Um blog para difundir e aprofundar temas da presença italiana no Brasil, bem como valorizar o Made in Italy. Um espaço para troca de informações e conhecimento, compartilhando raízes comuns da italianidade que carregamos no sangue e na alma. A italianidade engloba a questão das nossas raízes italianas e também reserva um olhar para a linha do tempo, nela buscando e resgatando uma galeria de personagens famosos ou anônimos que, de alguma forma, inseriram seus nomes na História do Brasil.
domingo, 19 de dezembro de 2010
Cultura: la mangiatoia napoletana di San Paolo
‘Una rappresentazione di uno dei simboli universali della nascita di Gesù e un'opera d'arte composta da oltre 1.620 pezzi del secolo XVIII, epoca del regno di Carlo III a Napoli. E' il Presepe Napoletano di San Paolo, paragonabile solamente a quelli che si trovano nei musei San Martino di Napoli e al Metropolitan Museum di New York.
Il presepe fu comprato in Italia nel 1949 dal Conte Ciccillo Matarazzo Sobrinho, nipote del Conte Francesco Matarazzo, nato a Castellabate nel 1854 e arrivato in Brasile nel 1881. Fu esposto a San Paolo per la prima volta il 4 ottobre del 1950 nella Galleria Prestes Maia, restando in esposizione per 11 mesi all'anno. Oggi è visitabile in uno spazio espositivo permanente, attiguo al Museu da Arte Sacra di San Paolo, in una cappella costruita nel 1908.
La sua scenografia riproduce con fedeltà il paesaggio napoletano, con figure ed accessori realizzati in terracotta e legno. La ricomposizione delle figure venne realizzata dall'artigiano italiano Gregorio Tinelli, l'ambientazione scenografica da Tullio Costa con la collaborazione di Italo Bianchi.
Cercando di mantenere una tradizione dell'epoca, vennero costruite le miniature delle case in mattoni, circondate da stradine e piazze tipiche del borgo napoletano del secolo XVIII e da marciapiedi realizzati con piccolissime pietre. Nell'insieme, rappresentato da diverse scene di vita quotidiana, si differenzia solo la rappresentazione della nascita di Gesù, con la Sacra Famiglia circondata da angeli, arcangeli e cherubini’.
Cultura: A manjedoura napolitana em São Paulo
Uma representação de um dos símbolos universais do nascimento de Jesus e uma obra de arte de mais de 1.620 peças do século XVIII, época do reinado de Carlos III em Nápoles. Este é o Presépio Napolitano de São Paulo, somente comparável aos conjuntos que estão nos museus San Martino (Napoli) e Metropolitano (Nova Iorque). Baseada em pesquisas e montagens anteriores, sua nova cenografia reproduz com fidelidade a paisagem napolitana, permitindo que figuras e acessórios - feitas de terracota e madeira e esculpidas - ganhem vida e movimento em sua riqueza de detalhes e expressões.
O presépio chegou ao País pelas mãos do herdeiro do conde Francesco Matarazzo, Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo, em 1949. A recomposição das figuras foi realizada pelo artesão italiano Gregório Tinelli e a ambientação cenográfica por Tullio Costa com a colaboração de Ítalo Bianchi, que mantendo uma tradição da época construíram as miniaturas das casas tijolo por tijolo, cobertas com telhas verdadeiras fabricadas especialmente para a montagem. As vielas e as praças do cenário representando uma vila napolitana do século XVIII idealizada também foram calçadas com pequenas pedras colocadas uma a uma.
Em 4 de outubro de 1950, dia de São Francisco de Assis - considerado o precursor da arte dos presépios -, o Presépio Napolitano foi, finalmente, aberto à visitação pública na Galeria Prestes Maia - atual filial do Masp-, permanecendo em exposição por 11 meses. Sua desmontagem, mesmo com o sucesso de público, ocorreu quando da instalação da escada rolante na galeria. O acervo foi, então, embalado e transferido por cinco anos para a Metalúrgica Matarazzo.
