A família Bortoluzzi mantém na internet um relato da chegada do patriarca Paolo às
terras gaúchas na região do Vale Vêneto..
"A vida em Vale Vêneto surgiu timidamente. Porém, na cabeça de Paolo Bortoluzzi nasceu a idéia de formar uma “CITTÁ” na localidade e ali concentrar sua vida social e religiosa. Então em 1879, como sinal de partida Paolo Bortoluzzi instalou um moinho, (a primeira casa comercial, local onde também morava) e a pia de Erva Mate no Capitel. Ramificou o comércio em mais três locais: Ribeirão, São João do Polêsine e Novo Treviso. Com a construção de algumas casas, lentamente apareceram alguns traços de vida comunitária.
Paolo Bortoluzzi, era um homem com a personalidade de liderança, não lhe faltavam cultura, autodisciplina e andava sempre bem trajado.
Seu caminhar dizia tudo o que era. Passo firme e compassado, corpo teso, cabeça erguida representando um gerdame italiano em marcha cívica. Um homem de fé, marcando o lugar através de sua religiosidade e personalidade.
Sendo a religiosidade uma das brilhantes características do povo Vêneto, os colonos eram guiados espiritualmente por Paolo Bortoluzzi que, aos domingos, explicava e ensinava o evangelho.
A 1ª missa a ser rezada em Vale Vêneto foi no dia 18 de maio de 1879, pelo padre Marcelino Bittencourt, então vigário de Santa Maria. Esta missa foi celebrada em um descascador de arroz, junto à casa do Patriarca, usando como altar à mesa de sua família, que está guardada no museu de Vale Vêneto.
Paolo Bortoluzzi, sempre lutava por uma comunidade de religiosidade, educação e cultura aos seus liderados.
Paolo Bortoluzzi acalentava o sonho de um dia poder ter padres e irmãs em Vale Vêneto, pois os colonos vindos do norte da Itália eram profundamente religiosos e não se conformavam em viver sem padres e irmãs. Paolo Bortoluzzi queria padres para ter a assistência religiosa e irmãs para educar e formar as crianças e jovens.
Paolo Bortoluzzi preocupado com a segurança de Vale Vêneto, convocou uma assembléia, reuniu aproximadamente 200 homens para discutir e estudar os problemas, já que o delegado de Santa Maria não resolvia nada. Formaram uma comissão e foram a Porto Alegre, solicitar ao delegado provincial que necessitavam de segurança em Vale Vêneto. Na ocasião desta viagem, aproveitaram e foram ao secretário do bispo para solicitar um novo sacerdote para atender a localidade. Então, o Conselho Geral dos Padres Palotinos enviou um representante para analisar as necessidades do povo e introduzir na localidade uma ordem palotina. Surgiu o problema de quem pagaria as despesas para a vinda dos padres? Novamente o dedo de Paolo Bortoluzzi.
Então no dia 24 de julho de 1886 chegaram em Vale Vêneto dois padres: Pe. Jacó Pfandler (suíço) e Pe. Francisco Xavier Schuster (alemão). Uma recepção muito calorosa para os Palotinos, onde aproximadamente uns 100 cavaleiros fizeram o cortejo aos padres que foram saudados com tiros de espingardas e trabucos. Esta data marcou profundamente a história Palotina no Brasil e na América Latina. A partir de então, a 1ª casa Palotina na América e a 10ª no Mundo fundada em 1892.
Com a chegada dos padres palotinos em Vale Vêneto, a comunidade, com muita dificuldade, em tempos escassez, iniciou a construção da atual igreja.
A pedra fundamental foi lançada em um terreno doado por Paolo Bortoluzzi. Iniciaram a construção da igreja, com pedras de basalto, pedras roliças e barro, porém, quando a igreja alcançava 8 metros de altura, ocorreu um deslizamento provocado por intensas chuvas. Com este fato, os colonos decidiram construir a Igreja com tijolos feitos por eles mesmos.
A igreja destacou-se pela sua beleza de construção para época, quando o povo de Vale Vêneto foi presenteado, em seu sacrifício, por uma mulher, a maior benfeitora da Missão dos Palotinos no Brasil, Dona Giorgia Maria Augusta, condessa inglesa de Stehpoll, fez doações, como: 3 mil liras, o sacrário de bronze dourado, dois paramentos e outros objetos. Porém a maior doação foi de um sino de bronze, que pesa 1200 quilos, que foi fundido em Paris. Ela fez um único pedido: que a igreja fosse dedicada a Corpus Christi, como hoje é conhecida.
