quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Italianità-Especial: De Palestra Italia a Palmeiras(5)

O Palestra Itália foi convidado a participar do Campeonato Paulista somente em 1916. A primeira partida oficial da equipe foi contra o Mackenzie, jogo que terminou empatado: 1 a 1. O gol palestrino foi marcado por feito por Vescovin.

No ano seguinte tornou-se vice-campeão paulista. O primeiro título viria em 1920: Campeão Paulista, ao vencer no jogo decisivo o tradicional Paulistano: 2 a 1 O site Palestrinos relata assim esse dia histórico na vida do palestra Itália:

"Terminado o segundo turno, Palestra Itália e Paulistano viram-se incrivelmente empatados em tudo: 26 pontos, 12 vitórias, dois empates e duas derrotas. E se o ataque paulistano havia sido melhor (61 contra 53 gols) sua defesa fora bem pior (19 gols contra 7 dos verdes). O Corinthians? Bem, o Corinthians ficou apenas em terceiro lugar, um ponto atrás. Mandava o regulamento que em caso de duas equipes terminarem empatadas o título seria decidido em um jogo-extra. E ele foi marcado para 19 de dezembro, no neutro campo da Floresta.

Todas as atenções do Palestra estavam voltadas para Artur Friedenreich, um mestiço filho de alemão e negra que era o melhor jogador de futebol do mundo naquele época. Mas o Paulistano era muito forte, lutava pelo pentacampeonato e mesmo contra um adversário com os brios feridos era considerado favorito. Do outro lado, todavia, estavam aqueles italianos, contra os quais tanto se tentara e tanto se fizera para que não estivessem ali, disputando a condição de melhor time de São Paulo.

Depois de um primeiro tempo bastante equilibrado, na etapa final o jogo começou quente: logo aos 5 minutos, Martinelli acertou um forte chute no gol defendido por Arnaldo e colocou o Palestra Itália na frente. A alegria verde, porém, durou pouco: apenas um minuto depois, quando a defesa palestrina se preocupava com o mulato genial, Mário aproveitou para, livre, deixar tudo igual.

Daí em diante, chances perdidas pelos dois times mas, também, respeito mútuo prevalecendo em campo. Até que aos 32 minutos da etapa final, Forte se livra da marcação e toca para o fundo das redes paulistanas. Os 13 minutos restante foram de intensa pressão do Paulistano, mas o goleiro Primo - ora com talento, ora com sorte - conseguiu evitar mais um empate. Ao apito final de Hermann Friese, São Paulo explodiu de alegria.

O sonho, enfim, se realizara: Palestra Itália, campeão paulista de 1920! Na São Paulo as vésperas do Natal, faltou vinho tinto para tanta festa”.

Italiani – Sangue toscano no Modernismo brasileiro: a pintura de Fulvio Pennacchi



Grupo Santa Helena foi o nome atribuídoaos pintores que, a partir de meados da década de 30, se reuniam nos ateliês de Francisco Rebolo e Mario Zanini. Os ateliês estavam situados em um edifício da na Praça da Sé, São Paulo, denominado "Palacete Santa Helena". Este prédio foi demolido em 1971 para a construção da estação do Metrô Sé.

No site do Museu de Arte Contemporânea (MAC), a professora Daisy Peccinini traça um breve perfil de um dos membros desse grupo: Fulvio Pennacchi, nascido em Villa Collemandina, província de Lucca, na Região Toscana, em 1905. Ela define Pennacchi como  “o mais clássico dos Santelenistas foi, junto a Portinari, Volpi e Graciano, muralista de estilo depurado e evocação românica”.



"Fúlvio Pennacchi chegou no Brasil em 1929, fugindo de uma intensa instabilidade econômica, que assolava o Mundo Ocidental, pós Primeira Guerra Mundial, recém saído da Academia de Belas Artes de Lucca, onde recebera grandes influências do Professor Pio Semeghini, impressionista, além dos Macchiaioli. As dificuldades financeiras enfrentadas por Pennacchi, logo de sua chegada a São Paulo, coloca a pintura em segundo plano, levando-o a exercer atividades em diversas áreas, como professor de desenho do Colégio Dante Alighieri e até dono de um açougue".

