sábado, 18 de dezembro de 2010

História (225) – Imigração trentina e o papel da Igreja (2)

O trabalho “Igreja e italianidade: Rio Grande do Sul (1875-1945)”, produzido por Paulo César Possamai (DH/FFLCH/USP ), dá destaque ao clero italiano que acompanhou a imigração trentina no brasil.



A presença de um sacerdote entre os imigrantes dava-lhes um sentimento de segurança e de bênção ao movimento emigratório, aumentando a identificação entre o campesinato e o baixo clero. Contudo, o mesmo sentimento não se repetia com relação ao alto clero, que identificava-se com as classes dominantes. Quando o bispo de Crema, na província de Cremona, pediu aos presentes à missa que pensassem seriamente sobre a decisão de emigrar, exortando os fiéis a não desesperarem-se, um após outro, os camponeses abandonaram a igreja de Cascine Gandine, deixando o bispo só. Para esses camponeses, seduzidos pelo sonho de fare l'America, o bispo estava a serviço dos patrões (VILLA, 1993, p. 81). 

Entre os agentes de emigração encontrava-se um padre, que da central de recrutamento no Canal do Brenta, próximo a Bassano, havia enviado ao Brasil, em 1877, mais de dois mil camponeses vênetos. A maioria deles seguiu com destino ao Paraná (VILLA, 1993, p. 75). A escolha de um sacerdote para o cargo de agente de imigração certamente tinha como objetivo aproveitar a confiança que os camponeses depositavam no clero, sentindo-se assim, mais seguros para tomar a difícil decisão de emigrar para um país estranho'.

História (224) – Imigração trentina e o papel da Igreja (1)



O êxodo de trentinos rumo ao Brasil tem ligação direta com a ação de padres italianos, conforme mostra o trabalho ““Igreja e italianidade: Rio Grande do Sul (1875-1945)”, produzido por Paulo César Possamai (DH/FFLCH/USP ).

"Embora as causas que originaram o fenômeno da emigração em massa na Itália da segunda metade do século XIX estejam principalmente ligadas a fatores econômicos, também é muito importante salientar a influência que a luta entre o Estado e a Igreja Católica tiveram na decisão de emigrar de muitos camponeses, fortemente marcados pelo conservadorismo e pelo espírito clerical.

A maioria dos imigrantes italianos que se instalou no Rio Grande do Sul, a partir de 1875, provinha das regiões italianas do Vêneto, Lombardia e Friuli e ainda do Trentino onde, pelo fato de pertencer aos domínios da Casa de Habsburgo, apesar da maioria da população ser étnica e culturalmente italiana, o movimento emigratório assumiu características próprias com relação à emigração italiana propriamente dita.

Do século XI até 1805, quando foi cedido à Baviera por Napoleão, Trento foi uma cidade-livre do Sacro Império Romano-Germânico, governada por príncipes-bispos. A maioria da população trentina era composta de camponeses (cerca de 90% da população total), cujo caráter pragmático se preocupava mais com a cobrança das taxas e impostos e com o número de soldados requisitados pelo governo do que com a nacionalidade dos governantes. 

Por isso uma das raras rebeliões ocorridas no Trentino aconteceu em 1809, quando o governo bávaro tentou impor a conscrição obrigatória à toda a população masculina da região. A revolta logo recebeu o apoio da Áustria, que ambicionava anexar a província rebelde. A situação foi controlada por Napoleão, que, através do Tratado de Paris, de 1810, transferiu o domínio político do Trentino, da Baviera para o reino napoleônico da Itália.

Com a derrota de Napoleão, a Áustria ocupou a região em 07 de abril de 1815, data marcada pela visita do imperador Francisco I a Trento. Em 1816, o principado de Trento foi anexado à província austríaca do Tirol, passando desde então a chamar-se oficialmente "Tirol Meridional", numa clara tentativa de assimilação, já que o Tirol é uma região caracteristicamente germânica. Naturalmente, essa atitude do governo austríaco provocou descontentamento na população que, em 1848, enviou a Viena um abaixoassinado pedindo autonomia administrativa para o Trentino. 