Sua construção durou 20 anos e sua inauguração se deu no ano de 1907 e a consagração no dia 12 de
dezembro de 1909, sendo a sua torre
inaugurada no dia 7 de setembro 1922".
Um blog para difundir e aprofundar temas da presença italiana no Brasil, bem como valorizar o Made in Italy. Um espaço para troca de informações e conhecimento, compartilhando raízes comuns da italianidade que carregamos no sangue e na alma. A italianidade engloba a questão das nossas raízes italianas e também reserva um olhar para a linha do tempo, nela buscando e resgatando uma galeria de personagens famosos ou anônimos que, de alguma forma, inseriram seus nomes na História do Brasil.
quinta-feira, 18 de março de 2010
História ( 119)- "Far l´America (67)": Como surgiu o Vale Vêneto, no Rio Grande do Sul
No final dos setenta do século XIX imigrantes italianos vindos da região do Vêneto fixavam-se na região central do Rio Grande do Sul, expandido a colônia de Silveira Martins. Nascia assim o Vale Vêneto, hoje distrito do município gaúcho de São João de Polesine.
No contexto da fundação desse núcleo italiano passou para a história o nome de Paolo Bortoluzzi. A família Bortoluzzi mantém na internet um relato da chegada de Paolo às terras gaúchas. Em Val del Buia, na colônia de Silveira Martins, Paolo Bortoluzzi e as 120 famílias que liderava, deixavam para trás um rastro de infortúnios, sofrimento e mortes e dirigiram-se para uma localidae próxima, conhecida como Buraco, que mais tarde se transfornmaria em Vale Vêneto.
"Paolo Bortoluzzi, homem de fé inabalável, foi, entre os imigrantes, figura importante que muito fez para que pusessem sua confiança em Deus e não desanimassem, frente a tantas dificuldades vividas no Barracão. Foi então, que em 20 de outubro de 1878, Paolo Bortoluzzi, juntamente com as 120 famílias que liderava, chegou a Vale Vêneto, conhecido inicialmente pelo nome de ”Buraco”, por estar cercado de montes, com declives acentuados, um vale ladeado de paredões rochosos por três lados. Estas pessoas, merecem todo respeito pelo espírito desbravador.
Dormiam no chão como animais, rodeados de montanhas, cobertos de selva. Sabiam que não haveria mais retorno. Partiram, então, para o trabalho, abrindo uma clareira o mais rápido possível e construindo casebres feitos de ripas de coqueiros e cobertos com as folhas dos mesmos. Mantinham aceso sempre um fogo dia e noite, para afugentar os animais ferozes (tigre-preto, lobo do mato, onça, porco do mato). Aos poucos iam construindo as moradias de pau a pique revestidas de barro.
O lugar deixou de ser chamado de 'Buraco' e passou-se a chamar de 'Val dei Bortoluzz', em conseqüência das seis famílias Bortoluzzi, formada de 34 membros, com uma situação financeira de certa forma privilegiada em relação às demais imigrantes que os acompanhavam. Mais tarde, com a chegada de novos imigrantes, passou a ser chamado de 'VAL VÊNETTA', isto após uma reunião feita pelos colonos moradores do Vale, no dia 8 de dezembro de 1881, sempre de acordo com opinião dos mais velhos, como era de costume.
O forte argumento que levou à decisão deste nome era que estavam vivendo em um bonito Vale e também porque procediam da região Vêneto. Porém em 1909, com a visita do bispo de Porto Alegre, Dom José Gonçalves Ponce de Leão, sugeriu que o nome fosse em português. Com o acordo de todos passou-se a chamar-se de Vale Vêneto".
No contexto da fundação desse núcleo italiano passou para a história o nome de Paolo Bortoluzzi. A família Bortoluzzi mantém na internet um relato da chegada de Paolo às terras gaúchas. Em Val del Buia, na colônia de Silveira Martins, Paolo Bortoluzzi e as 120 famílias que liderava, deixavam para trás um rastro de infortúnios, sofrimento e mortes e dirigiram-se para uma localidae próxima, conhecida como Buraco, que mais tarde se transfornmaria em Vale Vêneto.
"Paolo Bortoluzzi, homem de fé inabalável, foi, entre os imigrantes, figura importante que muito fez para que pusessem sua confiança em Deus e não desanimassem, frente a tantas dificuldades vividas no Barracão. Foi então, que em 20 de outubro de 1878, Paolo Bortoluzzi, juntamente com as 120 famílias que liderava, chegou a Vale Vêneto, conhecido inicialmente pelo nome de ”Buraco”, por estar cercado de montes, com declives acentuados, um vale ladeado de paredões rochosos por três lados. Estas pessoas, merecem todo respeito pelo espírito desbravador.