"Pennacchi é redescoberto em 1933 pelo escultor Galileo Emendabili que fica fascinado pelos afrescos que decoram o estabelecimento comercial do artista e o convida a trabalhar como colaborador no seu atelier, e logo de inicio auxilia no projeto do' 'Monumento em Homenagem aos Mortos na Revolução Constitucionalista de 1932'. Em 1935, Pennacchi passa a freqüentar o ateliê de Rebolo Gosales, localizado no Palacete Santa Helena, onde os pintores Mário Zanini e Clovis Graciano montam seus ateliers, e concomitantemente era freqüentado por Alfredo Volpi, Manuel Martins, Alfredo Rizzoti e Aldo Bonadei, formando aquilo que o Professor, Historiador e Crítico de Arte Walter Zanini denominou de 'Confraria', e que passou-se a chamar 'Grupo Santa Helena'.

Os trabalhos de Pennacchi, configuram uma intensa permuta do universo paulista e do cotidiano das vilas italianas, além da preferência pelos temas religiosos. Nesta área, o artista teve fundamental importância na concepção de vários afrescos, que decoram Igrejas e residências. As primeiras exposições do artista foram coletivas, com destaques as exposições da 'Família Artística Paulista', em 1937.

Entre 1965 e 1972, o artista distancia-se do grande público, fazendo apenas alguns trabalhos por encomenda, mas não deixando de ser um período de intensa criação Em 1967, algumas de sua obras são mostradas na exposição 'O Grupo Santa Helena 30 anos depois'. Em 1973 a exposição 'Pennacchi - quarenta anos de pintura organizada pelo Museu de Arte de São Paulo, sobre a supervisão de Pietro Maria Bardi, foi o reencontro com o grande público. Fúlvio Pennacchi, foi o último sobrevivente dos Santelenistas, vivendo até 1992”.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Italianità – O trabalho do Gruppo Folklorístico Italiano Giuseppe Garibaldi

"O Brasil é um país formado por inúmeras etnias, as quais influenciaram a nossa história, cultura, economia, em todos os âmbitos da sociedade.

Os costumes, a alimentação, o vestuário e a própria língua foram enriquecidos pela miscigenação dessas culturas. Sabemos pela história que muitos imigrantes italianos fugindo das guerras que ocorreram no século passado na Itália, vieram para o Brasil e aqui trabalharam muitas vezes em regime semi-escravo.

Mas um povo corajoso e com mesma determinação e consciência que aqui chegaram venceram dificuldades quase sobre-humanas, doenças, miséria, fome e se superaram ao ponto de colaborarem na construção de uma nova pátria, chamada Brasil. Foi com esta consciência que um grupo de amigos de Cutitiba-PR reuniu-se com o objetivo de criar um grupo folclórico autêntico, que fosse fidedigno às tradições e à cultura italiana, e dispostos a trabalharem para divulgação desta cultura no Brasil. Então, em outubro de 1991, foi fundado o Gruppo Folklorístico Italiano Giuseppe Garibaldi, que começou a divulgar a tradição e a cultura italiana através de danças típicas de várias regiões da Itália.

Com muito sucesso, nestes 18 anos de existência, o grupo participou de diversos eventos no estado do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Desde festas populares a espetáculos em grandiosos teatros, o grupo leva a alegria contagiante e séculos de história de um povo cuja cultura nos enriquece até hoje nos mais variados aspectos.

AS APRESENTAÇÕES 

Em suas apresentações o grupo tem como objetivo mostrar o lado divertido e curioso desta descendência, que são estudados e pesquisados seriamente através de contatos com grupos folclóricos e entidades italianas, onde são mostrados com fidelidade cada costume, cada passo e cada coreografia do espetáculo. Através das músicas e das encenações teatrais das danças o grupo enriquece os conhecimentos não só dos descendentes de italianos, mas da população em geral, dessa cultura que está inserida no dia-a-dia de cada um, nos gestos, palavras e no sangue quente, demonstrado através das emoções.