O prestígio de Ciccillo Matarazzo, membro da Comissão do IV Centenário de São Paulo, favoreceu que a Prefeitura Municipal recebesse em 1956 a doação do acervo, transferido para o antigo Pavilhão do Folclore na grande marquise do Parque Ibirapuera. Estava garantida a preservação do conjunto napolitano e lançada a semente para o futuro Museu de Presépios, que somente em 2 de abril de 1969 seria oficialmente inaugurado pelo prefeito Faria Lima. Em outubro do ano seguinte, a coleção foi doada ao Governo do Estado de São Paulo, permanecendo no Parque Ibirapuera até dezembro de 1985, quando o acervo, pelas péssimas condições ambientais e técnicas do local, foi transferido para o Mosteiro da Luz, sede do Museu de Arte Sacra.
Após 50 anos de sua aquisição por Ciccillo Matarazzo, o valioso presépio passou a contar com um espaço expositivo permanente. A antiga residência do capelão, contígua ao atual Museu de Arte Sacra e construída em 1908, foi integralmente reformada pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, propiciando um ambiente museológico adequado e a correta instalação do acervo, a partir de critérios de preservação e conservação.
A Restauração - A montagem atual, que contou com a colaboração do historiador napolitano arte Luciano Migliaccio, professor na Universidade de São Paulo. Seguindo a concepção do presépio como um conjunto unitário, manteve as características principais desenvolvidas por Tullio Costa na década de 50, baseando-se também em referências da arquitetura das vilas da Itália meridional e em pinturas napolitanas do século XVIII. Análises técnicas, no entanto, revelaram a inadequação de alguns elementos do antigo cenário, que incluía produtos não recomendados para a conservação do acervo devido à volatização de produtos químicos e liberação de compostos nocivos que aceleravam a degradação das peças do conjunto.
Com a impossibilidade de reutilização do cenário anterior, iniciaram-se, em janeiro de 1998, os trabalhos de uma nova cenografia, com materiais de caráter inerte e baixos índices de emissão ou migração de componentes prejudiciais. A partir da catalogação e medição de cada peça do conjunto, foi executada uma maquete volumétrica para visualização espacial dos núcleos cenográficos e compatibilidade de escala de seus elementos.
O suporte das montagens anteriores, construído em madeira e infectado por cupins, também foi abandonado. A nova estrutura metálica é composta por módulos fixos e móveis, permitindo o acesso de técnicos para manutenção das peças, isolada do espaço de circulação do público por um vidro. Este isolamento atende às exigências de monitoramento ambiental (temperatura, umidade, poluentes) conforme as normas de conservação e mantém condições de segurança do acervo.
O Presépio, além de representar uma obra de arte de grande raridade, constitui-se em importante testemunho histórico e antropológico da sociedade napolitana do século XVIII. O conjunto, com um total de 1620 peças, é formado por 445 figuras humanas, com grande parte conservando suas roupas originais, que reproduzem com exatidão as vestimentas das diferentes classes sociais e dos diferentes povoados do reino de Napoli no período.
A técnica de confecção das imagens, que variam de dez a 50 centímetros, permite que possam ser movimentadas e colocadas em conjuntos variados. O corpo dos pequenos manequins é formado por armação de arame envolto em fios de estopa. A cabeça e as extremidades são modeladas em terracota ou esculpidas em madeira.
No conjunto, apresentado por cenas integradas, destaca-se o nascimento de Jesus, com a Sagrada Família envolvida por anjos, arcanjos e querubins. Animando a chegada do cortejo dos Magos, nove músicos e acessórios são distribuídos no início da escada da ruína romana.
O Cortejo, uma das cenas mais ricas, apresenta árabes, indianos, chineses, etíopes, pigmeus, caucasianos, tártaros e negros. No Chafariz aparecem camponesas, provincianas e vendedores ambulantes.
Na cena da Casa Rica, retrata-se o momento da ceia, com a mesa guarnecida de toalha de renda e bordados, baixela de prata e porcelana. A animação da festa é representada pela "tarantella", dança típica que envolve nove figuras.
O esplendor do Presépio se completa com as cenas ligadas ao trabalho cotidiano do vilarejo. Dezenas de acessórios, animais e figuras representam as atividades do ferreiro, sapateiro, barbeiro, verdureiro, entre outras.
sábado, 18 de dezembro de 2010
História (225) – Imigração trentina e o papel da Igreja (2)
O trabalho “Igreja e italianidade: Rio Grande do Sul (1875-1945)”, produzido por Paulo César Possamai (DH/FFLCH/USP ), dá destaque ao clero italiano que acompanhou a imigração trentina no brasil.