Dormiam no chão como animais, rodeados de montanhas, cobertos de selva. Sabiam que não haveria mais retorno. Partiram, então, para o trabalho, abrindo uma clareira o mais rápido possível e construindo casebres feitos de ripas de coqueiros e cobertos com as folhas dos mesmos. Mantinham aceso sempre um fogo dia e noite, para afugentar os animais ferozes (tigre-preto, lobo do mato, onça, porco do mato). Aos poucos iam construindo as moradias de pau a pique revestidas de barro.
O lugar deixou de ser chamado de 'Buraco' e passou-se a chamar de 'Val dei Bortoluzz', em conseqüência das seis famílias Bortoluzzi, formada de 34 membros, com uma situação financeira de certa forma privilegiada em relação às demais imigrantes que os acompanhavam. Mais tarde, com a chegada de novos imigrantes, passou a ser chamado de 'VAL VÊNETTA', isto após uma reunião feita pelos colonos moradores do Vale, no dia 8 de dezembro de 1881, sempre de acordo com opinião dos mais velhos, como era de costume.
O forte argumento que levou à decisão deste nome era que estavam vivendo em um bonito Vale e também porque procediam da região Vêneto. Porém em 1909, com a visita do bispo de Porto Alegre, Dom José Gonçalves Ponce de Leão, sugeriu que o nome fosse em português. Com o acordo de todos passou-se a chamar-se de Vale Vêneto".
quarta-feira, 17 de março de 2010
História (118)– Especial: Imigrantes e Fascismo(4)
O jornal Folha de S.Paulo, publicou em
setembro de 2007 entrevista com o professor Aneglo Trento, da Università di Napoli. A repórter Adriana Marcoloni abordou com Trento a temática fascismo-imigração iatalina no Brasil. A seguir, um trecho dessa entrevista.
FOLHA – O fascismo foi um instrumento para a identidade e a integração dos imigrantes italianos na sociedade brasileira?
ANGELO TRENTO – O fascismo foi, certamente, um instrumento de construção (e, para as camadas médias, de fortalecimento) de uma identidade nacional que também envolvia as classes populares, que por muito tempo, depois da unidade da Itália [no século 19], haviam permanecido ligadas a uma dimensão regional, quando não local, expressa por meio de usos, costumes e vários dialetos, segundo a região de nascimento. Com sua agressividade verbal, porém, o governo de Mussolini também estimulou uma atitude de distanciamento em relação à sociedade de acolhimento. Esse sentimento de estranhamento representou a exceção e não a regra, mas não resta dúvida de que a aquisição de uma consciência nacional acabou por identificar a italianidade com o fascismo. Assim, as manifestações dos seguidores de Mussolini em terras brasileiras (como em tantos outros países) se identificaram com hinos, desfiles e a ostentação de camisas pretas, terminando por criar uma fricção com a população local.
FOLHA – O governo de Mussolini queria fazer do Brasil uma “nação fascista” ligada a Roma ou nutria pretensões imperialistas?
TRENTO – A ideia do fascismo era aproveitar o número significativo de italianos que viviam e trabalhavam em alguns países da América Latina para criar grupos de pressão e uma atmosfera favorável à Itália, sob a forma de simpatias políticas e com fins econômicos e comerciais, posição já presente na classe dirigente italiana a partir do final do século 19. Não havia pretensões imperialistas nem de expansão territorial.
FOLHA – Em geral, a historiografia brasileira afirma que a ideologia fascista só encontrou seguidores entre a elite da coletividade italiana, enquanto as classes populares abraçaram o anarquismo. Isso é verdade?
TRENTO – Foi apenas uma minoria que se empenhou no movimento operário, defendendo posições anárquicas, anarcossindicalistas e socialistas. De qualquer forma, isso aconteceu antes dos anos 1920 (caracterizados no Brasil por uma grande repressão). O fascismo encontrou sem dúvida um vasto consenso entre a coletividade italiana e não apenas entre as classes altas e as camadas médias, mas também entre a pequena burguesia (como na Itália), principalmente comercial, e entre os próprios operários, principalmente nos anos 1930. Vários fatores contribuíram para esse êxito: primeiro, a ausência ou a fraqueza de um componente do “Risorgimento” na emigração que se dirigiu para o Brasil, a qual, ao contrário do que aconteceu na Argentina e no Uruguai, não havia antes dominado o mundo das associações regionais, orientando-o politicamente de forma desfavorável ao regime.
