sábado, 6 de fevereiro de 2010

Arquitetura - : perfil de uma obra de porte: o Cotonifício Rodolfo Crespi

Na virada do século XIX para o XX, São Paulo contava no bairro da Mooca com um edifício industrial de grande porte: o Cotonifício Rodolfo Crespi. Um relato interessante dessa construção está disponível na Internet, num trabalho de Marcos José Carrilho. A seguir trechos desse documento que descreve detalhes de como era o edifício, originalmente.

“Dados da história da empresa são bastante escassos. Porém, o desenvolvimento da indústria pode ser avaliado pelo sucessivo aumento de capitais no transcurso dos primeiros anos de suas atividades. Em 1909 contava com um capital de cerca de Rs 3.000:000$000, tendo sido ampliado para Rs. 4.000.000$000 em 1911 e Rs. 6.000.000$000 no ano seguinte. (Bertarelli, 1922: 227).

O estabelecimento era atendido à época por rede elétrica, consumindo 3.000 HP de energia, complementados pelo consumo de 200 toneladas mensais de óleo em suas caldeiras, para atender as suas seções de tinturaria, preparação e acabamento” “Da mesma forma, não é fácil traçar a evolução física do Cotonifício Crespi com base nas informações disponíveis. A documentação existente no Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo não é muito expressiva.

Há, porém, requerimentos à municipalidade desde o ano de 1904, relativas a sucessivos pedidos de construção, reformas e ampliações de suas instalações” “O edifício principal é uma construção de excepcional interesse quer sob o aspecto industrial, quer sob o aspecto arquitetônico. Destaca-se como unidade fabril peculiar, com desenvolvimento em altura, constituindo um raro exemplar deste tipo de construção no Brasil. Corresponde, além disso, à tipologia das warehouses inglesas ou norte-americanas, que podem ser encontradas em várias de suas cidades industriais.

Marcos CarilhoA estrutura do edifício foi inteiramente importada do Reino Unido, constituída de perfis usinados de aço procedentes tanto da Escócia, como da Inglaterra, como poder ser verificado pela marcas dos fabricantes – Glengarnock Steel – impressas nas peças. Assim, colunas, vigas principais e perfis de sustentação das lajes são todos pré-fabricados segundo um projeto geral, compondo um conjunto de peças a serem montadas no local”.

“Sob o aspecto arquitetônico trata-se de uma edificação moderna, que antecipa em vários anos alguns dos preceitos, que viriam a se tornar correntes, apenas a partir dos anos 30. Ali podemos constatar, além dos procedimentos industriais de construção acima referidos, o princípio da estrutura independente, isto é, os elementos de sustentação do edifício não se confundem com os demais componentes da construção e as paredes não atuam apenas como elementos de vedação.

Tal condição estrutural permite a adoção da chamada planta livre, proporcionando ampla flexibilidade na organização dos pavimentos. As fachadas, embora aparentem tratamento formal convencional, são dotadas de amplas aberturas, prenúncio do que mais tarde viria a ser adotado, as vedações contínuas de vidro. Finalmente, destaca-se o uso da cobertura plana com laje impermeabilizada. Em outras palavras, esta edificação, no anonimato de uma construção utilitária, antecipa de vários anos alguns dos princípios preconizados pela Arquitetura Moderna”

Nenhum comentário:

Postar um comentário