quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Oriundi (Medicina) - Os corações e alma Euryclides de Jesus Zerbini


Vinte e seis de maio de 1968. O cirurgião brasileiro Euryclides Zerbini e sua equipe realizam o primeiro transplante cardíaco da América Latina. Poucos meses antes, o Dr. Christian Barnard havia realizado, na África do Sul, a primeira experiência do tipo em todo o mundo. Zerbini era um oriundo, filho caçula de Eugênio Zerbini, imigrante italiano apaixonado pela cultura clássica.

Nascido em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, no dia 10 de maio de 1912, formou-se em Medicina em 1935, especialista em cirurgia geral. Formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1935), trabalhou inicialmente com Alípio Correia Neto, especializando-se em cirurgia torácica e foi nomeado professor da Universidade de São Paulo (1936), quando tinha apenas 24 anos, com uma brilhante tese sobre os efeitos da vitamina C na cicatrização das feridas.


 
Seis anos depois (1942) entrou no pronto-socorro um garoto de sete anos com um estilhaço de ferro dentro do peito, e ele não hesitou: abriu o coração do menino e religou sua artéria coronária, salvando a vida do futuro mecânico Disnei Zanolini. Este grande feito médico estimulou o notável cirurgião a seguir para os Estados Unidos e fazer uma especialização de seis meses de estudos em cirurgia torácica (1944). De volta ao Brasil, tornou-se diretor do pronto-socorro dos Hospital das Clínicas de São Paulo e cirurgião do Instituto de Cardiologia, onde organizou uma equipe de especialistas em cirurgia cardíaca (1947). Casou-se (1949) com Dirce da Costa Zerbini, sua ex-aluna de Clínica Cirúrgica e médica diplomada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1948) que, dedicada à pesquisa, desenvolveu o primeiro circuito para circulação extracorpórea no Brasil (1958), idealizou as primeiras máquinas de perfusão na oficina experimental do Hospital das Clínicas, em São Paulo e tornou-se responsável pela perfusão da equipe cirúrgica do marido e sua principal colaboradora.
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O grande cirurgião idealizou o Centro de Ensino de Cirurgia Cardíaca (1950), embrião do futuro Instituto do Coração. Realizou o primeiro transplante de um coração humano em um paciente terminal de 23 anos (26/05/1968), João Ferreira da Cunha, conhecido como João Boiadeiro, que teve uma sobrevida de apenas 28 dias, morrendo em decorrência da rejeição. Os transplantes cardíacos seriam suspensos (1969) até serem retomados (1980) graças à descoberta da ciclosporina, droga capaz de evitar que o organismo do paciente rejeitasse o órgão transplantado. Ainda realizaria outros 11 transplantes e fundou o Instituto do Coração, o Incor (1975), que se tornaria um dos mais conceituados estabelecimentos hospitalares do país.

Um duro golpe emocional (1977) o levaria ainda mais a se entregar a sua atividade profissional:o único dos três filhos que resolveu seguir a carreira de médico morreu em um acidente automobilístico, seis dias após a formatura. Aposentado como professor da Universidade de São Paulo (1982), prosseguiu operando e aos 73 anos de idade, voltou a ser pioneiro ao realizar o primeiro transplante de coração num paciente portador do mal de Chagas (1985).

Em seus 58 anos de profissão, durante os quais fez, pessoalmente ou através de sua equipe, mais de quarenta mil cirurgias, recebeu 125 títulos honoríficos e inúmeras homenagens de governos de todo o mundo, participou de 314 congressos médicos. Trabalhou até o fim de sua vida, operando e realizando palestras e conferências, e morreu a 23 de outubro (1993), aos 81 anos, em plena atividade, em São Paulo, vítima de câncer de pele ou melanoma metastático

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

História 21 - Italianos na Revolução Farroupilha: a participação de Luigi Rossetti



Outro revolucionário que tinha na intelectualidade seu lado mais forte era o genovese Luigi Rossetti , que não tardou a se engajar na atividade jornalística, sendo nomeado redator-chefe do jornal O Povo, que expressava a ideologia dos farrapos. No primeiro número, publicado em 1838, o jornal identifica seus princípios reproduzindo, em português o conteúdo de um folheto mazziniano, que circulava pela Itália e outros países europeus.