Em segundo lugar, influiu uma obra de propaganda mais minuciosa, que se valeu não apenas de bolsas de estudo concedidas aos jovens brasileiros, convites de viagem para jornalistas, projeções de filmes e subsídios a jornais locais que falavam bem do regime, mas também de iniciativas culturais (professores visitantes nas universidades brasileiras) e empreendimentos que atingiam o imaginário coletivo, como as travessias aéreas do Atlântico que tinham como meta o Brasil, realizadas por pilotos italianos entre 1927 e 1931. Em terceiro lugar, o prestígio elevado de que gozava Mussolini com a opinião pública, as classes dirigentes e os governos estrangeiros influenciava principalmente os emigrantes. Enfim, no Brasil, havia, mais que nos outros países de forte imigração italiana na América Latina, um corpo diplomático altamente fascistizante depois de 1925.
FOLHA – O fascismo foi um instrumento para a identidade e a integração dos imigrantes italianos na sociedade brasileira?
ANGELO TRENTO – O fascismo foi, certamente, um instrumento de construção (e, para as camadas médias, de fortalecimento) de uma identidade nacional que também envolvia as classes populares, que por muito tempo, depois da unidade da Itália [no século 19], haviam permanecido ligadas a uma dimensão regional, quando não local, expressa por meio de usos, costumes e vários dialetos, segundo a região de nascimento. Com sua agressividade verbal, porém, o governo de Mussolini também estimulou uma atitude de distanciamento em relação à sociedade de acolhimento. Esse sentimento de estranhamento representou a exceção e não a regra, mas não resta dúvida de que a aquisição de uma consciência nacional acabou por identificar a italianidade com o fascismo. Assim, as manifestações dos seguidores de Mussolini em terras brasileiras (como em tantos outros países) se identificaram com hinos, desfiles e a ostentação de camisas pretas, terminando por criar uma fricção com a população local.
FOLHA – O governo de Mussolini queria fazer do Brasil uma “nação fascista” ligada a Roma ou nutria pretensões imperialistas?
TRENTO – A ideia do fascismo era aproveitar o número significativo de italianos que viviam e trabalhavam em alguns países da América Latina para criar grupos de pressão e uma atmosfera favorável à Itália, sob a forma de simpatias políticas e com fins econômicos e comerciais, posição já presente na classe dirigente italiana a partir do final do século 19. Não havia pretensões imperialistas nem de expansão territorial.
FOLHA – Em geral, a historiografia brasileira afirma que a ideologia fascista só encontrou seguidores entre a elite da coletividade italiana, enquanto as classes populares abraçaram o anarquismo. Isso é verdade?
TRENTO – Foi apenas uma minoria que se empenhou no movimento operário, defendendo posições anárquicas, anarcossindicalistas e socialistas. De qualquer forma, isso aconteceu antes dos anos 1920 (caracterizados no Brasil por uma grande repressão). O fascismo encontrou sem dúvida um vasto consenso entre a coletividade italiana e não apenas entre as classes altas e as camadas médias, mas também entre a pequena burguesia (como na Itália), principalmente comercial, e entre os próprios operários, principalmente nos anos 1930. Vários fatores contribuíram para esse êxito: primeiro, a ausência ou a fraqueza de um componente do “Risorgimento” na emigração que se dirigiu para o Brasil, a qual, ao contrário do que aconteceu na Argentina e no Uruguai, não havia antes dominado o mundo das associações regionais, orientando-o politicamente de forma desfavorável ao regime.
Em segundo lugar, influiu uma obra de propaganda mais minuciosa, que se valeu não apenas de bolsas de estudo concedidas aos jovens brasileiros, convites de viagem para jornalistas, projeções de filmes e subsídios a jornais locais que falavam bem do regime, mas também de iniciativas culturais (professores visitantes nas universidades brasileiras) e empreendimentos que atingiam o imaginário coletivo, como as travessias aéreas do Atlântico que tinham como meta o Brasil, realizadas por pilotos italianos entre 1927 e 1931. Em terceiro lugar, o prestígio elevado de que gozava Mussolini com a opinião pública, as classes dirigentes e os governos estrangeiros influenciava principalmente os emigrantes. Enfim, no Brasil, havia, mais que nos outros países de forte imigração italiana na América Latina, um corpo diplomático altamente fascistizante depois de 1925.
