domingo, 21 de fevereiro de 2010

Arquitetura – Villa Matarazzo, memória desaparecida e ainda polêmica (1)

O processo de tombamento da Mansão Matarazzo, na Avenida Paulista, ganhou as páginas dos jornais na década de 90  raças à disputa entre a família Matarazzo, contrária ao tombamento, e a prefeitura de São Paulo (gestão Luiza Erundina - 1989-1992).

O Conde Francisco Matarazzo era conhecido e respeitado como o homem mais rico do país, e ergueu o maior complexo industrial da América Latina na época, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM).
O Conde Francisco Matarazzo Júnior, seu 12° filho; herdou as fábricas e a mansão que o pai havia mandado construir num dos endereços mais elegantes da cidade, a Avenida Paulista. Viajado e culto, adquiriu a maior parte das obras de arte que a mansão abrigava, e delegou em testamento o controle das ações e a posse da casa a sua filha caçula, Maria Pia Matarazzo, personagem das disputas envolvendo o imóvel. A construção teve início em 1896 e foi concluída em 1941. Ao longo dos anos, o projeto inicial do arquiteto Julio Saltini sofreu reformas e ampliações com supervisão de outros arquitetos, entre eles o Escritório Técnico Ramos de Azevedo, Severo e Villares.

Chegou-se a afirmar que Marcello Piacentini, o arquiteto favorito de Mussolini, teria participado das reformas da mansão (fato que ainda gera controvérsias) Os Matarazzo não desejavam o tombamento da mansão, o que pode parecer estranho, pois representaria uma distinção, qualificando o objeto tombado como único. Ao contrário, estavam interessados na venda do terreno, com o metro quadrado mais caro da cidade.

Na época houve uma tentativa de implodir a mansão durante a noite, mesmo sem a autorização da prefeitura; sua sólida estrutura, porém, suportou o ataque, sofrendo dano apenas no subsolo. Após esse episódio, a polícia foi acionada para averiguar os estragos. Havia uma disputa aberta pelo destino do imóvel. O processo de tombamento foi demorado. A prefeitura saiu na frente, e em 16.03.1990 o CONPRESP (Conselho municipal de preservação do patrimônio histórico cultural e ambiental da cidade de São Paulo) tombou o imóvel por unanimidade de votos.

Tratava-se de um bem de interesse cultural e ambiental, com valor simbólico e de referência urbana. Os advogados da prefeitura alegavam, ainda, tratar-se de "documento arquitetônico que permite recuperar a atmosfera mental em que viviam nossas classes privilegiadas em determinado momento histórico" (...) "faceta disciplinadora para nossas elites que agem tão brutal e ilegalmente quando saem em defesa de seus interesses pecuniários". Tombada a mansão, aventou-se a possibilidade de se instalar no local o "Museu do Trabalhador", ou a "Casa de Cultura do Trabalhador".

O debate, porém, continuou, e os argumentos utilizados pela prefeitura eram discutidos na mídia. Para muitos especialistas, a mansão não tinha valor arquitetônico. Projetada por vários arquitetos, tornara-se híbrida, sem estilo próprio. Não acompanhara as mudanças do tempo, convertendo-se num corpo estranho na Avenida, já caracterizada por arranha-céus.

Outros imóveis seriam mais representativos da vida e obra da família como a atual sede da prefeitura, o Edifício Matarazzo na Praça do Patriarca, este sim projetado por Piacentini. Os jardins da mansão, fruto de projeto paisagístico, não eram remanescentes da mata original da região, caaguaçu. Pietro Maria Bardi, então diretor da MASP (Museu de Arte de São Paulo), criticou o projeto do Museu do Trabalhador, reivindicando investimentos nos museus já existentes. Na gestão Paulo Maluf (1993-1996), uma medida judicial suspendeu os efeitos do tombamento, e a mansão foi derrubada, conservando-se apenas a portaria. O espaço que abrigava a mansão, tombada pelo poder público e depois derrubada, é hoje um, sem arquitetura e sem função social.(Fonte: Prefeitura de São Paulo)

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