Um trecho desse manifesto acabaria sendo incorporado ao cabeçalho do jornal farrapo: “O poder que dirige a revolução tem que preparar os ânimos dos cidadãos aos sentimentos de fraternidade, de modéstia, de igualdade,e desinteressado e ardente amor da Pátria”.


História 20 - Italianos na Revolução Farroupilha: a participação de Tito Livio Zambeccari


De origem nobre, Tito Livio Zambeccari nasceu em Bologna em 1862. Depois de ter participado de fracassada revolta pela libertação da Itália, em 1821, fugiria para Europa, e , posteriormente, para o Uruguai, sacudido pela Guerra da Cisplatina. De lá, seguiria para o Brasil, desembarcando em Porto Alegre em 1831, logo engajando-se nos círculos liberais, onde conheceria Bento Gonçalves, futuro líder da Revolução Farroupilha.
 Dotado de vasta cultura, de caráter firme e sincero, Zambeccari começou a ser admirado pelos gaúchos, conquistando, definitivamente a amizade de Bento Gonçalves.


Sua participação na Revolução Farroupilha foi bastante ativa. Ao lado dos líderes rebeldes, Zambeccari elaboraria os planos para a deflagração do movimento, cuja bandeira também idealizaria. A ele, ainda, são creditados muitos dos manifestos oficiais emitidos pelos farrapos ao longo da Revolução. Na batalha da ilha de Fanfa, em outubro de 1836, as forças legalistas levaram vantagem, capturando Zambeccari e Bento Gonçalves. Mesmo preso, o italiano mostrou-se um grande ativista e não parava de conspirar. No cárcere continuou escrevendo artigos e recebeu a visita de Garibaldi e Rossetti, o que determinaria a adesão de ambos ao movimento gaúcho. Em dezembro de 1839, sua prisão seria convertida em desterro, o que lhe obriga a deixar o Brasil. De volta à Itália lutaria pela libertação do país ao lado de Mazzini e Garibaldi, falecendo em sua terra natal em 1862.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

História 19 - Italianos na Revolução Farroupilha: o contexto da guerra


Iniciada em 1835, a Revolução Farroupilha defendia o autonomismo do Rio Grande do Sul, uma região controlada por ricos estancieiros, proprietários de grandes faixas de terra e de gado. Além do poder econômico, essa classe dominante possuía também, o poder das armas:expostas aos constante conflitos na região fronteiriça, a elite gaúcha havia construído, ao longo de décadas, um considerável aparato militar.

A anexação do Uruguai ao Brasil, com o nome de Província Cisplatina, em 1821, seria saudada com muito entusiasmo pelos estancieiros gaúchos, que tinham, agora, a oportunidade de usufruir, sem maiores dificuldades, dos campos uruguaios, ampliando, assim, a área de pastagem. Depois de alimentado, o gado era trazido de volta ao Brasil, para ser abatido.


Porém, essa atividade sofreria um primeiro grande golpe quando, no reinado de Pedro I, os uruguaios conseguiram a independência (1827-1828) e passaram a cobrar altas taxas sobre o transporte dos animais pela fronteira. A taxação acabaria incentivando a passagem clandestina do gado gaúcho para as pastagens uruguaias, algo que contava com a colaboração dos comandantes brasileiros na região fronteiriça: Bento Gonçalves e Bento Manuel, ambos também proprietários de terra e de cabeças de gado.

O segundo golpe – e estopim da insurreição - recebido pela elite gaúcha foi a decisão do governo brasileiro de criar um imposto territorial, que atingiria em cheio os estanceiros do sul, já descontentes com a política tributária vigente, que lhes subtraíam divisas, sem o correspondente retorno em investimentos oficiais. Além disso, os dois comandantes da fronteira foram destituídos de seus postos, o que, evidentemente, levou a elite local à ira. Os primeiros combates aconteceriam em setembro de 1835, quando os revoltosos invadiram Porto Alegre, destituindo o presidente da Província do Rio Grande, Fernandes Braga.