A presença de um sacerdote entre os imigrantes dava-lhes um sentimento de segurança e de bênção ao movimento emigratório, aumentando a identificação entre o campesinato e o baixo clero. Contudo, o mesmo sentimento não se repetia com relação ao alto clero, que identificava-se com as classes dominantes. Quando o bispo de Crema, na província de Cremona, pediu aos presentes à missa que pensassem seriamente sobre a decisão de emigrar, exortando os fiéis a não desesperarem-se, um após outro, os camponeses abandonaram a igreja de Cascine Gandine, deixando o bispo só. Para esses camponeses, seduzidos pelo sonho de fare l'America, o bispo estava a serviço dos patrões (VILLA, 1993, p. 81).
Entre os agentes de emigração encontrava-se um padre, que da central de recrutamento no Canal do Brenta, próximo a Bassano, havia enviado ao Brasil, em 1877, mais de dois mil camponeses vênetos. A maioria deles seguiu com destino ao Paraná (VILLA, 1993, p. 75). A escolha de um sacerdote para o cargo de agente de imigração certamente tinha como objetivo aproveitar a confiança que os camponeses depositavam no clero, sentindo-se assim, mais seguros para tomar a difícil decisão de emigrar para um país estranho'.
A presença de um sacerdote entre os imigrantes dava-lhes um sentimento de segurança e de bênção ao movimento emigratório, aumentando a identificação entre o campesinato e o baixo clero. Contudo, o mesmo sentimento não se repetia com relação ao alto clero, que identificava-se com as classes dominantes. Quando o bispo de Crema, na província de Cremona, pediu aos presentes à missa que pensassem seriamente sobre a decisão de emigrar, exortando os fiéis a não desesperarem-se, um após outro, os camponeses abandonaram a igreja de Cascine Gandine, deixando o bispo só. Para esses camponeses, seduzidos pelo sonho de fare l'America, o bispo estava a serviço dos patrões (VILLA, 1993, p. 81).
Entre os agentes de emigração encontrava-se um padre, que da central de recrutamento no Canal do Brenta, próximo a Bassano, havia enviado ao Brasil, em 1877, mais de dois mil camponeses vênetos. A maioria deles seguiu com destino ao Paraná (VILLA, 1993, p. 75). A escolha de um sacerdote para o cargo de agente de imigração certamente tinha como objetivo aproveitar a confiança que os camponeses depositavam no clero, sentindo-se assim, mais seguros para tomar a difícil decisão de emigrar para um país estranho'.
História (224) – Imigração trentina e o papel da Igreja (1)
O êxodo de trentinos rumo
ao Brasil tem ligação direta com a ação de padres italianos, conforme mostra o
trabalho ““Igreja e italianidade: Rio Grande do Sul (1875-1945)”, produzido por Paulo César Possamai (DH/FFLCH/USP ).
A maioria dos imigrantes italianos que se instalou no Rio Grande do Sul, a partir de 1875, provinha das regiões italianas do Vêneto, Lombardia e Friuli e ainda do Trentino onde, pelo fato de pertencer aos domínios da Casa de Habsburgo, apesar da maioria da população ser étnica e culturalmente italiana, o movimento emigratório assumiu características próprias com relação à emigração italiana propriamente dita.
Do século XI até 1805, quando foi cedido à Baviera por Napoleão, Trento foi uma cidade-livre do Sacro Império Romano-Germânico, governada por príncipes-bispos. A maioria da população trentina era composta de camponeses (cerca de 90% da população total), cujo caráter pragmático se preocupava mais com a cobrança das taxas e impostos e com o número de soldados requisitados pelo governo do que com a nacionalidade dos governantes.
Por isso uma das raras rebeliões ocorridas no Trentino aconteceu em 1809, quando o governo bávaro tentou impor a conscrição obrigatória à toda a população masculina da região. A revolta logo recebeu o apoio da Áustria, que ambicionava anexar a província rebelde. A situação foi controlada por Napoleão, que, através do Tratado de Paris, de 1810, transferiu o domínio político do Trentino, da Baviera para o reino napoleônico da Itália.
