sábado, 6 de fevereiro de 2010

Italiani: Rodolfo Crespi, um imigrante na industrialização de São Paulo

A cidade de Busto Arsizio, na Lombardia, orgulha-se de sua antiga tradição têxtil. E foi de lá que em no final do século XIX, um jovem que em 1893, aos 19 anos, decidia partir para o Brasil em busca de um futuro que sonhava promissor. 
Desembarcando em São Paulo, Crespi foi trabalhar como operário na fábrica de um italiano já estabelecido na cidade.
Pouco tempo depois, 1897, o jovem Crespi daria o primeiro grande salto em sua vida, fundando com apoio de seu sogro uma tecelagem destinada a se tornar uma das grandes indústrias paulistanas: o Cotonifício Rodolfo Crespi. Em 1898 sua a empresa instalada no bairro da Mooca ocupava um enorme prédio de três andares na esquina da rua dos Trilhos com a rua Taquari (com fundos para a rua Visconde de Laguna), onde hoje está instalado uma unidade dos Hipermercados Extra. O Cotonifício Crespi operou até 1963.

Italiani: Giacomo Crespi e arte dos sinos

Apresentar a genealogia completa da família Crespi, seria complicado. O ramo da família que hoje vive no Brasil tem, em seus registros, em dois livros escritos e editados na Itália, pelo Exmo. e Revmo. Dom Gino Cavaletti, no ano de 1985. Os livros mostram a caminhada dos "CRESPI", suas realizações e documentos autênticos que comprovam a existência desde 1498, em Crema - Itália. Existe ainda o ramo de Rodolfo Crespi, imigrante italiano e fundador do famoso Cotonifício Rodolfo Crespi.

Roberto Crespi Marenco, neto e sucessor do grande mestre e artífice de sinos, Giácomo Crespi, acredita que, os "CRESPI" tenham mais de 1000 anos, devido às histórias que seus antepassados contavam. Roberto não consegue mais definir quantos sinos foram fabricados pela Fundição Crespi, pois desde a época das grandes navegações, já se ouviam o som dos sinos por eles fabricados.

Pelo mundo afora, ouvem-se os sinos fabricados pelos "CRESPI", principalmente, na Europa, Estados Unidos, África, Iugoslávia, Egito (no Cairo) e América do Sul. Um fato curioso está registrado em crônicas do século XVIII. Conta-se que Napoleão Bonaparte ao passar pela Praça II Duomo, na cidade italiana de Crema, mandou parar sua carruagem somente para ouvir o som melodioso dos sinos, de fabricação Crespi, que tocavam.

Naquele tempo Domenico Crespi foi considerado um gênio por ter inventado o Relógio Monástico, que possuia no disco central, aspectos astrológicos e as fases lunares, em 1750 e, também por ter criado no mesmo ano, as escalas musicais para os sinos. Giácomo Crespi, que nasceu em 21 de Maio de 1887 em Milão - Itália, veio para o Brasil em 1959, e só parou de fabricar sinos quando faleceu no dia 26 de Julho de 1980. O grande mestre dos sinos, recebeu como homenagem e reconhecimento à sua nobre arte, uma Rua na Vila Mirante - Bairro Pirituba/SP.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Italianità - uma análise das raízes italianas na Festa da Uva de Caxias do Sul

Um belo estudo acadêmico sobre a Festa da Uva foi construído por Alexandre Fonseca Frigeri (mestrado Fundação Getúlio Vargas -2009). A seguir,trechos do estudo intitulado Os italianos, vinho e turismo: o Vale dos Vinhedos na Serra Gaúcha .

 "De início, a Festa da Uva aparece como uma celebração ligada às tradições dos imigrantes italianos, mas com um forte apelo à criação de identidades e solidariedade ao nível local.

Sua interrupção de 1938 até 1949 esteve ligada à Guerra e às possíveis consequencias da suposta identificação da população de origem italiana com o fascismo, fato que ocasionou perseguições e até mesmo uma retração das atividades econômicas na região.

(...) A partir dos anos 1980, porém, pode-se observar uma retomada do conteúdo mais especificamente 27 ligado a uma ênfase nessas tradições que, no entanto, são redefinidas em termos de uma roupagem mais abrangente. É assim que os conteúdos da festa, ainda que mantendo o fio condutor de um apelo às tradições italianas, paradoxalmente ficam mais descolados do plano local e passam a ser regidos pelos impactos da globalização, a partir das mudanças estruturais que se operam no sistema internacional no decurso dessa década. A partir daí, a motivação inicial da festa se descaracteriza, progressivamente se afastando de seus propósitos originários de uma festa agroindustrial voltada à criação de identidades comunitárias, para servir mais aos propósitos do turismo, com a multiplicação de uma série de atividades paralelas ao evento.