História ( 117)- "Far l´America (65)": Imigração e associativismo italiano em Ribeirão Preto
A expansão da atividade cafeeira no Oeste de São Paulo, na segunda metade do século XIX, impulsionou, como se sabe, políticas de incentivo à imigração. Nesse contexto a cidade de Ribeirão Preto surge com um pólo de atração dessa nova mão de obra. Em sua dissertação de mestrado, Patricia Gomes Furlanetto traça um panorama da fixação do imigrante italiano ás terras daquela cidade e foca seu trabalho no
Ela lembra que entre 1890 e 1902, a população de Riberirão saltou de pouco mais de 12 mil habitantes para quase 53 mil habitantes, sendo que 27. 775 eram italianos.
A rede de proteção dessa comunidade estava alicerçada num pilar bem definido: as sociedades de mútuo-socorro.
Ao resumir o seu estudo a autora lembra que a tese "tem como objetivo a análise das práticas associativas de imigrantes italianos na cidade de Ribeirão Preto entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX. A escolha da cidade de Ribeirão Preto deveu-se, além da expressividade do fluxo migratório italiano, ao perfil do imigrante e à sua participação na dinâmica sócio-econômica de uma sociedade local inserida na expansão cafeeira no Estado de São Paulo.
O foco da reflexão, por sua vez, centrou-se na forma como esses imigrantes se organizaram e intensificaram suas relações através de mecanismos de ajuda mútua e de solidariedade, ganhando novos espaços e significados num país que desconhecia políticas de previdência social. No decorrer da dinâmica cotidiana e das inúmeras adaptações, essa prática associativa adquiriu novos significados através de uma mediação entre a (re)criação de uma identidade coletiva de "italianidade" e os costumes diversos de um grupo que, apesar de heterogêneo, em vários momentos necessitou demonstrar coesão.
Além da contingência gerada pelo próprio ato de migrar, os diversos segmentos sociais de uma Itália em processo de unificação, ao criarem suas redes sociais, depararam-se com a necessidade de uma identidade étnica, apesar dos diversos conflitos de interesses. Assim, o objetivo de conquistar a liberdade/dignidade, fosse pelo trabalho, pelo exercício da cidadania, ou pela declaração afirmativa de luta de classes, possuiu a solidariedade e identidade étnica como instrumento hábil. Para tanto, enfoquei a formação das sociedades italianas Societá Operaia di Mutuo Soccorso Unione Italiana, Societá Italiana di Mutuo Soccorso Unione e Fratellanza, Societá Unione Meridionale, Societá di Mutuo Soccorso e Beneficenza Pàtria e Lavoro e a Societá Dante Alighieri.
A documentação em questão se insere num conjunto de livros de atas, listas de sócios, imprensa de língua nacional e italiana, registros de impostos e outros registros referentes aos membros das sociedades e da cidade de Ribeirão Preto. Diante desse grande conjunto documental, optei por analisar a formação das respectivas sociedades, seus principais integrantes e suas inúmeras estratégias e, ao analisá-lo, procurei compor uma leitura que refletisse sobre as práticas desses imigrantes e como lograram associações que tiveram grande importância na cidade de Ribeirão Preto”.
Ao resumir o seu estudo a autora lembra que a tese "tem como objetivo a análise das práticas associativas de imigrantes italianos na cidade de Ribeirão Preto entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX. A escolha da cidade de Ribeirão Preto deveu-se, além da expressividade do fluxo migratório italiano, ao perfil do imigrante e à sua participação na dinâmica sócio-econômica de uma sociedade local inserida na expansão cafeeira no Estado de São Paulo.
O foco da reflexão, por sua vez, centrou-se na forma como esses imigrantes se organizaram e intensificaram suas relações através de mecanismos de ajuda mútua e de solidariedade, ganhando novos espaços e significados num país que desconhecia políticas de previdência social. No decorrer da dinâmica cotidiana e das inúmeras adaptações, essa prática associativa adquiriu novos significados através de uma mediação entre a (re)criação de uma identidade coletiva de "italianidade" e os costumes diversos de um grupo que, apesar de heterogêneo, em vários momentos necessitou demonstrar coesão.
Além da contingência gerada pelo próprio ato de migrar, os diversos segmentos sociais de uma Itália em processo de unificação, ao criarem suas redes sociais, depararam-se com a necessidade de uma identidade étnica, apesar dos diversos conflitos de interesses. Assim, o objetivo de conquistar a liberdade/dignidade, fosse pelo trabalho, pelo exercício da cidadania, ou pela declaração afirmativa de luta de classes, possuiu a solidariedade e identidade étnica como instrumento hábil. Para tanto, enfoquei a formação das sociedades italianas Societá Operaia di Mutuo Soccorso Unione Italiana, Societá Italiana di Mutuo Soccorso Unione e Fratellanza, Societá Unione Meridionale, Societá di Mutuo Soccorso e Beneficenza Pàtria e Lavoro e a Societá Dante Alighieri.