Com a derrota de Napoleão, a Áustria ocupou a região em 07 de abril de 1815, data marcada pela visita do imperador Francisco I a Trento. Em 1816, o principado de Trento foi anexado à província austríaca do Tirol, passando desde então a chamar-se oficialmente "Tirol Meridional", numa clara tentativa de assimilação, já que o Tirol é uma região caracteristicamente germânica. Naturalmente, essa atitude do governo austríaco provocou descontentamento na população que, em 1848, enviou a Viena um abaixoassinado pedindo autonomia administrativa para o Trentino.
O governo austríaco não só ignorou o pedido como, em 1854, proibiu o uso do nome "Trentino" que, a partir de então deveria ser substituído por "Tirol Meridional" ou "Tirol Italiano" (GROSSELLI, 1986, p. 22-28).
Contudo, a luta nacionalista pela unificação do Trentino à Itália era uma preocupação marcadamente burguesa e citadina, já que os camponeses não engajaram-se na luta. O conservadorismo e o clericalismo eram as bases da sociedade trentina, majoritariamente camponesa, por isso a ocupação de Roma em 1870 significou a falta de apoio popular à unificação com a Itália, acusada de usurpar os domínios temporais do Papa.
O jornal católico "Voce Cattolica" assim definiu o liberalismo em 16.09.1870: "Il liberalismo, come vedemmo, altro non è in sostanza che la ribellione sistematizzata a Dio Creatore e Redentore nell'ordine naturale e soprannaturale; altro non vuole, che la scristianizzazione dell'individuo, della famiglia e della società, e la distruzione della Chiesa Cattolica" (apud GROSSELLI, 1986, p. 33).
Essa posição anti-liberal do clero e, por sua influência, da maior parte da população do Trentino, marcou os imigrantes trentinos no Brasil, onde faziam questão de diferenciar-se dos "italianos" como "tiroleses", não tanto por nacionalismo austríaco ou fidelidade à Casa d'Áustria mas, sim por não pertencer a um país condenado pela Igreja pelo seu liberalismo anti-clerical. De fato, a Igreja Católica foi para o campesinato trentino, como também para o italiano, o que o Estado nacional foi para a burguesia emergente e o que foram os sindicatos e os partidos políticos para o proletariado urbano. Na Igreja se formavam os quadros dirigentes do campesinato, para o qual o padre não era somente um sacerdote, mas também um líder intelectual.
A moral camponesa era a moral católica e a verdadeira autoridade reconhecida por essa grande parcela da população era o clero (GROSSELLI, 1986, p. 142).
A emigração em massa não se explica, pois, somente pela fuga à pobreza e, por vezes, à miséria em que viviam os camponeses italianos e trentinos. Sob a liderança do clero, os emigrantes buscavam reconstruir na América uma sociedade que passava por profundas transformações na Europa em conseqüência do avanço das idéias liberais e socialistas, da urbanização crescente, da industrialização e do militarismo (GROSSELLI, 1986, p. 145-154). A fim de fugir da nova ordem, uma parte do clero acalentou o ideal de reconstruir no Novo Mundo uma sociedade camponesa e clerical. Um sacerdote da província italiana de Treviso chegou a afirmar "que estando a religião em decadência na Itália, justificava-se emigrar para a América a fim de aí estabelecer-se uma colônia piedosa" (DORE, apud AZEVEDO, 1975, p. 63).
A emigração em busca de trabalho em países vizinhos já era tradicional entre os habitantes do norte da Itália e do Trentino, porém, com a chegada dos agentes de imigração às aldeias italianas retratando os países americanos como um verdadeiro Éden, surgiu uma verdadeira "febre americana" entre os camponeses italianos. A emigração desse período não foi um fenômeno individual, mas de grupo, e, se esse verdadeiro êxodo se desenvolveu num clima relativamente pacífico, isso foi devido à influência do clero, que procurou evitar o surgimento de tensões entre as classes sociais no momento da partida, que, por vezes se assemelhava a uma grande procissão, quando os emigrantes seguiam o caminho para o porto de embarque acompanhados pelo som dos sinos, precedidos por um cruz ou o estandarte de um santo (VILLA, 1986, p. 75-76).