As danças retratam, entre outras coisas, o cotidiano italiano em meados de 1800 a 1950. Nas cenas familiares da vida doméstica, são mostrados os casamentos e os hábitos. No trabalho, o cultivo da uva, do café e bem como alguns trabalhos manuais desenvolvidos pelos camponeses. Na fé, os costumes religiosos. O período da imigração também é apresentado, bem como a viagem, as esperanças e sentimentos do povo em relação a uma terra desconhecida, alegrando e emocionando pessoas de todas as idades.

Italianità-Especial: De Palestra Italia a Palmeiras(4)

Fundado em 1914, o Palestra Itália realizaria sua primeira partida somente em 1915. No dia 24 de janeiro daquele ano, a recém-formada equipe se deslocou de trem até Sorocaba para seguir adiante até a cidade de Votorantin, local do jogo contra uma equipe local, o Savoia que já contava com 15 anos de vida e colecionava várias vitórias. O time escalado para o primeiro desafio palestrino era formado por: Silitiano. Bonato e Fúlvio. Police. Bianco e Vale,Cavinato. Fiaschi. Alegretti. Amílcar e Ferré.

Vicenzo Ragognetti, assim descreveria a histórica partida (Fonte site Palestrinos):

“Às 14:15 exatamente o árbitro Sr. Sílvio Lagreca apita o início do jogo. O primeiro tempo se inicia com um ataque à vala do Palestra. Mas a audaz tentativa dos vermelhos é desfeita por Valle que devolve a pelota ao campo contrário. Ataques e contra-ataques se sucedem vivamente e bem conduzidos. O público ferme continuamente incitando os jogadores. Bianco desenvolve um jogo maravilhoso. Após tirar habilmente a bola de Cardoso, tenta uma descida para o gol de Curbert, mas a poucos metros erra, mandando muito alto. Não foi apenas este o perigo passado pelo Savoia no primeiro tempo. Por várias vezes a sorte o protegeu no exato momento em que o ponto parecia assegurado. Termina o primeiro tempo sem que houvesse abertura de contagem.


Na fase final os elementos do Savoia redobram de energia. Desenvolvem um jogo veloz, sem trégua, disciplinado. Mas logo se mostram exaustos pela ação defensiva dos “tricolores” que atuam de modo surpreendente. De um momentâneo cansaço dos vermelhos se aproveitam os avantes adversários, que se põem a alvejar o arco de Culbert. Um gol ia sendo marcado, mas a defesa adversária prefere salvar como pode... cometendo pena máxima. Bianco atira a bola como um bólido para as redes. É o primeiro ponto da partida. Os aplausos e a conquista do ponto animam os onze de Gambini que se esforçam por manter e aumentar a vantagem obtida Um minuto depois é marcado um segundo gol. Ferreira, na área penal, comete uma falta, e o árbitro, atento é imparcial, pune inexoravelmente. Já os palestrinos não se preocupam com a ofensiva, mantendo-se em calma e prudente defesa. Observamos aqui que foi a primeira vez que o S. C. Savoia caiu vencido sem assinalar um ponto”.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Italianità-Especial: De Palestra Italia a Palmeiras(3)

Vários textos disponíveis na internet narram a cronologia e as glórias dessa trajetória responsável por importantes páginas há história do futebol brasileiro. Um deles é Iimigracao e futebol: O caso Palestra Italia.pdf de autoria de José Renato de Campos Araújo, (doutor em Ciências Sociais pelo IFCH/UNICAMP, pesquisador do IDESP (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo), pesquisador e membro do CEMI (Centro de Estudos de Migrações Internacionais). Abaixo, trechos desse trabalho.

"Após a publicação de uma carta, em 14 de agosto, seguida de uma convocação no dia 19, no Fanfulla (jornal de maior circulação em São Paulo na década de 1920, em língua italiana, dirigido aos imigrantes italianos), o Palestra Itália foi fundado em 26 de agosto de 1914. Todos os integrantes da comunidade italiana da cidade de São Paulo interessados na fundação de um quadro ítalo de futebol foram convocados a participarem de um evento a fim de decidirem pela fundação, definirem seu nome e marcarem a data da sua oficialização".