A documentação em questão se insere num conjunto de livros de atas, listas de sócios, imprensa de língua nacional e italiana, registros de impostos e outros registros referentes aos membros das sociedades e da cidade de Ribeirão Preto. Diante desse grande conjunto documental, optei por analisar a formação das respectivas sociedades, seus principais integrantes e suas inúmeras estratégias e, ao analisá-lo, procurei compor uma leitura que refletisse sobre as práticas desses imigrantes e como lograram associações que tiveram grande importância na cidade de Ribeirão Preto”.
História (116)– Especial: Imigrantes e Fascismo(3)
A difusão do regime fascista de Benito Mussolini encontrou no Brasil uma ponte segura e eficaz representada pelo associativismo italiano, sobretudo as sociedades de mútuo-socorro. É o que mostra o trabalho de Rosane Siqueira Teixeira quem tem por título Nacionalismo-fascismo-italianidade .
"No Brasil, de maneira geral, a Itália fascista mantinha uma boa imagem na opinião da população (Cf. Cervo, 1992). O primeiro Fascio foi constituído em São Paulo no ano de 1923 e após os anos trinta já contava com um número considerável de organizações espalhadas por todo o Estado. O Partido Nacional Fascista 'viu desde início a emigração como expressão máxima de uma vigorosa vitalidade expansionista dos italianos' e, para este, era necessário 'levar os que residiam fora das fronteiras da pátria a identificar a italianidade com o fascismo' (Trento, 1989, p. 333). Assim, o ponto forte de penetração fascista foram as sociedades italianas, incluindo as associações de socorro mútuo e de beneficência, que apesar de não contarem com um número tão expressivo de sócios, como por exemplo, nas associações da Argentina, espalharam-se por todo território nacional (Cf. Trento, 1989). A tese de que essas associações poderiam ser um poderoso instrumento de difusão dos ideais nacionalistas, contudo, não era nova. De Luca (1990, p. 150) assinala que desde 1910 o governo italiano já havia pensado na possibilidade de apoiá-las “em função de sua importância como instrumento capaz de de preservar a italianidade".
"No Brasil, de maneira geral, a Itália fascista mantinha uma boa imagem na opinião da população (Cf. Cervo, 1992). O primeiro Fascio foi constituído em São Paulo no ano de 1923 e após os anos trinta já contava com um número considerável de organizações espalhadas por todo o Estado. O Partido Nacional Fascista 'viu desde início a emigração como expressão máxima de uma vigorosa vitalidade expansionista dos italianos' e, para este, era necessário 'levar os que residiam fora das fronteiras da pátria a identificar a italianidade com o fascismo' (Trento, 1989, p. 333). Assim, o ponto forte de penetração fascista foram as sociedades italianas, incluindo as associações de socorro mútuo e de beneficência, que apesar de não contarem com um número tão expressivo de sócios, como por exemplo, nas associações da Argentina, espalharam-se por todo território nacional (Cf. Trento, 1989). A tese de que essas associações poderiam ser um poderoso instrumento de difusão dos ideais nacionalistas, contudo, não era nova. De Luca (1990, p. 150) assinala que desde 1910 o governo italiano já havia pensado na possibilidade de apoiá-las “em função de sua importância como instrumento capaz de de preservar a italianidade".
terça-feira, 16 de março de 2010
Italianità - Dança e música preservam raízes no Espírito Santo
Em Cariacica, no Espírito Santo, grupos folclóricos ajudam a manter vivo o sentimento de italianidade, como relata o site Espírito Santo em Foco .
"O Grupo di Ballo Saltarello foi fundado em 21/02/2002 e é filiado à Associação da Cultura Italiana de Cariacica (ACIC) conta com um repertório variado e apresenta danças de várias regiões da Itália, visto que cada região possui uma característica diferente e traços individuais. O grupo é conhecido pela originalidade das danças vivenciadas em cada coreografia, alegre e vibrante. Vem percorrendo todo o Estado do Espírito Santo e demais estados brasileiros, inovando sempre suas danças e através de cursos, na certeza de desenvolver ainda mais seu trabalho e manter vivas as tradições italianas".