Nesses grupos de emigrantes partia tanta gente que, por vezes, a inteira população de uma aldeia decidia emigrar em conjunto, situação dramática que levou muitos párocos a aderir e mesmo liderar o movimento emigratório. Entre os padres que acompanharam grupos de emigrantes encontramos o padre trentino Bartolomeu Tiecher que, em 1875, partiu rumo ao Brasil na companhia de um grupo de 208 imigrantes italianos e 392 trentinos, entre os quais se encontravam seus pais e irmãos. Chegando ao Rio Grande do Sul, o padre Tiecher foi nomeado pelo governo imperial capelão da Colônia de Santa Maria da Soledade do Farromeco. Em 1886 tornou-se vigário da recém-criada paróquia de Garibaldi (RUBERT, 1977, p. 47-50).
O padre Domenico Munari, pároco de Fastro, diocese de Pádua, ofereceu-se para emigrar junto com seus paroquianos e, em 1876, partiu com um grupo de 275 imigrantes italianos que embarcaram em Bordéus, na França, rumo ao Brasil. Apesar do navio em que viajavam ter naufragado próximo a La Rochelle, ele e seu grupo retomaram a viagem ao Rio Grande do Sul, onde Munari estabeleceu-se como o primeiro pároco de Bento Gonçalves (RUBERT, 1977, p. 51-53)”.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
História (224) - Contrastes Norte-Sul na imigração italiana em Pedrinhas
O artigo “Por uma etnografia feminista das migrações
internacionais: dos estudos de aculturação para os estudos de gênero” , de autoria de Ethel V. Kosminsky ( Universidade
Estadual Paulista, campus de Marília) toma como referência o livro Italianos no mundo rural paulista), de
João Baptista Borges Pereira. O professor da USP, nos anos 60 realizou pesquisa
na cidade de Pedrinhas, interior de São Paulo.
Num dos capítulos dessa importante obra, Borges Pereira mostra que havia diferenças
entre as mulher italiana meridional e a mulher italiana vinda do Norte.
“ Após distinguir a mulher proveniente do sul e aquela
originária do norte da Itália, em diferentes situações observadas, Borges
Pereira afirma que a mulher do norte, em situações públicas,
‘é pouco resguardada de contatos com indivíduos de outro
sexo. Vendo-a em situações públicas, não se tem a impressão de que ela esteja
sob o controle do marido. Traja-se mais dentro da "moda", e a
passagem da situação de solteira para a de casada não altera neste ponto o seu
comportamento. As mudanças são determinadas, em tais aspectos exteriores,
apenas pela idade que distingue a anciã da jovem mulher casada. Dentro de casa,
a situação se altera; desaparece a mulher relativamente comunicativa e surge a
mulher silenciosa. Hospeda o visitante com polidez, porém com certa frieza. Seu
marido é o seu porta-voz, ao atender o visitante e ao responder às perguntas
que lhe são formuladas, mesmo as de caráter doméstico. Raramente ela participa
do assunto, embora esteja no mesmo recinto da reunião. Em geral, ela fica
distante dos interlocutores, a um canto da sala, silenciosa, mas ouvindo toda a
conversação. A confiar, porém, nos informantes masculinos, todo esse alheamento
é apenas aparente e superficial, ditado por padrões de etiqueta, que de forma
alguma a colocam à margem dos assuntos mais importantes da família. Para usar a
expressão de um informante, a "hora da mulher falar é no
travesseiro". À noite, a sós com o marido, ela dá a sua opinião, e desta
forma dirige os rumos dos acontecimentos. À luz do dia – para usar uma
comparação cômoda – o chefe transmite, como sendo dele, a opinião expedida pela
esposa, que o grupo aceita como tendo partido do capo. Os filhos já conhecem a
influência de bastidores da mulher subreptícia, por isso toda a técnica de aproximação
do pai começa pela aproximação da mãe, sem, porém, colocar em dúvida a
autoridade paterna’
Sobre a mulher do sul relata o pesquisador que,
‘quando sai à rua, está sempre sob a vigilância ostensiva do
marido, exibindo ar de tristeza, que a roupa preta acentua. Quando o esposo
está a seu lado, ela demonstra muita vivacidade, conversa com desenvoltura com
os homens que lhe dirigem a palavra, toma a iniciativa das compras; quando
longe do marido, ela fica cabisbaixa e silenciosa, evitando inclusive o olhar
de outros homens. Esta mulher passa por extraordinária metamorfose quando