"Em 26 de agosto, o Palestra Itália é fundado na presença de 46 pessoas, reunidas com o objetivo de estruturar um time de futebol representativo da comunidade italiana fixada na cidade" "Estas pessoas têm por objetivo a reunião de simpatizantes e jogadores de origem italiana, espalhados nos inúmeros clubes e times de futebol de São Paulo".

"Luigi Cervo, Vicenzo Ragognetti, Luigi Emanuele Marzo e Ezequiel Simone, formuladores e difusores da idéia, avaliavam ser possível a formação de um time de futebol constituído por imigrantes italianos, representativo de todo o grupo da cidade de São Paulo".

"Isto se faria aproveitando o estado de espírito do grupo após uma excursão vitoriosa de dois clubes italianos de futebol pelos gramados paulistanos, o Pro-Vercelli e o Torino, nos anos de 1913 e 1914. A preocupação dos fundadores do Palestra Itália era perfeitamente justificável; o esporte bretão permitia a estruturação de um time em bases étnicas2, ainda mais se levarmos em conta a maioritariedade de imigrantes3 em São Paulo, aliada à popularização do futebol nos centros urbanos do país nesse período (MAZZONI, 1950)".

"Com isso, pretendiam criar uma associação desportiva que enfrentaria os tradicionais “teams” paulistanos” “O objetivo dos fundadores do Palestra Itália era a participação no campeonato oficial e de maior prestígio dentro da meio futebolístico paulistano e, portanto, o convívio e o confronto direto com times representativos da elite paulistana. Para isto, o pedido de filiação nos quadros da APSA ocorreu logo no primeiro semestre de funcionamento da entidade".

"No início de 1915, em 6 de janeiro, é noticiado a filiação e o pedido de inscrição para o campeonato daquele ano. O pedido de filiação foi aceito com ressalvas pela APSA, junto com a intenção de participação no campeonato da cidade. O Palestra Itália só se tornou membro efetivo da entidade um ano mais tarde, em 1916, quando disputou pela primeira vez o campeonato".

"Um bom indício dessas ressalvas aparece num artigo publicado em 27/2/16 no OESP (jornal O Estado de S.Paulo), criticando a maneira como o Palestra Itália foi aceito no campeonato. Texto publicado uma semana após a aceitação e a filiação da associação no quadro efetivo da APSA, que excluía o Wenderers - por não ter condições financeiras e estruturais para a disputa do campeonato - e optava pelo Palestra Itália para substituilo, levantando dúvidas se seria o clube mais indicado".

"Esta recusa à filiação e participação imediata no campeonato levanta uma hipótese: o Palestra Itália não seria um participante natural de uma associação que organizava um esporte praticado pelos filhos da elite paulistana; por ser formado por imigrantes e seus descendentes, era encarado com ressalvas por dirigentes e clubes filiados”

“Não nos esqueçamos que neste período os nomes encontrados nas equipes do futebol “oficial” estavam ligados à elite paulistana ou eram de origem inglesa e alemã (ARAÚJO, 1996), portanto, um time composto de italianos e seus descendentes não freqüentaria os jogos do Velódromo; com certeza, encontraríamos dezenas comeste perfil espalhados pela Paulicéia, mas disputavam partidas nos finais de semana nos bairros da cidade, no já citado futebol varzeano. Assim, o Palestra Itália não representava somente uma invasão de imigrantes italianos, na sua maioria originários das classes menos abastadas, mas, também, uma invasão nas arquibancadas de ‘torcedores italianos’, estes se deslocariam de bairros periféricos e operários, como a Moóca, o Brás, a Barra Funda e o Bexiga para acompanharem os feitos de ‘italianos’ como eles contra a elite local”.

Arquitetura – Villa Matarazzo, memória desaparecida e ainda polêmica (2)

Para o pesquisador Marcos Tognon  não há dúvidas: quem projetou a Villa Matrazzoo, célebre casarão que por décadas reinou na Avenida Paulista, em São Paulo, foi mesmo Marcello Piacentini, arquiteto preferido do ditador italiano Benito Mussolini que governou a Itália de 1922 até o período final da Segunda Guerra Mundial. A polêmica autoria da obra rendeu dissertação de mestrado na Unicamp, apresentada por Tognon em 1993. A seguir, alguns trechos desse  trabalho( Uma obra brasileira do circolo de Marcello Piacentini: Villa Matarazzo)

 

  

 


domingo, 21 de fevereiro de 2010

Arquitetura – Villa Matarazzo, memória desaparecida e ainda polêmica (1)

O processo de tombamento da Mansão Matarazzo, na Avenida Paulista, ganhou as páginas dos jornais na década de 90  raças à disputa entre a família Matarazzo, contrária ao tombamento, e a prefeitura de São Paulo (gestão Luiza Erundina - 1989-1992).