O governo austríaco não só ignorou o pedido como, em 1854, proibiu o uso do nome "Trentino" que, a partir de então deveria ser substituído por "Tirol Meridional" ou "Tirol Italiano" (GROSSELLI, 1986, p. 22-28).

Contudo, a luta nacionalista pela unificação do Trentino à Itália era uma preocupação marcadamente burguesa e citadina, já que os camponeses não engajaram-se na luta. O conservadorismo e o clericalismo eram as bases da sociedade trentina, majoritariamente camponesa, por isso a ocupação de Roma em 1870 significou a falta de apoio popular à unificação com a Itália, acusada de usurpar os domínios temporais do Papa. 

O jornal católico "Voce Cattolica" assim definiu o liberalismo em 16.09.1870: "Il liberalismo, come vedemmo, altro non è in sostanza che la ribellione sistematizzata a Dio Creatore e Redentore nell'ordine naturale e soprannaturale; altro non vuole, che la scristianizzazione dell'individuo, della famiglia e della società, e la distruzione della Chiesa Cattolica" (apud GROSSELLI, 1986, p. 33). 

Essa posição anti-liberal do clero e, por sua influência, da maior parte da população do Trentino, marcou os imigrantes trentinos no Brasil, onde faziam questão de diferenciar-se dos "italianos" como "tiroleses", não tanto por nacionalismo austríaco ou fidelidade à Casa d'Áustria mas, sim por não pertencer a um país condenado pela Igreja pelo seu liberalismo anti-clerical. De fato, a Igreja Católica foi para o campesinato trentino, como também para o italiano, o que o Estado nacional foi para a burguesia emergente e o que foram os sindicatos e os partidos políticos para o proletariado urbano. Na Igreja se formavam os quadros dirigentes do campesinato, para o qual o padre não era somente um sacerdote, mas também um líder intelectual.

A moral camponesa era a moral católica e a verdadeira autoridade reconhecida por essa grande parcela da população era o clero (GROSSELLI, 1986, p. 142).
A emigração em massa não se explica, pois, somente pela fuga à pobreza e, por vezes, à miséria em que viviam os camponeses italianos e trentinos. Sob a liderança do clero, os emigrantes buscavam reconstruir na América uma sociedade que passava por profundas transformações na Europa em conseqüência do avanço das idéias liberais e socialistas, da urbanização crescente, da industrialização e do militarismo (GROSSELLI, 1986, p. 145-154). A fim de fugir da nova ordem, uma parte do clero acalentou o ideal de reconstruir no Novo Mundo uma sociedade camponesa e clerical. Um sacerdote da província italiana de Treviso chegou a afirmar "que estando a religião em decadência na Itália, justificava-se emigrar para a América a fim de aí estabelecer-se uma colônia piedosa" (DORE, apud AZEVEDO, 1975, p. 63).
A emigração em busca de trabalho em países vizinhos já era tradicional entre os habitantes do norte da Itália e do Trentino, porém, com a chegada dos agentes de imigração às aldeias italianas retratando os países americanos como um verdadeiro Éden, surgiu uma verdadeira "febre americana" entre os camponeses italianos. A emigração desse período não foi um fenômeno individual, mas de grupo, e, se esse verdadeiro êxodo se desenvolveu num clima relativamente pacífico, isso foi devido à influência do clero, que procurou evitar o surgimento de tensões entre as classes sociais no momento da partida, que, por vezes se assemelhava a uma grande procissão, quando os emigrantes seguiam o caminho para o porto de embarque acompanhados pelo som dos sinos, precedidos por um cruz ou o estandarte de um santo (VILLA, 1986, p. 75-76). 