substitui a rua pelo lar. Nos domínios domésticos, nada resta da mulher
submissa e inibida. Em seu lugar, surge a "rainha da casa" – para
usar a expressão predileta com a qual os italianos costumam designar a mulher
em seu imperialismo doméstico. Exuberante nos gestos e no falar, quase sempre
risonha, nega em tudo aquela tristeza pública. Vai porém, rapidamente, de um
tema alegre para um assunto triste, e acompanhando a transição do tema, todo o
seu semblante e seus gestos e sua voz se alteram, compondo a máscara de uma
representação cênica. Loquaz, desinibida e desenvolta em casa quer na ausência
ou na presença do marido, hospitaleira sem formalismo, ela toma sempre a
iniciativa da conversa, colocando marido e filhos em segundo plano. Estes,
quando falam, estão sempre reticentes, à espera da aprovação da "rainha",
que se faz entender pelo simples olha’ ”.(Fonte: Ethel V. Kosminsky Universidade Estadual Paulista, campus de Marília - in www.scielo.com.br )
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
História (223) - Imigração italiana após a Segunda Guerra Mundial: a colônia de Pedrinhas( 2)
"Entre 1949 e 1950, o Economic
Cooperation Administration (ECA), "pelo seu programa de assistência
técnica ao exterior, consignou a importância de 1.300.000 dólares
para auxiliar a iniciativa italiana ligada ao fomento da emigração
agrícola". Órgãos do governo italiano delegaram ao Instituto Nazionale di
Credito per il Lavoro Italiano all'Estero (ICLE) a criação de um
programa para a utilização dessa quantia. Esse programa contou com o
apoio do Instituto Agronômico per A.I. (Instituto Agronômico para a
África Italiana). O fracasso da África Italiana, da época de
Mussolini, renovou o interesse pela América do Sul, que datava do
período da chamada migração em massa (1880-1930, aproximadamente). A
primeira missão de reconhecimento chegou ao Brasil em 1949, e a segunda,
em 1950, incluiu, além do Brasil, outros países da América do
Sul. Após levantamentos realizados no estado de São Paulo, decidiu-se
pela instalação de uma colônia na região da Alta Sorocabana.
A escolha recaiu sobre
uma gleba de terras –Pedrinhas – de 3.565 ha., localizada na bacia do Rio Paranapanema,
na direção sudoeste do planalto paulista. Desbravada na altura de 1922, esta
área, constituída em 1950 de catorze propriedades, entre fazendas e sítios,
[...] [situava-se] a apenas 50 quilômetros da cidade de Assis.
A compra de terras e a
execução do plano de colonização foram realizadas pela Companhia Brasileira de
Colonização e Imigração Italiana, empresa constituída no Rio de Janeiro, como
sociedade anônima, em 28 de setembro de 1950, com o fim de 'promover a
imigração e colonização italiana no Brasil'. [...] esta instituição surgia como
produto também da Segunda Guerra Mundial, compondo assim o elenco de órgãos
encarregados de revitalização da emigração italiana de pós-guerra. [...] Surge,
assim, a Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana, com capital
formado pelos bens italianos liberadose pela subscrição do
governo italiano, auxiliado pelo governo americano. A ocupação da gleba,
compreendendo os trabalhos de demarcação dos lotes e as atividades de
construção, levou três anos. Em 1963, data do início da pesquisa e 10 anos
depois da chegada das famílias, Borges Pereira encontrou o seguinte quadro:
[...] uma área rural dividida em 180 lotes, variando de 20 a 25 ha., a qual circunda totalmente a área urbana, com uma faixa de intermeio – suburbana – onde se localizam o cemitério e os campos de aviação e de futebol. Na parte urbana, com ruas e avenidas que se cruzam em traçados precisos, localiza-se a igreja, o hospital de emergência, os escritórios administrativos do núcleo, o clube, a hospedaria, o banco, as escolas pré-primária, primária e secundária. Completando esta paisagem urbana, e atendendo ao desenvolvimento do núcleo, há, ao lado de casas residenciais, um comércio varejista, que aos poucos se diversifica, e uma indústria icipiente de transformação – máquinas de beneficiar arroz, moinhos de trigo e de fubá, laticínio, etc. É neste cenário rural-urbano que se distribui a população envolvida no processo de aculturação, que está sendo objeto desta análise.