O Conde Francisco Matarazzo era conhecido e respeitado como o homem mais rico do país, e ergueu o maior complexo industrial da América Latina na época, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM).
O Conde Francisco Matarazzo Júnior, seu 12° filho; herdou as fábricas e a mansão que o pai havia mandado construir num dos endereços mais elegantes da cidade, a Avenida Paulista. Viajado e culto, adquiriu a maior parte das obras de arte que a mansão abrigava, e delegou em testamento o controle das ações e a posse da casa a sua filha caçula, Maria Pia Matarazzo, personagem das disputas envolvendo o imóvel. A construção teve início em 1896 e foi concluída em 1941. Ao longo dos anos, o projeto inicial do arquiteto Julio Saltini sofreu reformas e ampliações com supervisão de outros arquitetos, entre eles o Escritório Técnico Ramos de Azevedo, Severo e Villares.

Chegou-se a afirmar que Marcello Piacentini, o arquiteto favorito de Mussolini, teria participado das reformas da mansão (fato que ainda gera controvérsias) Os Matarazzo não desejavam o tombamento da mansão, o que pode parecer estranho, pois representaria uma distinção, qualificando o objeto tombado como único. Ao contrário, estavam interessados na venda do terreno, com o metro quadrado mais caro da cidade.

Na época houve uma tentativa de implodir a mansão durante a noite, mesmo sem a autorização da prefeitura; sua sólida estrutura, porém, suportou o ataque, sofrendo dano apenas no subsolo. Após esse episódio, a polícia foi acionada para averiguar os estragos. Havia uma disputa aberta pelo destino do imóvel. O processo de tombamento foi demorado. A prefeitura saiu na frente, e em 16.03.1990 o CONPRESP (Conselho municipal de preservação do patrimônio histórico cultural e ambiental da cidade de São Paulo) tombou o imóvel por unanimidade de votos.

Tratava-se de um bem de interesse cultural e ambiental, com valor simbólico e de referência urbana. Os advogados da prefeitura alegavam, ainda, tratar-se de "documento arquitetônico que permite recuperar a atmosfera mental em que viviam nossas classes privilegiadas em determinado momento histórico" (...) "faceta disciplinadora para nossas elites que agem tão brutal e ilegalmente quando saem em defesa de seus interesses pecuniários". Tombada a mansão, aventou-se a possibilidade de se instalar no local o "Museu do Trabalhador", ou a "Casa de Cultura do Trabalhador".

O debate, porém, continuou, e os argumentos utilizados pela prefeitura eram discutidos na mídia. Para muitos especialistas, a mansão não tinha valor arquitetônico. Projetada por vários arquitetos, tornara-se híbrida, sem estilo próprio. Não acompanhara as mudanças do tempo, convertendo-se num corpo estranho na Avenida, já caracterizada por arranha-céus.

Outros imóveis seriam mais representativos da vida e obra da família como a atual sede da prefeitura, o Edifício Matarazzo na Praça do Patriarca, este sim projetado por Piacentini. Os jardins da mansão, fruto de projeto paisagístico, não eram remanescentes da mata original da região, caaguaçu. Pietro Maria Bardi, então diretor da MASP (Museu de Arte de São Paulo), criticou o projeto do Museu do Trabalhador, reivindicando investimentos nos museus já existentes. Na gestão Paulo Maluf (1993-1996), uma medida judicial suspendeu os efeitos do tombamento, e a mansão foi derrubada, conservando-se apenas a portaria. O espaço que abrigava a mansão, tombada pelo poder público e depois derrubada, é hoje um, sem arquitetura e sem função social.(Fonte: Prefeitura de São Paulo)