Nesses grupos de emigrantes partia tanta gente que, por vezes, a inteira população de uma aldeia decidia emigrar em conjunto, situação dramática que levou muitos párocos a aderir e mesmo liderar o movimento emigratório. Entre os padres que acompanharam grupos de emigrantes encontramos o padre trentino Bartolomeu Tiecher que, em 1875, partiu rumo ao Brasil na companhia de um grupo de 208 imigrantes italianos e 392 trentinos, entre os quais se encontravam seus pais e irmãos. Chegando ao Rio Grande do Sul, o padre Tiecher foi nomeado pelo governo imperial capelão da Colônia de Santa Maria da Soledade do Farromeco. Em 1886 tornou-se vigário da recém-criada paróquia de Garibaldi (RUBERT, 1977, p. 47-50). 

O padre Domenico Munari, pároco de Fastro, diocese de Pádua, ofereceu-se para emigrar junto com seus paroquianos e, em 1876, partiu com um grupo de 275 imigrantes italianos que embarcaram em Bordéus, na França, rumo ao Brasil. Apesar do navio em que viajavam ter naufragado próximo a La Rochelle, ele e seu grupo retomaram a viagem ao Rio Grande do Sul, onde Munari estabeleceu-se como o primeiro pároco de Bento Gonçalves (RUBERT, 1977, p. 51-53)”.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

História (224) - Contrastes Norte-Sul na imigração italiana em Pedrinhas


O artigo “Por uma etnografia feminista das migrações internacionais: dos estudos de aculturação para os estudos de gênero” ,  de autoria de Ethel V. Kosminsky ( Universidade Estadual Paulista, campus de Marília) toma como referência  o livro Italianos no mundo rural paulista), de João Baptista Borges Pereira. O professor da USP, nos anos 60 realizou pesquisa na cidade de Pedrinhas, interior de São Paulo. Num dos capítulos dessa importante obra, Borges Pereira mostra que havia diferenças entre as mulher italiana meridional e a mulher italiana vinda do Norte.


“ Após distinguir a mulher proveniente do sul e aquela originária do norte da Itália, em diferentes situações observadas, Borges Pereira afirma que a mulher do norte, em situações públicas,
‘é pouco resguardada de contatos com indivíduos de outro sexo. Vendo-a em situações públicas, não se tem a impressão de que ela esteja sob o controle do marido. Traja-se mais dentro da "moda", e a passagem da situação de solteira para a de casada não altera neste ponto o seu comportamento. As mudanças são determinadas, em tais aspectos exteriores, apenas pela idade que distingue a anciã da jovem mulher casada. Dentro de casa, a situação se altera; desaparece a mulher relativamente comunicativa e surge a mulher silenciosa. Hospeda o visitante com polidez, porém com certa frieza. Seu marido é o seu porta-voz, ao atender o visitante e ao responder às perguntas que lhe são formuladas, mesmo as de caráter doméstico. Raramente ela participa do assunto, embora esteja no mesmo recinto da reunião. Em geral, ela fica distante dos interlocutores, a um canto da sala, silenciosa, mas ouvindo toda a conversação. A confiar, porém, nos informantes masculinos, todo esse alheamento é apenas aparente e superficial, ditado por padrões de etiqueta, que de forma alguma a colocam à margem dos assuntos mais importantes da família. Para usar a expressão de um informante, a "hora da mulher falar é no travesseiro". À noite, a sós com o marido, ela dá a sua opinião, e desta forma dirige os rumos dos acontecimentos. À luz do dia – para usar uma comparação cômoda – o chefe transmite, como sendo dele, a opinião expedida pela esposa, que o grupo aceita como tendo partido do capo. Os filhos já conhecem a influência de bastidores da mulher subreptícia, por isso toda a técnica de aproximação do pai começa pela aproximação da mãe, sem, porém, colocar em dúvida a autoridade paterna’
Sobre a mulher do sul relata o pesquisador que,
‘quando sai à rua, está sempre sob a vigilância ostensiva do marido, exibindo ar de tristeza, que a roupa preta acentua. Quando o esposo está a seu lado, ela demonstra muita vivacidade, conversa com desenvoltura com os homens que lhe dirigem a palavra, toma a iniciativa das compras; quando longe do marido, ela fica cabisbaixa e silenciosa, evitando inclusive o olhar de outros homens. Esta mulher passa por extraordinária metamorfose quando substitui a rua pelo lar. Nos domínios domésticos, nada resta da mulher submissa e inibida. Em seu lugar, surge a "rainha da casa" – para usar a expressão predileta com a qual os italianos costumam designar a mulher em seu imperialismo doméstico. Exuberante nos gestos e no falar, quase sempre risonha, nega em tudo aquela tristeza pública. Vai porém, rapidamente, de um tema alegre para um assunto triste, e acompanhando a transição do tema, todo o seu semblante e seus gestos e sua voz se alteram, compondo a máscara de uma representação cênica. Loquaz, desinibida e desenvolta em casa quer na ausência ou na presença do marido, hospitaleira sem formalismo, ela toma sempre a iniciativa da conversa, colocando marido e filhos em segundo plano. Estes, quando falam, estão sempre reticentes, à espera da aprovação da "rainha", que se faz entender pelo simples olha’ ”.(Fonte: Ethel V. Kosminsky Universidade Estadual Paulista, campus de Marília - in www.scielo.com.br )