Para
completar o quadro da colônia, o autor destaca a sua localização
próxima da cidade de Assis, um centro urbano dotado de recursos –
escolas e faculdade, assistência médico-hospitalar, etc. –, o que
"garantiu de antemão à Companhia Colonizadora redução do capital
investido no núcleo". Esse fato levou a comunidade a entrar
forçosamente em contato com a sociedade inclusiva, tornando-a uma
comunidade "aberta" e criando assim condições que "atuam
favoravelmente no processo de aculturação daquele grupo étnico".
Além
da proximidade de Assis, a escolha da localização do núcleo foi
também motivada pela facilidade de obtenção de mão-de-obra: os
trabalhadores temporários, migrantes dos estados setentrionais, de
"certas áreas matogrossenses, fronteiriças com o Paraguai, o que
explica a presença esporádica de paraguaios, e até de índios Terena".
Esses trabalhadores são aproveitados pelos imigrantes italianos para a colheita do algodão. (fonte:Ethel V. Kosminsky Universidade Estadual Paulista, campus de Marília - in www.scielo.com.br )
História (222) - Imigração italiana após a Segunda Guerra Mundial: a colônia de Pedrinhas( 1)
"Não há muito tempo, trens
lotados partiam de diversas cidades da Itália com destino a vários países do
velho continente e navios zarpavam em direção à América, eram os imigrantes
italianos em busca de outra pátria que os acolhesse para viver e criar seus filhos
em harmonia e em paz, longe da guerra e da destruição que se alastrou pelas
montanhas e vales da Pátria mãe.
Com as notícias vindas de outras partes do mundo, acendeu na mente daquele povo a esperança de encontrar novamente a alegria de viver e ter um lar feliz.
Para trás, ficaram as lembranças da guerra, da destruição e durante a longa viagem se perguntavam ansiosos: “Mérica, Mérica, Mérica, cossa sara lasta Mérica?”
De um lado, tinham a certeza do sofrimento que lá ficou, mas de outro a incerteza de como seria essa América.
Na verdade, a imigração italiana se iniciou em 1860 com grandes grupos tomando direção de alguns países da Europa e os demais, da América e da Austrália, chegando a 24.000.000 no início do século passado; para o Brasil, a partir de 1875 imigraram 1.500.000 em grande parte para substituir a mão-de-obra escrava, após a II Guerra, apenas 22.000.
O Governo brasileiro tinha
interesse na imigração para colonizar o interior, razão pela qual promulgou em
18 de setembro de 1945 o Decreto-Lei nº 7.967, que a reconhecia como de
utilidade pública e regulamentava a sua seleção no exterior.
Para resolver as questões pendentes do Tratado de Paz de 10/02/47, que desvinculava todos os bens italianos bloqueados durante a II Guerra, foi firmado um acordo entre Brasil e Itália em 08/10/1947, onde, entre outras coisas previa-se a criação da Companhia Brasileira de Colonização e Imigração Italiana, que se concretizou em 28/09/1950, e, através dela, os primeiros recursos foram liberados em 08/10/1950.
A partir de 1949 e 1950, o Governo Italiano encaminhou a Missão Técnica Agrícola para realizar estudos de reconhecimento territorial e de fertilidade em áreas rurais de diversos países da América, inclusive do Brasil, onde foram escolhidas Joinvile em Santa Catarina, Santa Tereza em Goiás, e Pedrinhas Paulista em São Paulo, sendo esta, a única que prosperou, graças a fértil terra do Vale do Paranapanema, aliada a garra de seu povo, e amparo constante de Dom Ernesto Montagner, pároco, diretor nato, presidente interino por algumas vezes e interlocutor entre colonos e Companhia.