Coral Italiano Infanto Juvenil Gingin D'Amore.
Formado em abril de 1996, para cantar no 13º Congresso Eucarístico Nacional. Mais tarde, com o apoio dos pais e incentivo da comunidade, surgiu a iniciativa de continuar com o coral, porém com canções italianas . O primeiro ensaio do coral deu-se no dia 19 de fevereiro de 1997, nascendo assim o Coral Italiano Infanto Juvenil Gingin D'Amore, sua primeira apresentação foi na Festa do Bom Pastor em Campo Grande - Cariacica - E.S., em abril de 1997. Daí por diante, o Coral Italiano Infanto Juvenil "Gingin D'Amore", vem se apresentando com muita animação, representando a arte de cantar, alegrando festas típicas, eventos religiosos, festas de famílias tradicionalmente italianas abertura de pela ACIC.
Gruppo Folkloristico Tarantella
Fundado em março de 2003, representa a continuidade da cultura italiana com apresentações de danças típicas de todas as regiões da Itália, estando vinculado a Associação dos Moradores do Núcleo de Campo Grande, a mesma que promove anualmente o "Encontro dos Descendentes de Italianos de Cariacica". A criação do grupo se fez com a intenção de despertar na sociedade a importância do folclore, seja qual for a cultura em questão. O grupo acredita que através da divulgação da cultura italiana, somado aos outros grupos folclóricos, a sociedade, principalmente jovens e crianças, seja em comunidades ou escolas, se interessarão em resgatar e preservar não só a cultura italiana, mas todas as culturas existentes em nosso País".
"O Grupo di Ballo Saltarello foi fundado em 21/02/2002 e é filiado à Associação da Cultura Italiana de Cariacica (ACIC) conta com um repertório variado e apresenta danças de várias regiões da Itália, visto que cada região possui uma característica diferente e traços individuais. O grupo é conhecido pela originalidade das danças vivenciadas em cada coreografia, alegre e vibrante. Vem percorrendo todo o Estado do Espírito Santo e demais estados brasileiros, inovando sempre suas danças e através de cursos, na certeza de desenvolver ainda mais seu trabalho e manter vivas as tradições italianas".
Coral Italiano Infanto Juvenil Gingin D'Amore.
Formado em abril de 1996, para cantar no 13º Congresso Eucarístico Nacional. Mais tarde, com o apoio dos pais e incentivo da comunidade, surgiu a iniciativa de continuar com o coral, porém com canções italianas . O primeiro ensaio do coral deu-se no dia 19 de fevereiro de 1997, nascendo assim o Coral Italiano Infanto Juvenil Gingin D'Amore, sua primeira apresentação foi na Festa do Bom Pastor em Campo Grande - Cariacica - E.S., em abril de 1997. Daí por diante, o Coral Italiano Infanto Juvenil "Gingin D'Amore", vem se apresentando com muita animação, representando a arte de cantar, alegrando festas típicas, eventos religiosos, festas de famílias tradicionalmente italianas abertura de pela ACIC.
Gruppo Folkloristico Tarantella
Fundado em março de 2003, representa a continuidade da cultura italiana com apresentações de danças típicas de todas as regiões da Itália, estando vinculado a Associação dos Moradores do Núcleo de Campo Grande, a mesma que promove anualmente o "Encontro dos Descendentes de Italianos de Cariacica". A criação do grupo se fez com a intenção de despertar na sociedade a importância do folclore, seja qual for a cultura em questão. O grupo acredita que através da divulgação da cultura italiana, somado aos outros grupos folclóricos, a sociedade, principalmente jovens e crianças, seja em comunidades ou escolas, se interessarão em resgatar e preservar não só a cultura italiana, mas todas as culturas existentes em nosso País".
História (115)– Especial: Imigrantes e Fascismo(2)
Em O Brasil,
os imigrantes italianos e a política externa fascista, 1922-1943 , o pesquisador João Fábio Bertonha (Unicamp) mostra qual era, em 1925, olhar do governo fascista da Itália em relação aos imigrantes radicados no Brasil em 1925,
"Os interesses italianos para o Brasil nos anos 20 podem ser melhor compreendidos, porém, através da leitura de um surpreendente relatório escrito em 1925 por um emissário do governo italiano que, após passar três anos no Brasil, enviou um relato incrivelmente lúcido, tanto sobre a situação dos italianos no Brasil como sobre as pretensões de Roma no país na década de 20.