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

História (223) - Imigração italiana após a Segunda Guerra Mundial: a colônia de Pedrinhas( 2)

"Entre 1949 e 1950, o Economic Cooperation Administration (ECA), "pelo seu programa de assistência técnica ao exterior, consignou a importância de 1.300.000 dólares para auxiliar a iniciativa italiana ligada ao fomento da emigração agrícola". Órgãos do governo italiano delegaram ao Instituto Nazionale di Credito per il Lavoro Italiano all'Estero (ICLE) a criação de um programa para a utilização dessa quantia. Esse programa contou com o apoio do Instituto Agronômico per A.I. (Instituto Agronômico para a África Italiana). O fracasso da África Italiana, da época de Mussolini, renovou o interesse pela América do Sul, que datava do período da chamada migração em massa (1880-1930, aproximadamente). A primeira missão de reconhecimento chegou ao Brasil em 1949, e a segunda, em 1950, incluiu, além do Brasil, outros países da América do Sul. Após levantamentos realizados no estado de São Paulo, decidiu-se pela instalação de uma colônia na região da Alta Sorocabana. 
 
A escolha recaiu sobre uma gleba de terras –Pedrinhas – de 3.565 ha., localizada na bacia do Rio Paranapanema, na direção sudoeste do planalto paulista. Desbravada na altura de 1922, esta área, constituída em 1950 de catorze propriedades, entre fazendas e sítios, [...] [situava-se] a apenas 50 quilômetros da cidade de Assis.

A compra de terras e a execução do plano de colonização foram realizadas pela Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana, empresa constituída no Rio de Janeiro, como sociedade anônima, em 28 de setembro de 1950, com o fim de 'promover a imigração e colonização italiana no Brasil'. [...] esta instituição surgia como produto também da Segunda Guerra Mundial, compondo assim o elenco de órgãos encarregados de revitalização da emigração italiana de pós-guerra. [...] Surge, assim, a Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana, com capital formado pelos bens italianos liberadose pela subscrição do governo italiano, auxiliado pelo governo americano. A ocupação da gleba, compreendendo os trabalhos de demarcação dos lotes e as atividades de construção, levou três anos. Em 1963, data do início da pesquisa e 10 anos depois da chegada das famílias, Borges Pereira encontrou o seguinte quadro:
[...] uma área rural dividida em 180 lotes, variando de 20 a 25 ha., a qual circunda totalmente a área urbana, com uma faixa de intermeio – suburbana – onde se localizam o cemitério e os campos de aviação e de futebol. Na parte urbana, com ruas e avenidas que se cruzam em traçados precisos, localiza-se a igreja, o hospital de emergência, os escritórios administrativos do núcleo, o clube, a hospedaria, o banco, as escolas pré-primária, primária e secundária. Completando esta paisagem urbana, e atendendo ao desenvolvimento do núcleo, há, ao lado de casas residenciais, um comércio varejista, que aos poucos se diversifica, e uma indústria icipiente de transformação – máquinas de beneficiar arroz, moinhos de trigo e de fubá, laticínio, etc. É neste cenário rural-urbano que se distribui a população envolvida no processo de aculturação, que está sendo objeto desta análise.