A missão da Companhia
Brasileira de Colonização e Imigração Italiana era a de fixação e sustentação
do colono italiano em solo brasileiro e de fazer cumprir o acordo firmado entre
os dois países em 08/10/47.
A Companhia planejou a colonização em duas etapas, a primeira a implantação da infra-estrutura, idealizada pelos técnicos, engenheiros, com a colaboração dos oficiais da construção civil, que partiram do Posto de Gênova, em 31/08/51, com destino ao Brasil, com a tarefa de construir casas, pontes, estradas e dotar o pequeno núcleo de infra-estrutura capaz de receber os primeiros imigrantes que iriam trabalhar a terra, que chegaram e seguida, trazendo quase nada, além da roupa do corpo, mas com vontade de vencer e conquistar iniciaram os trabalhos de lavrar a terra que a tinha como prometida e abençoada e aos poucos foram transformando tudo ao seu redor. Aonde apenas os pássaros cantavam, foram aparecendo e se misturando aos encantos da natureza, o murmúrio e a alegria da criançada recém-chegada.
No meio da mata e do serrado, muitas trilhas foram aparecendo, várias estradas abertas, e os tratores não paravam, os operários encarregados das construções das primeiras casas não vacilavam e dia após dia, tudo foi se transformando e aparecendo escolas, cinema, clube, ambulatório, jardim da infância, postos de gasolina, hotel, restaurante, comércios diversos, cooperativa, fazendo inveja a muitas cidades do mesmo porte, e quando deram conta o milagre estava feito, e um oásis de verde e de vida se emergiu entre eles, era Pedrinhas Paulista que acabava de nascer.
O nome da colônia surgiu do
Riacho Pedrinhas, de água transparente, que serpenteava suavemente entre grande
quantidade de pequenas pedras ao fundo.
A fundação da colônia foi marcada com grande festa que se realizou em 21 de setembro de 1952, quando se deu o lançamento da pedra fundamental da Igreja Matriz, na presença do Primeiro Presidente da Companhia, Comendador Arturo Apollinari, do Professor Antonio de Benedictis, superintendente, do Professor Vittorio Ronchi, presidente do ICLE (Instituto Nazionale de Credito Per Il Lavoro Italiano Al’Estero) de Roma, do Monsenhor Ernesto Montagner, vigário geral, diretor nato da Companhia, e da Sra. Celeste Sbais Guerin, nascida na Itália em 1883, pessoa mais idosa da colônia na época, que, convidada, teve a honra de participar do ato.
A fundação da colônia foi marcada com grande festa que se realizou em 21 de setembro de 1952, quando se deu o lançamento da pedra fundamental da Igreja Matriz, na presença do Primeiro Presidente da Companhia, Comendador Arturo Apollinari, do Professor Antonio de Benedictis, superintendente, do Professor Vittorio Ronchi, presidente do ICLE (Instituto Nazionale de Credito Per Il Lavoro Italiano Al’Estero) de Roma, do Monsenhor Ernesto Montagner, vigário geral, diretor nato da Companhia, e da Sra. Celeste Sbais Guerin, nascida na Itália em 1883, pessoa mais idosa da colônia na época, que, convidada, teve a honra de participar do ato.
Assim nasceu e se implantou a Colônia de Pedrinhas, que, em 13 de novembro de
1952, recebeu o maior grupo de imigrante italiano composto de 28 famílias.
Logo de início a Companhia
Brasileira de Colonização e Imigração Italiana organizou a Cooperativa Mista
Agrícola de Pedrinhas, inaugurada em 06/11/1954, hoje denominada
CAP - Cooperativa
Agropecuária de Pedrinhas Paulista , em plena atividade,
conhecida e reconhecida regionalmente.
Pedrinhas Paulista viveu como
núcleo colonial até 14/05/1980, quando foi elevada a Distrito e alcançou a sua
tão almejada emancipação político-administrativa em 30/12/1991. Dentre as
várias regiões que foram colonizadas pelos italianos na América, Pedrinhas teve
a felicidade de ser a única que obteve sucesso naquela época". (Fonte: Prefeitura Pedrinhas)
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