Num primeiro momento, a liderança do movimento rebelde procurou, por meio de comunicados oficiais enviados o governo regencial do padre Feijó, firmar a seguinte posição: respeito à monarquia constitucional e nomeação, por parte do governo imperial, de um presidente provincial que merecesse a confiança dos gaúchos, não mais dispostos a submeterem-se a governantes considerados despóticos. Caso isso não fosse levado em consideração, a luta aramada prosseguiria, tendo como objetivo a formação de um Estado Republicano independente. Feijó, por sua vez, não se intimidaria e usaria da força para debelar a rebelião.

O resultado foi o acirramento do conflito, com vitórias e derrotas de ambos os lados. Em setembro de 1836, mesmo sem controlar Porto Alegre, recuperada pelas tropas legalistas, o comando farrapo acabaria decretando a independência do Rio Grande do Sul, que passava a ser considerada uma Nação independente, com o nome de República Rio-Grandense, o que nunca foi reconhecido pelo governo imperial. Quando em julho de 1840 era declarada a maioridade de Pedro II, (que então contava com apenas 14 anos), a Revolução Farroupilha caminha para o quinto ano de lutas e mortes.

Apesar das várias tentativas para a assinatura de um acordo que pusesse fim aos conflitos, a guerra civil prosseguia. O panorama, no entanto, começaria a mudar a partir de 1842, quando tropas comandadas por Luís Alves de Lima e Silva, o então Barão de Caxias, chegam ao Rio Grande do Sul, com o firme propósito de liquidar com o movimento rebelde. Várias outras batalhas aconteceriam até que se chegasse os termos da paz, algo que viria acontecer em fevereiro de 1845, com a Província do Rio Grande pacificada e reintegrada, plenamente, ao Império do Brasil.

História 18 - Italianos na Revolução Farroupilha: os fanáticos pelo cosmopolitismo


No sangrento cenário da mais longa revolta civil verificada no Brasil imperial, a Revolução Farroupilha (1835-1845), a presença italiana vai desde a propagação das idéias libertárias de Giuseppe Mazzini, um dos artífices do Risorgimento – o movimento que levou à Unificação da Itália – até a ação de valentes revolucionários, que lutaram lado a lado com os gaúchos pela independência do Rio Grande do Sul. A maioria desses combatentes italianos tem passado por nós praticamente anônima. Outros, no entanto, inseriram, definitivamente, seus nomes na historiografia brasileira e italiana: Giuseppe Garibaldi, Tito Livio Zambeccari, Luigi Rossetti, Giambattista Cuneo, entre outros. É deles, famosos e anônimos, que Assis Brasil, em sua História da República Riograndense (1882), assim falava. “...Levado por esse sentimento quase fanático de cosmopolitismo, que foi tão comum aos homens daquela época, e que também dominou Garibaldi, Rossetti, e tantos outros estrangeiros que serviram à República Riograndense, Zambeccari fez-se amar de todos os patriotas do Rio Grande, e pode ser considerado o seu verdadeiro real diretor mental”.

História 17 - Teresa Cristina, princesa em Nápoles e imperatriz no Brasil


No Brasil, a história da grande imigração italiana no século XIX, tem seu cordão umbilical preso ao Segundo Reinado. Em 1840, o período regencial – iniciado em abril de 1831 após a abdicação de D.Pedro I -, entrava em sua etapa final, com o crescimento da oposição liberal, favorável á coroação de Pedro II, mesmo antes que se completasse a maioridade (18 anos) do herdeiro dos Bragança.