Para completar o quadro da colônia, o autor destaca a sua localização próxima da cidade de Assis, um centro urbano dotado de recursos – escolas e faculdade, assistência médico-hospitalar, etc. –, o que "garantiu de antemão à Companhia Colonizadora redução do capital investido no núcleo". Esse fato levou a comunidade a entrar forçosamente em contato com a sociedade inclusiva, tornando-a uma comunidade "aberta" e criando assim condições que "atuam favoravelmente no processo de aculturação daquele grupo étnico".

Além da proximidade de Assis, a escolha da localização do núcleo foi também motivada pela facilidade de obtenção de mão-de-obra: os trabalhadores temporários, migrantes dos estados setentrionais, de "certas áreas matogrossenses, fronteiriças com o Paraguai, o que explica a presença esporádica de paraguaios, e até de índios Terena". Esses trabalhadores são aproveitados pelos imigrantes italianos para a colheita do algodão. (fonte:Ethel V. Kosminsky Universidade Estadual Paulista, campus de Marília - in www.scielo.com.br )

História (222) - Imigração italiana após a Segunda Guerra Mundial: a colônia de Pedrinhas( 1)


"Não há muito tempo, trens lotados partiam de diversas cidades da Itália com destino a vários países do velho continente e navios zarpavam em direção à América, eram os imigrantes italianos em busca de outra pátria que os acolhesse para viver e criar seus filhos em harmonia e em paz, longe da guerra e da destruição que se alastrou pelas montanhas e vales da Pátria mãe.

Com as notícias vindas de outras partes do mundo, acendeu na mente daquele povo a esperança de encontrar novamente a alegria de viver e ter um lar feliz.
Para trás, ficaram as lembranças da guerra, da destruição e durante a longa viagem se perguntavam ansiosos: “Mérica, Mérica, Mérica, cossa sara lasta Mérica?”
De um lado, tinham a certeza do sofrimento que lá ficou, mas de outro a incerteza de como seria essa América.

Na verdade, a imigração italiana se iniciou em 1860 com grandes grupos tomando direção de alguns países da Europa e os demais, da América e da Austrália, chegando a 24.000.000 no início do século passado; para o Brasil, a partir de 1875 imigraram 1.500.000 em grande parte para substituir a mão-de-obra escrava, após a II Guerra, apenas 22.000.
O Governo brasileiro tinha interesse na imigração para colonizar o interior, razão pela qual promulgou em 18 de setembro de 1945 o Decreto-Lei nº 7.967, que a reconhecia como de utilidade pública e regulamentava a sua seleção no exterior.

Para resolver as questões pendentes do Tratado de Paz de 10/02/47, que desvinculava todos os bens italianos bloqueados durante a II Guerra, foi firmado um acordo entre Brasil e Itália em 08/10/1947, onde, entre outras coisas previa-se a criação da Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana, que se concretizou em 28/09/1950, e, através dela, os primeiros recursos foram liberados em 08/10/1950.

A partir de 1949 e 1950, o Governo Italiano encaminhou a Missão Técnica Agrícola para realizar estudos de reconhecimento territorial e de fertilidade em áreas rurais de diversos países da América, inclusive do Brasil, onde foram escolhidas Joinvile em Santa Catarina, Santa Tereza em Goiás, e Pedrinhas Paulista em São
Paulo, sendo esta, a única que prosperou, graças a fértil terra do Vale do Paranapanema, aliada a garra de seu povo, e amparo constante de Dom Ernesto Montagner, pároco, diretor nato, presidente interino por algumas vezes e interlocutor entre colonos e Companhia.