Curiosamente, essas atividades paralelas, bem como os próprios conteúdos temáticos da festa, no entanto, continuam fortemente marcados pela ênfase nos costumes, tradição e cultura italianos. (...)A Festa da Uva pode ser enquadrada como uma celebração periódica que inventa, no âmbito regional, a tradição de retorno às raízes italianas da população local, difundindo e mantendo a continuidade de valores e costumes centrados no culto à gastronomia, hábitos alimentares, jogos e outras atividades, tendo como símbolo a uva, e 29 que funcionam como um elemento aglutinador de aspectos ligados à cultura e identidade italianas".

Italianianità: as origens da Festa da Uva de Caxias do Sul

Uma das manifestações da italianidade na cidade gaúcha de Caxias do Sul é a Festa da Uva, que se repete anualmente desde 1931, com uma grande interrurpção entre 1938 e 1949 (Segunda Guerra Mundial e pós-guerra). Naquele ano, Caxias do Sul era uma cidade em pleno desenvolvimento.Com uma produção de quase 42 mil toneladas de uva, o município era responsável por quase um terço de toda a produção gaúcha da fruta. Naquele ano, os produtores daqui haviam exportado 21,1 milhões de litros de vinho tinto. E a cidade crescia.

A Festa da Uva era a celebração desse sucesso. Assim, a primeira Festa da Uva foi uma celebração da vindima. Não houve desfile de carros alegóricos nem escolha das Soberanas, mas sim, uma exposição discreta e elegante de uvas, na sede do Recreio da Juventude (esquina das ruas Visconde de Pelotas e Sinimbu). A comissão organizadora era formada por  Joaquim Pedro Lisboa, Alfredo Falcão, Zanini Moraes,Mário Fontana, Januário Germano, Nestor Mindelo Arthur Rech, João Agenor N. de Menezes,Antenor Antero Bizarro


O sucesso foi tanto que, antes mesmo de acabar essa edição, já estava sendo planejada a seguinte, realizada em 1932. sociação dos Comerciantes de Caxias. Essa edição foi realizada na Praça Dante Alighieri e teve um desfile de alegorias sobre rodas, puxadas por juntas de bois ou cavalos, representando a produção dos distritos de Caxias e dos municípios da região.

Mas, não houve ainda escolha da Rainha. Em 1932, ainda não havia um lugar fixo para sediar a Festa da Uva. Mas, como os organizadores precisavam fazer exposições, construíram um pavilhão na Praça Dante. O espaço foi dividido em duas partes. Na primeira, estavam os expositores de uvas, vinhos e sucos de Caxias e da região. Na outra, ocorria uma exposição agroindustrial, com a participação de empresas da Serra e também de Porto Alegre.

Para tornar o evento ainda mais atrativo, os organizadores da Festa da Uva de 1932 tiveram uma ideia. Em frente ao pavilhão provisório construído na Praça Dante, improvisaram também um chafariz do qual jorrava vinho. Não era possível ingerir a bebida, que ficou ao ar livre durante os oito dias de evento. Mesmo assim, era um símbolo da prosperidade da cidade. Já na segunda edição da Festa foi realizado um concurso entre os viticultores que participaram da exposição de uvas. Ganhou a Cooperativa São Victor, que apresentou variedades européias.

Mas, para a população, o mais interessante não era o concurso, e sim a possibilidade de degustar uvas e vinhos. A Festa da Uva se tornou realmente nacional depois dessa segunda edição. Segundo o jornal Correio do Povo, que fez matérias sobre o evento naquela época, cerca de 10 mil pessoas de Porto Alegre e municípios vizinhos vieram para Caxias do Sul. A maioria veio de trem. E o movimento foi tão grande para a estrutura da época que a companhia ferroviária precisou providenciar trens extras.

Para a pesquisadora Cleodes Piazza Julio Ribeiro, a Festa da Uva de 1932 deu o tom das Festas que viriam depois. Ela tinha a exposição de uvas e vinhos, a degustação da fruta e da bebida e o esboço do que mais tarde se transformaria em desfile de carros alegóricos. Só faltava a Rainha, que viria na edição seguinte. O corso alegórico

O primeiro corso alegórico da Festa da Uva foi realizado em 1932. Ele recebeu o nome de Cortejo Triunfal da Uva e foi considerado o ponto alto da Festa. Desfilaram pela Avenida Júlio de Castilhos 32 alegorias puxadas por juntas de bois. As carroças eram enfeitadas pelos próprios colonos com motivos ligados à uva, ao vinho e ao trabalho na terra. O primeiro corso alegórico, realizado em 1932, era uma verdadeira festa colonial. Os 32 carros alegóricos, idealizados e construídos pelos próprios colonos, eram acompanhados de moças e rapazes vestindo roupas típicas e entoando canções regionais. Copos de vinhos eram distribuídos ao público, que acompanhava os figurantes como se também fizessem parte do desfile.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

História 58 - "Far l 'America (26)": o destino dos vênetos de Schio

A imigração italiana no Brasil continua sendo objeto de estudos e debates acadêmicos. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp), pesquisas do professor Antônio Folquito Verona, mostram o percurso de um grupo de italianos da cidade vêneta de Schio, que migrou rumo ao Brasil entre 1891 e 1985.