Em novembro daquele ano, sem ter como conter o avanço liberal, os conservadores são, finalmente, derrotados quando a Assembléia Geral Legislativa do Brasil, declarava a maioridade de D. Pedro II. Depois da coroação do jovem monarca em 1841, a diplomacia brasileira redobrava os esforços na tentativa de encontrar uma esposa para o imperador, de preferência da família real austríaca, os Habsburgo. No livro As Barbas do Imperador, Lilia Moriztz Schwarcz, afirma que a missão “não era fácil, já que D.Pedro, imperador de um território distante e desconhecido, era considerado, além do mais, pobre.” A solução encontrada foi negociar com o rei de Nápoles, Fernando II, um Bourbon sem grandes fortunas, já que uma de suas filhas, Teresa Cristina Maria, tinha uma avó do ramo dos Habsburgo. Acertado o valor do dote, o casamento seria realizado na corte napolitana, por procuração, em julho de 1843.

Em seguida, a jovem imperatriz brasileira, de apenas 20 anos de idade, embarcaria rumo ao Rio de Janeiro, onde conheceria o seu marido em setembro daquele ano. Ainda segundo Lilia Moriztz Schwarcz, “malgrado as informações que lhe haviam chegado sobre as virtudes da imperatriz, d.Pedro só pôde notar-lhe os defeitos: Teresa Cristina era baixa, gorda, e além de tudo coxa e feia. A decepção estampou-se no rosto do jovem monarca, que, dizem, chorou nos braços da condessa de Belmonte".



O casal viria a ter quatro filhos, dois meninos que logo morreriam, e duas meninas, as princesas Isabel e Leopoldina. Teresa Cristina, ao longo de sua vida ao lado de D.Pedro II, sempre procurou ficar ao lado do marido, seja viajando com ele diversas vezes para a Europa, seja acompanhando e apoiando o mecenato do monarca em favor das artes, em particular a música.



Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, a família real era expulsa do Brasil e voltava para Portugal. Teresa Cristina morreria pouco tempo depois, em 28 de dezembro daquele mesmo ano, vítima de problemas cardíacos. Tinha 67 anos, dos quais 47 foram vividos em solo brasileiro.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Oriundi (Arquitetura) –As marcas de Rino Levi


Filho de imigrantes italianos, o paulistano Rino Levi (1901 – 1965) é escreveu páginas importantes na história da arquitetura nacional. Sua formação, enquanto profissional está ligada à Itália. Em 1921 ingressa na Escola Preparatória e de Aplicação para os Arquitetos Civis em Milão, Itália, em 1921. Três anos mais tarde passa a freqüentar a a Escola Superior de Arquitetura de Roma. De volta ao Brasil, sua carreira passa pela construção de pequenas residências e conjuntos de casa de aluguel para pessoas da comunidade italiana paulista.
Seus primeiros projetos modernos foram realizados entre 1929 - quando visitou a residência modernista de Gregori Warchavchik e ficou bastante impressionado - e 1930.


São desse período o conjunto de casas Previdelli e o estudo para o Edifício Columbus, de fevereiro de 1930, na Avenida Brigadeiro Luis Antônio (primeiro condomínio de apartamentos da metrópole, demolido em 1971). Outras obras de vulto foram o cinema UFA-Palace, na Avenida São João, a Residência Médici, em Santo Amaro, e o Edifício Sarti, na Praça da República.




Estes edifícios paulistanos racionalistas, apresentam volumes simples, com estrutura evidenciada. O projeto do Cine Ufa-Palácio, pelos princípios de acústica aplicados, lhe rendeu diversos outros projetos de cinemas: Cine Universo (1936), o Cine Art-Palácio de Recife (1937) o Cine Ipiranga (1941) e o Teatro Cultura Artística (1942). Seus projetos são, na ocasião, publicados na Revista Politécnica e nas revistas Architettura (Itália) e Architecture d'Aujourd'Hui (França). São Paulo tem outras importantes obras de Rino Levi, como o Teatro Cultura Artística, no bairro da Consolação, em São Paulo (1942), o edifico sede da Fiesp na Avenida Paulista, e o Hospital Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (1958). Em Santo André, no ABC paulista, Levi projetaria seu último edifício, o Centro Cívico em 1965.