A missão da Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana era a de fixação e sustentação do colono italiano em solo brasileiro e de fazer cumprir o acordo firmado entre os dois países em 08/10/47.

A Companhia planejou a colonização em duas etapas, a primeira a implantação da infra-estrutura, idealizada pelos técnicos, engenheiros, com a colaboração dos oficiais da construção civil, que partiram do Posto de Gênova, em 31/08/51, com destino ao Brasil, com a tarefa de construir casas, pontes, estradas e dotar o pequeno núcleo de infra-estrutura capaz de receber os primeiros imigrantes que iriam trabalhar a terra, que chegaram e seguida, trazendo quase nada, além da roupa do corpo, mas com vontade de vencer e conquistar iniciaram os trabalhos de lavrar a terra que a tinha como prometida e abençoada e aos poucos foram transformando tudo ao seu redor. Aonde apenas os pássaros cantavam, foram aparecendo e se misturando aos encantos da natureza, o murmúrio e a alegria da criançada recém-chegada.

No meio da mata e do serrado, muitas trilhas foram aparecendo, várias estradas abertas, e os tratores não paravam, os operários encarregados das construções das primeiras casas não vacilavam e dia após dia, tudo foi se transformando e aparecendo escolas, cinema, clube, ambulatório, jardim da infância, postos de gasolina, hotel, restaurante, comércios diversos, cooperativa, fazendo inveja a muitas cidades do mesmo porte, e quando deram conta o milagre estava feito, e um oásis de verde e de vida se emergiu entre eles, era Pedrinhas Paulista que acabava de nascer.

O nome da colônia surgiu do Riacho Pedrinhas, de água transparente, que serpenteava suavemente entre grande quantidade de pequenas pedras ao fundo.
A fundação da colônia foi marcada com grande festa que se realizou em 21 de setembro de 1952, quando se deu o lançamento da pedra fundamental da Igreja Matriz, na presença do Primeiro Presidente da Companhia, Comendador Arturo Apollinari, do Professor Antonio de Benedictis, superintendente, do Professor Vittorio Ronchi, presidente do ICLE (Instituto Nazionale de Credito Per Il Lavoro Italiano Al’Estero) de Roma, do Monsenhor Ernesto Montagner, vigário geral, diretor nato da Companhia, e da Sra. Celeste Sbais Guerin, nascida na Itália em 1883, pessoa mais idosa da colônia na época, que, convidada, teve a honra de participar do ato.
 
Assim nasceu e se implantou a Colônia de Pedrinhas, que, em 13 de novembro de 1952, recebeu o maior grupo de imigrante italiano composto de 28 famílias.
Logo de início a Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana organizou a Cooperativa Mista Agrícola de Pedrinhas, inaugurada em 06/11/1954, hoje denominada
CAP - Cooperativa Agropecuária de Pedrinhas Paulista , em plena atividade, conhecida e reconhecida regionalmente.

Pedrinhas Paulista viveu como núcleo colonial até 14/05/1980, quando foi elevada a Distrito e alcançou a sua tão almejada emancipação político-administrativa em 30/12/1991. Dentre as várias regiões que foram colonizadas pelos italianos na América, Pedrinhas teve a felicidade de ser a única que obteve sucesso naquela época". (Fonte: Prefeitura Pedrinhas)

domingo, 21 de novembro de 2010

Italiani - Família Muccio e a imigração japonesa

Quem resgata uma interessante lembrança da imigração no bairro da Lapa  é a italianíssima família Muccio. “Foi da confecção do meu pai (Arair), na Rua Tito, que saíram as peças de lã usadas no desfile de moda em homenagem ao príncipe do Japão, quando ele visitou São Paulo no final dos anos 80”, conta Gerson Muccio. “É uma feliz coincidência tornar público esse fato exatamente quando os japoneses comemoram 100 anos de presença aqui no nosso país”, acrescenta ele, ao lembrar da Denelã, fundada por Arair na década de 60. 