Umberto Sala inicia seu relatório4 comentando como a Itália continuava sua crise demográfica e que, fechada a porta americana, a única saída disponível era a América do Sul e, em especial, o Brasil. Sala ressaltava imediatamente, porém, que isso era apenas um potencial e que vários fatores (exploração capitalista em níveis fora do concebível mesmo de italianos para italianos, ação estatal de proteção aos trabalhadores inexistente, etc) inibiam um retorno da migração italiana de massa para o Brasil.
Ainda assim, o autor acreditava no enorme potencial do Brasil e em especial do Estado de São Paulo e augurava como fundamental o não abandono do país pela política italiana. Nesse sentido, Umberto Sala lamentava o relativamente baixo nível de envolvimento dos italianos na política paulista e discutia como seria proveitoso fazer os italianos e seus filhos conservarem a italianidade, mas agirem na política local em defesa dos interesses da comunidade e da Pátria mãe.
Nesse momento, o autor ressaltava que, se fosse possível realmente fazer os italianos influírem na vida política do Estado, estes conseguiriam, por simples peso demográfico, criar um grande centro de influência italiana na América Latina. Incorporar militarmente esse centro à Itália seria, continua o autor, muito difícil devido à distância e à presença do poder dos Estados Unidos, mas surgiria, de qualquer forma, um centro de expansão da raça italiana, onde a solidariedade de origem, raça e cultura formaria algo semelhante a um “Dominion” inglês como o Canadá ou a Austrália, onde se poderia contar com um lugar conveniente para enviar os excedentes demográficos italianos, um aliado seguro em caso de guerra e uma complementação econômica que seriam básicas para a sobrevivência da raça italiana.
A tendência separatista de São Paulo também seria um fator auxiliar para firmar o predomínio italiano no estado. Em nome dessas possibilidades, o autor recomendava o retorno da imigração italiana, as boas relações com o Brasil e a firme união da coletividade em torno da italianidade e das diretrizes de Roma. Para isso, as sessões dos fasci all’estero e das associações dos ex-combatentes seriam fundamentais, e ele termina seu relatório ressaltando o progresso e o desenvolvimento desses órgãos”.
"Os interesses italianos para o Brasil nos anos 20 podem ser melhor compreendidos, porém, através da leitura de um surpreendente relatório escrito em 1925 por um emissário do governo italiano que, após passar três anos no Brasil, enviou um relato incrivelmente lúcido, tanto sobre a situação dos italianos no Brasil como sobre as pretensões de Roma no país na década de 20.
Umberto Sala inicia seu relatório4 comentando como a Itália continuava sua crise demográfica e que, fechada a porta americana, a única saída disponível era a América do Sul e, em especial, o Brasil. Sala ressaltava imediatamente, porém, que isso era apenas um potencial e que vários fatores (exploração capitalista em níveis fora do concebível mesmo de italianos para italianos, ação estatal de proteção aos trabalhadores inexistente, etc) inibiam um retorno da migração italiana de massa para o Brasil.
Ainda assim, o autor acreditava no enorme potencial do Brasil e em especial do Estado de São Paulo e augurava como fundamental o não abandono do país pela política italiana. Nesse sentido, Umberto Sala lamentava o relativamente baixo nível de envolvimento dos italianos na política paulista e discutia como seria proveitoso fazer os italianos e seus filhos conservarem a italianidade, mas agirem na política local em defesa dos interesses da comunidade e da Pátria mãe.
Nesse momento, o autor ressaltava que, se fosse possível realmente fazer os italianos influírem na vida política do Estado, estes conseguiriam, por simples peso demográfico, criar um grande centro de influência italiana na América Latina. Incorporar militarmente esse centro à Itália seria, continua o autor, muito difícil devido à distância e à presença do poder dos Estados Unidos, mas surgiria, de qualquer forma, um centro de expansão da raça italiana, onde a solidariedade de origem, raça e cultura formaria algo semelhante a um “Dominion” inglês como o Canadá ou a Austrália, onde se poderia contar com um lugar conveniente para enviar os excedentes demográficos italianos, um aliado seguro em caso de guerra e uma complementação econômica que seriam básicas para a sobrevivência da raça italiana.
A tendência separatista de São Paulo também seria um fator auxiliar para firmar o predomínio italiano no estado. Em nome dessas possibilidades, o autor recomendava o retorno da imigração italiana, as boas relações com o Brasil e a firme união da coletividade em torno da italianidade e das diretrizes de Roma. Para isso, as sessões dos fasci all’estero e das associações dos ex-combatentes seriam fundamentais, e ele termina seu relatório ressaltando o progresso e o desenvolvimento desses órgãos”.
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