Os estudos do professor já renderam dois seminários, o último realizado em janeiro de 2010. Para identificar as famílias, a partir de 1990, o professor Verona passou a reunir dados da prefeitura de Schio e da província de Vicenza, em Vêneto, além de arquivos do Lanifício Rossi. Ele cruzou as informações obtidas com as existentes no Memorial do Imigrante, no Arquivo Municipal de São Paulo e no Arquivo do Estado de São Paulo. Também consultou documentos em outros estados e contou com financiamento do município de Schio para a realização de pesquisas na Itália e no Rio Grande do Sul.

Das mais de trezentas famílias que saíram da cidade italiana rumo ao Brasil, 157 ainda não tiveram a identificação de seus destinos e locais de desembarque. Entre as identificadas, a maior parte se instalou em São Paulo, mas poucas puderam continuar no ofício de tecelão. A maioria foi empregada nas lavouras de café, que tinham grande necessidade de mão-de-obra. O segundo destino escolhido por esses imigrantes foi o Rio Grande do Sul, corrente que vai dar origem a Galópoles, um vilarejo da cidade de Caxias do Sul.

No local foi criada a Cooperativa Industrial Têxtil, mais tarde transformada no Lanifício São Pedro. “A instalação de uma tecelagem em meio ao ambiente rural ocasionou um movimento que, mais tarde, tornaria Caxias do Sul o conhecido pólo industrial dos dias atuais”, diz Verona. O Rio de Janeiro também foi um destino importante, sobretudo o distrito de Cascatinha, na cidade de Petrópolis.

Dados de 1906 informam que, no local, a Companhia Petropolitana, única fabricante de tecidos de seda no Brasil naquela época, empregou 1.100 funcionários, quase todos italianos. “Muitos imigrantes de Schio foram contratados porque detinham um conhecimento sobre a indústria têxtil que os demais italianos desconheciam, por serem, em sua maioria, trabalhadores rurais”, relata o professor.

Uma minoria dos imigrantes foi para Minas Gerais e para o Espírito Santo. O isolamento territorial e o distanciamento das demais famílias que vieram da Itália dificultaram a localização de registros que apontem quais atividades econômicas esse grupo desenvolveu.(Fonte: Unesp)Unesp

História 57 - "Far l 'America (25 ): como era o agenciamento na Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo

O site do Instituto de Estudos Brasileiros (artigo Como São Paulo Hospedava seus imigrantes no início da República , de autoria de Arlinda Rocha Nogueira) mostra como agiam os agenciadores no recrutamento de trabalhadores para os fazendeiros paulistas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Italiani: Francesco Matarazzo, ícone da imigração italiana no Brasil (3)

Na Revista de História, publicação da Biblioteca Nacional, Ronaldo Costa Couto complementa assim, um breve quadro sobre quem foi Francesco Matarazzo.


"Seu pragmatismo político se manifesta de novo durante a Guerra Paulista de 1932, que queria depor Getulio Vargas (1882-1954). Matarazzo mantém relação apenas formal com o presidente, mas resolve não se envolver diretamente na revolução que mobiliza toda São Paulo. Realista, não vê qualquer chance de vitória.
Já seu sobrinho Ciccillo Matarazzo, da gigantesca Metalúrgica Matarazzo, fabrica artefatos militares para os revoltosos. Francesco Matarazzo vira símbolo da industrialização no Brasil.  Em 1928, junta-se a outros empresários – como Roberto Simonsen, Jorge Street, José Ermírio de Moraes e Horácio Lafer – para criar o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), do qual será o primeiro presidente. Em 1931, nasce a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de novo tendo Matarazzo como primeiro presidente.

Principal empresário da República, o italiano mais rico do mundo, morre em 1937, aos 82 anos, deixando como principal legado o maior e mais sólido conglomerado empresarial da história brasileira. Uma fortuna mítica, quinta do planeta em seu tempo, amealhada em 55 anos de trabalho, tecnicamente estimada em mais de 20 bilhões de dólares de 1992.

Nas palavras de Assis Chateaubriand (1892-1968), magnata da imprensa, o Brasil ganhara um novo estado: o 'Estado Matarazzo', com faturamento muito superior às receitas de qualquer outra unidade federativa, exceto São Paulo.

Já o amigo e admirador Monteiro Lobato definiu sua trajetória de maneira mais simples: ‘um permanente rush para cima’.

E o próprio conde tinha um segredo para o sucesso? ‘Alguma inteligência, certa capacidade gerencial, muito trabalho e sorte.’" (na foto Memorial Matarazzo em Castelabate).