Antes de chegar ao comércio, a família Muccio trabalhou duro na terra. “Meu bisavô (Amélio) chegou com a família no início do século passado e foi para o interior (no Noroeste paulista). Eles eram de Salerno, localizada no sul da Itália. Meu avô Antonio tinha, na época 12 Anos”, conta Gerson. A família Muccio, como outras tantas que vieram tentar a sorte no Brasil, acabou trabalhando numa próspera fazenda e, com as economias acabaria por comprar lotes de terra. “Papai nasceu na região de Lins em setembro de 1936. Na década de 40, nossa família chegou aqui em São
Paulo e foi morar na Vila Diva, atuando no ramo de transportes”, relata Gerson Muccio, um dos quatro filhos de Arair. “Minha mãe (Diva, falecida recentemente) também era descendente de italianos e nasceu na cidade de São Manuel”. 

Foi somente nos anos 60 que, já na Lapa, os Muccio entraram para o ramo da confecção, inaugurando a Denelã. Como o negócio deu certo, o empresário decidiu abrir uma loja perto do Shopping Lapa. Era a Toca 99, pioneira na venda de roupa solta num grande balcão, dispensando as tradicionais araras e prateleiras. 


Os filhos e netos de Arair Muccio continuam morando do na região Lapa. A família tem participação numa das casas mais badaladas de São
Paulo, a Porto Alcobaça, na Avenida Francisco Matarazzo. Recentemente, a memória de Arair foi lembrada em solenidade realizada pela Câmara Municipal de São Paulo com apoio do Conselho das Associações Amigos de Bairro da Região da Lapa.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Italiani - O projeto não executado do arquiteto Michele Caselli

"Em 1914, houve concorrência pública para construção da nova matriz da Paróquia de São Pedro (Salvador, Bahia). A Irmandade do Santíssimo Sacramento adquiriu o prédio de nº 59 à rua de São Pedro, vizinho a Escola Politécnica (hoje local do Edifício da Fundação Politécnica), do espólio do barão de São Francisco, para este fim, em 29 de novembro de 1913.

Em 24 de maio de 1914, foram abertas as propostas, que foram limitadas ao preço de 250 contos de réis. Venceu a de nº 3 projeto nº 1 e orçamento nº 4A do arquiteto italiano residente em Salvador, Michele Caselli, pelo valor de 248 contos de réis. (Rs. 248:000$000). Entretanto, antes que fosse assinado o contrato entre as partes, o arquiteto acrescentou uma cláusula na qual a Irmandade do Santíssimo Sacramento assumiria a diferença da alta dos preços dos materiais a serem importados da Europa, pois havia eclodido a Primeira Guerra Mundial chamada, naquela época, de Guerra Européia.

A Irmandade do Santíssimo Sacramento não aceitou essa cláusula, ficando suspenso o contrato. A diretoria do Gabinete Português de Leitura propôs a permuta de um terreno e edificação de sua propriedade sito à praça da Piedade pelo prédio de nº 59 sito à rua de São Pedro pertencente a Irmandade do Santíssimo Sacramento, porém não foi viável. A diretoria da Escola Politécnica também fez uma proposta de permuta do dito prédio à rua de São Pedro nº 59 por um terreno do que restou da demolição da casa nº 13 à praça da Piedade e casas nº 6 e 8 à antiga rua Cons. Pedro Luiz (hoje avenida Sete de Setembro) e os prédios e terrenos nº 15 e 17 sitos à praça da Piedade, perfazendo uma arca de 12,70m de frente com 31m de fundo. A permuta foi aceita e concretizada em 27 de março de 1916." (Fonte: Paróquia São Pedro)