de Antonio Martins Haussler, tendo capacidade para comportar mais de mil imigrantes. A fachada do prédio, de arquitetura eclética (construção que mistura estilos arquitetônicos e decorativos diversos), tem traços predominantes da arquitetura neoclássica (construções à moda das construções em estilo clássico romano e grego).

Os traços do estilo neoclássico aparecem no emprego dos seguintes elementos, os mais evidentes: - os arcos romanos - arcadas romanas - as colunas - frontão encimando a fachada - cornijas (molduras que formam saliências na parte superior de parede, porta) - parede com saliência com feitio de almofada - O uso do ferro fundido nos parapeitos do corredor no fundo do prédio central e em estrutura ornamentada, como na estação do - ramal ferroviário da Hospedaria, caracteriza esta mistura de estilos, própria do Ecletismo". (Fonte Memorial do Imigrante )

História 52 - "Far l'America (20)": a imigração nos centros urbanos

Outro destino dos imigrantes italianos foram as cidades. Esse trema foi, de forma resumida, abordado no site que o IBGE preparou em 2000 para comemorar os 500 anos do Descobrimento do Brasil. A partir dele, este blog entra também na urbanidade da imigração italiana em território brasileiro.

Dentre as cidades-destino, “destacam-se São Paulo, que recebeu o maior contingente desta nacionalidade, e o Rio de Janeiro com seus arredores, por ser a capital do país e um dos portos mais importantes de chegada de imigrantes. Em São Paulo, que chegou a ser identificada como uma "cidade italiana" no início do século XX, os italianos se ocuparam principalmente na indústria nascente e nas atividades de serviços urbanos. Chegaram a representar 90% dos 50.000 trabalhadores ocupados nas fábricas paulistas, em 1901. No Rio de Janeiro (imagem mostrando a chegada), rivalizaram com portugueses, espanhóis e brasileiros. Em ambas as cidades os imigrantes italianos experimentaram condições de vida e de trabalho tão árduas quanto as encontradas no campo".

Trabalho e inserção na vida urbana 
 
Como operário industrial, o imigrante recebia baixos salários, cumpria longas jornadas de trabalho e não possuía qualquer tipo de proteção contra acidentes e doenças. Assim como no campo, era muito comum que todos na família tivessem que trabalhar, inclusive mulheres - muito usadas nas fábricas de tecidos e indústrias de vestuário - e crianças, mesmo menores de 12 anos.

Na condição de operários, era muito difícil ao imigrante melhorar de vida, financeira e socialmente. Portanto, não era raro que italianos e estrangeiros em geral desejassem trabalhar por conta própria, realizando serviços e trabalhos típicamente urbanos nas maiores cidades brasileiras. Eram os mascates, artesãos e pequenos comerciantes; motorneiros de bonde e motoristas de taxi; vendedores de frutas e verduras, tanto como ambulantes, como em mercados; garçons em restaurantes, bares e cafés; engraxates, vendedores de bilhetes de loteria e jornaleiros. Entre os imigrantes bem sucedidos que começaram "do nada", o exemplo é o do Conde Matarazzo.

Participação política

Os imigrantes italianos se envolviam em movimentos grevistas e participavam de associações, ligas e sindicatos, geralmente de orientação socialista e anarquista. Mas é um equívoco considerar que eram os estrangeiros que inculcavam as idéias "exóticas" entre os trabalhadores nacionais, apregoados como "pacíficos" e "despolitizados". Na verdade, trabalhadores estrangeiros - dentre os quais italianos -, e trabalhadores brasileiros participaram da formação de associações operárias, compuseram suas lideranças, fizeram greves e se viram reprimidos e presos pela polícia

Moradia

Se as condições de trabalho eram insalubres, também o eram as de moradia, já que com frequência os imigrantes se instalavam em habitações coletivas - os cortiços nas "favelas", situadas nos morros. Por outro lado, em algumas cidades, podiam morar em determinados bairros étnicos - como o Brás e o Bexiga, em São Paulo - onde contavam com a cooperação e solidariedade dos vizinhos, o que em muito aliviam suas lides cotidianas".